A frase correu a imprensa espanhola e rapidamente ganhou destaque: “Aumentam-me o salário em 2.100 euros; andávamos há anos a reivindicá-lo.” A autora é Olga Pintado, professora com 35 anos de carreira que, segundo o site Noticias Trabajo, foi uma das milhares de docentes beneficiadas pelo novo acordo salarial alcançado na comunidade de Castela e Leão.
A docente celebrou a atualização, mas deixou claro que o aumento não resolve o que considera ser um problema mais profundo: a falta de reconhecimento da profissão.
O acordo que desbloqueou um impasse de anos
De acordo com o site espanhol Noticias Trabajo, o pacto foi firmado entre a Consejería de Educación e vários sindicatos, entre eles CSIF, ANPE, Stecyl-i, UGT e CCOO. O entendimento atualiza os valores associados aos sexénios, um sistema que recompensa os anos de serviço em ciclos de seis anos. Segundo a mesma fonte, o quarto sexénio passa a garantir um acréscimo anual de 1.050 euros, enquanto o quinto, o mais alto, passa a representar um aumento de 2.100 euros por ano.
É precisamente este último que se aplica ao caso da professora, que deu testemunho ao jornal El Español e afirmou que a subida representa “uma alegria para os docentes”. A docente sublinhou que tinha optado por não aderir à carreira profissional alternativa porque, já a beneficiar do quinto sexénio, considerava que seria “ir para trás” e significaria abdicar desse complemento.
Como explica o site espanhol, muitos professores tinham ficado descontentes com o desfasamento dos valores dos sexénios face às melhorias associadas à carreira horizontal, o que levou a anos de reivindicações.
Entre o aumento salarial e a realidade das salas de aula
Apesar do alívio financeiro, Olga insiste que persistem problemas que o acordo não resolve. A professora explicou que as turmas têm vindo a tornar-se mais exigentes, com maior diversidade de perfis e mais alunos com necessidades específicas.
Em entrevista ao jornal espanhol El Español, citada por vários meios, lamentou também a carga burocrática: “Fazemos muitos papéis, programações e avaliações. Falta tempo para nos dedicarmos ao essencial.”
Vários sindicatos continuam a pedir medidas adicionais, entre elas a redução do horário letivo para docentes com mais de 55 anos. Segundo a imprensa espanhola, a justificação é simples: muitos professores demonstram sinais claros de desgaste ao fim de décadas de exercício.
Uma carreira que continua longe da valorização plena
A docente afirmou ainda que o curso de Magistério continua a ser visto como uma opção “menos prestigiada”, apesar das tentativas políticas de reforçar a autoridade dos professores. Em entrevista, disse que, após tantos anos, ainda sente que a profissão permanece desvalorizada e marcada por preconceitos antigos, resumindo que “o magistério, a educação, continua a parecer de segunda”.
E em Portugal?
Em Portugal, temas semelhantes têm sido discutidos. A revisão da estrutura da carreira docente, o descongelamento integral do tempo de serviço e a redução da carga burocrática continuam a marcar a agenda sindical.
Várias organizações defendem que o sistema português padece dos mesmos problemas identificados no caso espanhol: desgaste acumulado, falta de progressão equilibrada e dificuldades em atrair jovens para a profissão. A discussão promete continuar, sobretudo à medida que aumentam as aposentações e se agrava a escassez de professores em algumas regiões do país.
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