Até 22 de janeiro de 2023, a Cordoaria Nacional, em Lisboa, contará com uma exposição do fotógrafo Steve McCurry, um dos fotógrafos contemporâneos mais consagrados, tendo sido já distinguido com vários prémios, incluindo quatro World Press Photo, bem como ordenado Cavaleiro da Ordem das Artes e Letras pelo Governo francês.
Embora acabe por ser uma exposição retrospetiva, “ICONS” não tem um percurso definido e as 100 imagens escolhidas não estão dispostas cronologicamente, misturando-se as que foram captadas com máquinas analógicas e digitais. O destaque vai todo para as imagens, com a sala quase toda a negro e o foco nas fotografias, impressas no estúdio de Steve McCurry e expostas sem molduras. A mostra inclui ainda um ecrã, onde são mostrados vídeos sobre o trabalho do fotógrafo.
No percurso desenhado para “ICONS”, os visitantes poderão viajar pelo Afeganistão, Índia, Sudeste Asiático, África, Cuba, Estados Unidos, Brasil ou Itália, tendo sempre como ponto de partida o elemento humano. Cada uma das suas imagens retrata uma forma de interpretar o presente, com os olhos postos no futuro, num mundo complexo de experiências e emoções que ligam o espectador a diferentes realidades e formas de entender a vida.
Uma das fotografias mais reconhecidas de Steve McCurry é o retrato de uma menina afegã, Sharbat Gula, tirado no Afeganistão em 1984 e que foi capa da National Geographic no ano seguinte.
Segundo Steve McCurry, “temos de nos lembrar do passado, lembrarmo-nos do que passámos (…) Ter um registo de tudo isto é importante. Esperançosamente, em algum momento no futuro, faremos melhor. É neste, e noutros casos, que o registo é importante, para se fazer melhor no futuro”.
Assim, a imagem visual pode sintetizar questões psicossociais complexas e atuais e pode ajudar a promover a necessária reflexão sobre as mesmas, ajudando a construir um futuro melhor, a partir do passado e do presente.
Conforme já referimos num artigo anterior, a verdadeira “alma” da fotografia está em interpretar a realidade e não em copiá-la. O resultado da arte fotográfica não está na máquina ou tecnologia utilizada, mas sim no olhar do fotógrafo que, de forma subjetiva, perceciona e captura um determinado momento, tornando-o eterno.
Tendo nascido em Filadélfia (EUA), Steve McCurry já fotografou um pouco por todo o mundo, do Afeganistão à Índia, do Sudeste Asiático a África, passando por Cuba, Estados Unidos, Brasil ou Itália, mas há um local com o qual tem “uma ligação especial”: “Tenho uma ligação especial com o Tibete e a cultura tibetana, as pessoas, as paisagens, acho que é um sítio muito especial. É um sítio profundo em termos de espiritualidade, da paisagem, os Himalaias. E as pessoas são tão amigáveis, os mosteiros, a vida monástica é inspiradora. Há uma solidão em estar lá nas montanhas. É um lugar muito tranquilo”.
Quando falamos em Tibete, naturalmente lembramo-nos de Dalai Lama, Nobel da Paz em 1989, e dos seus pensamentos sobre paz e espiritualidade. Por exemplo, são suas as frases: “Apenas um pequeno pensamento positivo pela manhã pode mudar todo o seu dia”; “Só existem dois dias no ano em que não podemos fazer nada. Um se chama ontem e o outro amanhã”; “A compaixão tem pouco valor se permanece uma ideia; ela deve tornar-se nossa atitude em relação aos outros, refletida em todos os nossos pensamentos e ações”.
E estes pensamentos adquirem um significado especial neste mês de dezembro, em que celebramos o Natal, quadra associada à paz entre as pessoas, procurando despertar sentimentos mais positivos em relação aos outros e aumentar a frequência de situações de perdão, gratidão ou elogio.
A paz deveria existir sempre, sendo um estado constante, mas infelizmente não é isso que acontece, pois verificam-se muitos conflitos todos os dias, quer entre pessoas, quer entre países. Assim sendo, é necessário haver períodos que permitam pelo menos atenuar esses conflitos, sendo esbatidas as diferenças, ou o que divide, e acentuadas as semelhanças, ou o que pode aproximar.
Desejo a todos um Feliz Natal e faço votos para que 2023 seja um ano de paz, entre países, entre pessoas, com os animais, com o ambiente e, em particular, consigo próprio!
* Professor Catedrático da Universidade do Algarve;
Pós-doutorado em Artes Visuais;
http://saul2017.wixsite.com/artes