Abrir pacotes de batatas fritas cheios de ar e deparar-se com mais ar do que produto é uma experiência comum – e, muitas vezes, frustrante. Para os fabricantes, esta prática é defendida como essencial para a preservação da qualidade do snack. No entanto, há quem alegue que os sacos “cheios de ar” são apenas uma estratégia para enganar os consumidores, criando a ilusão de uma maior quantidade de produto.
O que dizem os fabricantes?
Segundo as empresas do setor, o espaço vazio nos pacotes não é ar comum, mas sim azoto, um gás não reativo e inodoro que desempenha um papel crucial na preservação das batatas fritas. Ao contrário do oxigénio, o azoto evita a oxidação dos óleos e amidos presentes no snack, prolongando a frescura e garantindo que as batatas se mantêm estaladiças durante mais tempo. Como explica o portal IFLScience, este gás também ajuda a proteger o produto durante o transporte, especialmente em viagens a grande altitude, onde as variações de pressão atmosférica podem ser significativas.
Os fabricantes defendem ainda que o espaço extra nas embalagens atua como uma almofada protetora, minimizando o risco de que as batatas se partam ou esmigalhem.
As críticas: “slack-filling” e questões ambientais
Apesar destas justificações, muitos consumidores e grupos de defesa dos direitos do consumidor questionam se a prática é realmente necessária. O termo “slack-filling” refere-se ao espaço não utilizado no interior das embalagens, e alguns críticos acusam as marcas de utilizarem esta técnica para criar uma perceção enganadora da quantidade real de produto. Para os consumidores, o tamanho do pacote não corresponde à realidade do conteúdo.
Além disso, a prática levanta preocupações ambientais. Como sublinha o fotógrafo e artista de alimentos Henry Hargreaves, as embalagens demasiado grandes têm uma pegada de carbono desnecessária. Segundo as suas descobertas, 86 em cada 100 camiões que transportam snacks como os Doritos poderiam ser retirados da estrada se os fabricantes otimizassem as dimensões das embalagens. Este desperdício, argumenta, afeta não só o consumidor, mas também o ambiente.
Testes práticos que desafiam as justificações
Hargreaves conduziu uma experiência para testar as alegações dos fabricantes e chegou a conclusões surpreendentes. Ao comparar pacotes cheios de ar com embalagens seladas a vácuo, descobriu que os primeiros tinham maior probabilidade de conter batatas partidas. “Parti do princípio de que o ar iria impedir que se partissem, mas aconteceu o contrário”, revelou em entrevista à BBC Future.
Os resultados sugerem que o azoto, embora útil na preservação do produto, pode não ser tão eficaz na proteção física durante o transporte como os fabricantes afirmam.
O futuro das embalagens de snacks
Embora as embalagens cheias de azoto cumpram funções práticas, as críticas ao desperdício e ao impacto ambiental estão a ganhar força. À medida que a sustentabilidade se torna uma prioridade crescente para os consumidores, muitos questionam se a indústria dos snacks deveria adotar estratégias de empacotamento mais eficientes.
Seja como for, o debate continua. Enquanto os fabricantes defendem as suas práticas como essenciais para a qualidade do produto, as evidências sugerem que há espaço para melhorias – tanto na transparência com os consumidores quanto na redução do impacto ambiental. Afinal, para muitos, menos pacotes cheios de ar e mais batatas fritas parece ser uma solução óbvia.
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