No Luxemburgo, o impacto da diferença salarial entre homens e mulheres traduz-se este ano num marco simbólico: na última segunda-feira, 17 de novembro, as trabalhadoras entraram no período do ano que representa dias de trabalho sem remuneração. A data resulta do cálculo anual da desigualdade salarial e marca o ponto em que, simbolicamente, o rendimento das mulheres deixa de acompanhar o dos homens.
De acordo com a central sindical OGBL, citada pelo portal de notícias Contacto, a diferença salarial no país é atualmente de 13,9%. Convertida em dias, esta disparidade significa que os últimos 45 dias do ano deixam de ser pagos às mulheres, uma forma de tornar visível a distância que permanece entre ambos os géneros no mercado de trabalho.
Trabalho invisível e carga não remunerada
A desigualdade, contudo, não se limita ao salário. Segundo a mesma fonte, há um conjunto de tarefas diárias que não entram em nenhuma folha de remuneração: responsabilidades domésticas, acompanhamento de familiares dependentes e gestão mental da rotina. Dados europeus citados a partir da OCDE mostram que as mulheres dedicam, em média, o dobro do tempo ao trabalho não remunerado quando comparadas com os homens.
Escreve o mesmo portal que esta realidade contribui para carreiras mais fragmentadas e para uma maior presença feminina em funções que não são reconhecidas no âmbito profissional. Além disso, o recurso ao tempo parcial surge muitas vezes como consequência destas responsabilidades, e não como uma escolha autónoma.
Reformas recentes agravam o fosso existente
A central sindical alerta ainda para o impacto de alterações legislativas em curso. Acrescenta a publicação que reformas, como a das pensões, mudanças no regime do tempo de trabalho e ajustamentos nos horários do comércio podem aprofundar o desequilíbrio já existente. Segundo a OGBL, estas propostas ignoram o trabalho que sustenta o quotidiano e que, por não ser formalizado, raramente recebe valorização.
Os números ilustram essa tendência. Refere a mesma fonte que 36% das mulheres trabalham a tempo parcial, contrastando com menos de 8% dos homens. Esta diferença repercute-se anos depois, resultando em pensões mais baixas, menor segurança financeira e maior dependência económica. Atualmente, a diferença média entre pensões masculinas e femininas ronda os 40%.
Impacto na carreira e recolha de testemunhos
A OGBL acrescenta que grande parte das mulheres que trabalham menos horas não o fazem por opção. Explica o Contacto que muitas reduzem horários para assegurar cuidados familiares, o que representa menos contribuições, carreiras encurtadas e rendimentos mais baixos ao longo de toda a vida ativa.
A central sindical recorre à expressão “por detrás de um grande homem há sempre uma grande mulher” para ilustrar que, apesar da sua antiguidade, a frase continua a traduzir uma dinâmica social onde o peso da organização doméstica recai de forma significativa sobre as mulheres, condicionando escolhas profissionais e pessoais.
Neste contexto, a OGBL Equality lançou na última segunda-feira um inquérito dedicado à carga mental e ao trabalho desempenhado fora do sistema remunerado. Conforme a mesma fonte, cada resposta recolhida será utilizada para sustentar propostas de alteração às leis e reformas previstas, procurando reduzir o impacto acumulado desta desigualdade.
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