Foi reeleito para um novo mandato de quatro anos como presidente da Associação de Futebol do Algarve. Na Liga profissional, mantém o lugar de coordenador de delegados aos jogos, vai para 27 anos. Quanto a uma eventual candidatura à presidência da Liga diz que não está para aí virado e o lugar está ocupado e bem entregue: “A minha Liga são as minhas empresas e o Algarve”.
P – O que é que levou um empresário tão ocupado, com a diversidade de empresas de um grupo ligado ao turismo e à imobiliária, a enveredar pelo associativismo desportivo?
R – O meu grupo de empresas é grande não apenas nos resultados, mas igualmente na riqueza e qualidade dos recursos humanos. O grupo é constituído por 400 colaboradores e 22 diretores, grande parte deles na empresa há dezenas de anos. Eles dão-me, por isso, a autonomia e a confiança para este tipo de coisas.
Além disso, a nível desportivo, pratiquei futebol ainda jovem no clube da minha aldeia, Salir, e depois entrei como delegado na Liga Portuguesa de Futebol, vai para 27 anos, e há cerca de 20 anos na Associação de Futebol do Algarve (AFA), como presidente da Assembleia Geral e nos últimos quatro anos como presidente da direção, cargo para que fui reeleito para mais um mandato no passado dia 23 de junho.
P – E assume essas funções com o mesmo empenho que tem enquanto empresário? Onde arranja tempo para conciliar as duas tarefas?
R – Eu sigo o lema que diz “se queres alguém que faça, procura alguém que tem muito para fazer”. Eu sou assim e tenho muito gosto naquilo que faço, impondo a mim próprio um espírito de crescimento constante. E tem sido fácil porque também na Associação tenho tido a sorte de ter à minha volta gente e equipas que lutam e gostam daquilo que fazem.
E isto reflete-se nos resultados. Com a celebração dos 100 anos de existência da AFA, graças ao empenho e dedicação de todos, funcionários e órgãos sociais, clubes e atletas, é reconfortante sabermos que o Algarve em 2022 bateu o record de sempre em atletas inscritos, sendo 90 por cento da formação. Os restante dez por cento são do futebol sénior.
E é bom que se diga que essa oferta nos escalões da formação provém dos clubes que dão de si sem pensarem em si. São pessoas que no fundo deixam o seu dia de trabalho para se dedicarem a esta causa, verdadeiro serviço público que eles próprios dinamizam. Sem eles e sem os municípios – os seus presidentes, vereadores e diretores-, que têm tido um trabalho notável na criação de infraestruturas desportivas, nada disso seria possível.
“É bom verificar que o Algarve – agora com o regresso do Farense -, é a quarta região do país com mais clubes na primeira divisão, depois do Minho, Porto e Lisboa. O que faz o sucesso dos clubes que militam no escalão principal é a capacidade dos seus dirigentes de atrair investidores e empresas, locais ou internacionais, para um projeto ganhador”
P – No futebol profissional, o Algarve tem três clubes históricos entre os maiores – Farense, Portimonense e Olhanense – mas nenhum deles se conseguiu afirmar de uma forma definitiva na primeira liga do futebol português. O Sporting Farense depois de ter batido no fundo, voltou este ano ao escalão principal, o Portimonense tem sido, na última década o mais consistente e o Olhanense desceu este ano ao futebol amador. O que pergunto é o seguinte: que razões podem explicar a falta de um clube no Algarve com a força e capacidade de se afirmar definitivamente entre os grandes, e de forma continuada no panorama do futebol português?
R – A razão é a falta de projetos empresariais consistentes e sustentáveis. Os clubes em Portugal, de um modo geral, ainda funcionam com base em projetos pessoais e o tempo dos mecenas acabou. Falou desses três clubes, mas podia falar do Louletano, do Imortal e outros mais. Fala-se muito que o Algarve não tem escala populacional para suportar um projeto dessa dimensão de que falou. Mas é bom verificar que o Algarve – agora com o regresso do Farense, é a quarta região do país com mais clubes na primeira divisão, depois do Minho, Porto e Lisboa. O que faz o sucesso dos clubes que militam no escalão principal é a capacidade dos seus dirigentes de atrair investidores e empresas, locais ou internacionais, para um projeto ganhador.
P – Está a dizer que os clubes algarvios não têm essa capacidade atrativa, junto, por exemplo, do sector turístico?
R – Não. Nós temos dois clubes na I Liga. O Portimonense há vários anos e o Farense tem um líder, João Rodrigues, que tem feito um trabalho notável, dedicado ao clube com empenho em fazê-lo crescer. Tal como o Portimonense, quer no clube, quer na SAD. Ambos com capacidade de liderança e visão empresarial do presidente do clube e da respetiva sociedade anónima desportiva.
P – Acha, portanto, que a solução poderia ser a captação de investidores estrangeiros para as SAD?
R – Não necessariamente, mas no caso do Portimonense, é.
P – O Farense e o Olhanense poderiam seguir esse modelo?
R – No que respeita ao Farense, já tem o seu investidor. É como disse, o empresário João Rodrigues que assumiu o clube e tem na SAD o seu investidor principal, conseguindo essa simbiose entre o projeto de investimento e o clube, que aposta na formação e mobilização dos sócios e adeptos.
P – Está, portanto, otimista quanto ao futuro?
R – Estou, porque reconheço o trabalho dos clubes que está a ser feito na formação. Esse é o caminho do futuro, integrando os jovens nos escalões profissionais com recurso, naturalmente, a outras soluções com profissionais mais experientes.
P – Como vê o caso do demitido Presidente da Assembleia Geral da Liga alegadamente envolvido no tráfico de jogadores?
R – Não conheço o processo em pormenor, apenas o que tem vindo a público. Mas o que lhe posso dizer é que sou profundamente contra e não pactuante com tudo o que sejam más práticas sociais e morais, quer elas venham do plano desportivo, quer de qualquer outro. O respeito pela dignidade do ser humano e os seus direitos cívicos têm de ser respeitados.
P – O atual presidente da Liga, Pedro Proença, terá um limite de mandatos para cumprir. Pergunto se está na sua ideia em candidatar-se um dia a esse lugar?
R – Não. A minha Liga são as minhas empresas e é o Algarve. No futuro mantenho-me onde estou há 27 anos como delegado à Liga, e presidente da Associação de Futebol do Algarve, em início de um segundo mandato.