No último artigo abordámos o mar como fonte de inspiração para a produção artística ao longo dos tempos. Desde imagens relaxantes que aproveitam a beleza do mar calmo ao pôr do sol, até imagens de ondas do mar que transmitem energia e vitalidade, o mar tem sido dos temas mais inspiradores da produção artística.
Mais recentemente, o mar tem sido abordado numa perspetiva menos positiva, pois têm realizado obras a partir do lixo encontrado no mar ou do lixo que pode ser encontrado nas praias, nomeadamente de plástico, trazido pelo vento e pelas correntes.
As expressões artísticas têm acompanhado as preocupações ambientais que predominam na atualidade, pelo que muitos dos trabalhos artísticos atualmente feitos a partir do mar não dão tanta ênfase à beleza do mar, mas mais às questões ligadas à poluição do mar, procurando consciencializar e responsabilizar a população pela limpeza do mar e das praias.
Esta é uma mensagem importante sobretudo no Verão, em que muitas pessoas procuram locais próximos do mar para refrescar e relaxar. Mas deverão faze-lo observando os aspetos ligados à limpeza das praias e à reciclagem.
Mas o mar, para além de inspirar as artes visuais, pode também servir de enquadramento para as obras artísticas.
Nesse âmbito, gostaríamos de destacar uma iniciativa interessante do Município de Loulé, no sentido de aproximação da arte junto das pessoas, através da exposição intitulada “Linha do Horizonte” no Calçadão de Quarteira. Esta exposição inaugurada no passado dia 19 de julho integra três obras escultóricas expostas sobre a Praia de Quarteira. Estas obras têm como fonte de inspiração o mar e são valorizadas por terem como fundo o mar junto à Praia de Quarteira.
Este é um projeto da Câmara Municipal de Loulé para valorização de artistas visuais que teve início em 2021, com a curadoria de Miguel Cheta, e que tem agora continuidade com esta exposição a céu aberto, tendo o mar como pano de fundo.
Neste âmbito, os artistas algarvios Henrique Silva, Élsio Menau e Gustavo de Jesus inauguraram no dia 19 de julho, as três esculturas que dão vida ao Calçadão de Quarteira.
Sendo todos algarvios, Élsio Menau e Gustavo de Jesus têm também a particularidade de terem sido estudantes de artes visuais na Universidade do Algarve.
Com a escultura em pedra “Horizonte Salgado”, o artista Henrique Silva, natural de Querença, destaca o sal das praias da Ria Formosa, pois apresenta-nos uma espécie de salpico gigante de água do mar, em que a pedra colocada em cima parece uma pedra de sal.
Por seu turno, o artista Élsio Menau, natural de Quarteira, apresenta-nos a escultura “Horizonte de Betão”, que representa uma critica social à construção desenfreada que aconteceu em Quarteira nos anos 60 e 70 do século XX, com vários prédios junto à praia. Segundo o artista, nesta obra abrem-se as janelas e só vemos betão.
Por último, o artista tavirense Gustavo de Jesus expõe a obra “Observatório de Horizontes e Lonjuras”, pretendendo criar uma dialética entre uma Quarteira completamente densa no Verão, com uma população anónima que se quer divertir e que não tem tempo para observar nada, e o horizonte que permite desligar e relaxar, com a beleza do céu e do mar. É uma peça para ser apreciada também por permitir essa observação do horizonte pelas pessoas que queiram espreitar por dentro da peça escultórica.
Para quem ainda não foi, fica o convite para dar um mergulho na Praia de Quarteira ou fazer uma caminhada no seu enorme Calçadão, aproveitando para apreciar estas três esculturas, procurando colocar-se de forma a ter o mar como enquadramento.
* Professor Catedrático da Universidade do Algarve;
Pós-doutorado em Artes Visuais;
http://saul2017.wixsite.com/artes