Chegar a Llivia exige passar obrigatoriamente por território francês, mesmo quando o ponto de partida é Espanha. A povoação está situada a mais de três quilómetros da fronteira, num enclave pouco visível à primeira vista, mas que espelha séculos de negociações tensas e acordos que deixaram marcas nos Pirenéus. Se ainda existissem postos fronteiriços rigorosos entre os dois países, este trajeto seria bem mais complexo.
De acordo com o portal NiT, a origem deste cenário remonta ao século XVII, quando França e Espanha disputavam diversas áreas do principado da Catalunha. A região do Vale da Cerdanha, fértil e estratégica, tornou-se um dos principais pontos de conflito. Segundo a mesma fonte, o desfecho político envolveu o casamento de Luís XIV com uma princesa espanhola, abrindo caminho ao Tratado dos Pirenéus, assinado em 1659.
Limites de referência
Escreve a publicação que, apesar do acordo, persistiam zonas sem limites naturais que servissem de referência. O vale manteve-se no centro da discussão até que França recebeu 33 povoações. A exceção surgiu quando Espanha alegou que Llivia não devia ser contabilizada como vila, mas como cidade. Os franceses, contrariados, exigiram compensações e obtiveram o Vale de Carol, enquanto Llivia permaneceu espanhola, formando o enclave que existe até hoje.
Um corredor garantido por lei, mas nem sempre pacífico
O acordo final só foi fechado em 1866, garantindo a livre circulação a quem viajasse de Espanha até ao enclave. A solução funcionou durante décadas, até que, nos anos 70, as autoridades francesas construíram duas estradas que atravessavam o corredor.
Explica o site que os veículos que circulavam nessas vias receberam prioridade, o que levou os habitantes de Llivia a protestarem, chegando mesmo a destruir sinais de STOP. O impasse só terminou anos mais tarde, quando foram construídas pontes e passagens subterrâneas.
Note que a comunidade, com cerca de 1500 habitantes, ganhou destaque em 2017 ao acender uma bandeira catalã feita de 81.000 velas, num gesto ligado ao referendo de 1 de outubro e que foi reconhecido pelo Guinness World Records.
História e património
Segundo a NiT, Llivia acolhe a primeira farmácia da Europa, inaugurada em 1415 e atualmente convertida em museu. A igreja local e a torre de Bernat de So, do século XV, reforçam o valor histórico da localidade, situada num dos vales mais amplos do continente.
Acrescenta a publicação que a geografia invulgar também influencia o quotidiano. Em França, o custo dos serviços dentários é inferior, levando à criação de várias clínicas junto ao enclave. Já no interior de Llivia prosperam cabeleireiros e bares frequentados por visitantes franceses, numa dinâmica que resulta diretamente da linha de fronteira que envolve toda a povoação.
















