O mundo em que vivemos é cada vez mais confrontado por problemas muito graves a diversos níveis, desde a saúde pública e ambiental, à estabilidade social e à situação financeira. Em particular, depois da recessão económica tivemos a pandemia da COVID-19, seguindo-se a guerra na Ucrânia, que infelizmente continua com contornos cada vez mais preocupantes. Como “pano de fundo” permanecem e agravam-se os problemas ambientais e a crise climática.
Estes desafios políticos, económicos, sociais e ambientais requerem rápidas respostas de quem desempenha funções em cargos de decisão institucional e política, mas também de cada um de nós, dentro do nosso espaço de responsabilidade.
Muitas vezes a arte é apontada como um instrumento que pode contribuir para chamar a atenção dos problemas existentes e para ajudar a refletir e encontrar soluções.
Desde há muito tempo que a arte tem servido como instrumento de crítica social e política, envolvendo-se os artistas frequentemente em movimentos sociais, expressando a grande relação das artes com o ativismo político e social.
Em artigos anteriores, fizemos referência aos trabalhos de alguns artistas, nomeadamente os de Banksy que, através de graffitis, que podemos encontrar em ruas, pontes e muros de diversas cidades do mundo, tem procurado criticar os conceitos de capitalismo, autoridade e poder.
A arte é uma forma de comunicação, permitindo sintetizar os sentimentos sociais já existentes em relação a certas questões psicossociais polémicas, complexas e atuais, podendo ajudar a promover a reflexão e o debate sobre as mesmas.
Através do poder da imagem, as artes visuais podem ajudar a parar no tempo e a refletir, aprendendo com o passado no presente!
Em particular, as questões ambientais estão cada vez mais na ordem do dia, fazendo parte do discurso político e das preocupações das pessoas em geral. As expressões artísticas têm acompanhado estas preocupações, procurando alertar e contribuir para a tomada de consciência das pessoas. Em artigos anteriores alertámos para o problema da poluição do Oceano e também para a importância da descarbonização.
Desta vez pretendemos chamar a atenção especificamente para o problema da seca e da falta de água, que é particularmente sentido na região do Algarve e no período do verão.
Neste âmbito, destacamos a exposição “Somos Água” que visitámos em Madrid, na Fundação Canal, em abril passado. Esta exposição pretende chamar a atenção para a importância da água para a vida na terra e inspirar a transformação necessária para a sua conservação e gestão sustentável. A mostra ocupa 2500 m2 e encontra-se dividida em 12 áreas temáticas, que percorrem todos os aspetos relacionados com o ciclo da água e temas mais ligados ao nosso quotidiano, como o abastecimento de água para a cidade, o seu consumo nos lares e na indústria e o conceito de pegada hídrica aplicado às atividades do dia a dia. Uma exposição muito visual, em que o público é levado a percorrer os meandros de um rio, repleto de imagens, elementos audiovisuais impactantes, sons de cascatas, chuva e rumor de regatos, com uma grande componente didática, pensada para todos os públicos. O percurso faz-se através de instalações audiovisuais de grandes dimensões, algumas com 6 metros de altura e mais de 30 metros de comprimento, que incluem o túnel de LED mais comprido da Europa.
Já 20 anos antes, em 2003, estas questões relacionadas com a importância da água eram destacadas no projeto artístico “The Weather Project”, de Olafur Eliasson, orientado para a sustentabilidade, a natureza e a forma como nos relacionamos com ela. Este projeto foi realizado na Turbine Hall da Tate Modern, em Londres, tendo sido visto e sentido por mais de dois milhões de pessoas. Desde então, no seu estúdio em Berlin, tem trabalhado com uma equipa multidisciplinar de mais de cem pessoas, incluindo artesãos, arquitetos, designers, arquivistas, historiadores e cozinheiros, no sentido de investigar, produzir e instalar projetos artísticos, quase sempre de grandes dimensões, mas também investigar e experimentar formas de mudar o mundo.
As suas intervenções ocorrem em espaço público, como com as séries “Ice Watch”, primeiro em Copenhaga, em 2014, depois em Paris, durante a Cimeira do Clima, consistindo num conjunto de pedaços de um Gorde da Gronelândia, instalado no espaço público que foi derretendo à vista dos mais ou menos interessados transeuntes. Por seu turno, em “Serralves Driftwoods” (2020), enormes troncos de árvore que por força das correntes deram à costa na Islândia foram transformados por Olafur Eliasson em esculturas gigantes.
Olafur foi pioneiro na utilização da arte visual como instrumento para chamar a atenção para os problemas ambientais e climáticos no nosso planeta. Infelizmente, a sua mensagem continua cada vez mais atual, pois os problemas persistem, tendo até aumentado na sua gravidade.
No entanto, Olafur acredita mesmo que a arte é um motor de mudança global e que está, aos poucos, a conquistar terreno. Segundo ele, a arte pode não conseguir mudar o mundo, mas pode ajudar a criar um outro mundo.
Talvez seja demasiado ambicioso pensar que a arte pode ajudar a criar um outro mundo, mas seguramente a arte pode ajudar-nos a melhorar o mundo em que vivemos.
Conforme já referimos num artigo anterior, as novas gerações vão viver no mundo que ajudarmos a criar e, por muitas diferenças que haja entre as pessoas, as culturas e os países, o planeta terra é a Casa de todos nós, sendo fundamental ajudar a preservá-lo!
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