Há 780.000 a 1,2 milhão de anos (penúltimo interglacial), hominídeos primitivos, como o Homo erectus, deslocavam-se em bandos de natureza familiar, seguiam as manadas de que se alimentavam, fabricavam utensílios para caçar e pescar, usavam o fogo e abrigavam-se do tempo e de feras em cavernas. A última glaciação tornou impossível a vida acima do paralelo 40, isto é, um paralelo que passa por Aveiro, Madrid, sul de Itália, Albânia e Geórgia.
Cada um dos clãs, isolados dos outros durante os 100 mil anos do último período glacial, evoluíram independentemente, originando espécies variadas, como o Homo neanderthalensis, o Homo sapiens e mais seis ou sete espécies de humanos que ocasionalmente ocuparam os mesmos espaços. O H. sapiens, terá surgido há 200 mil anos, durante o Paleolítico Médio, em África. Encontram-se diferentes linhagens de H. sapiens primitivos perto da costa da Namíbia e de Angola, na Etiópia e em Marrocos que correspondem a evoluções independentes, determinadas pelas condições ambientais em que vivem. Há 70 mil anos as várias linhagens de H. sapiens expandem-se para fora de África. Há 50 mil anos chegam à Europa habitável e há 27 mil anos, estão em todo o mundo, incluindo o continente Americano, provavelmente através da Ásia, tendo coexistido com as diferentes espécies humanas.

Professor coordenador (aposentado).
Escola Superior de Educação e Comunicação, Universidade do Algarve
Ao longo de 8.000 anos, as indústrias líticas e cerâmicas, a economia e o padrão de assentamento, foram evoluindo, revelando menor mobilidade e maior complexidade na organização logística e social
No final do último período glacial na Península Ibérica coexistiram H. neanderthalensis e H. sapiens. Mais pequenos e entroncados (164-175 cm; 65-80 kg), que os H. sapiens, com mais reservas de gordurae narizes largos, estavam adaptados a climas frios e, provavelmente, eram de pele branca e de cabelo ruivo. Se a capacidade cerebral era maior que a dos H. Sapiens, todavia, possuíam um menor cerebelo. A cultura dos Neandertais tipicamente humana está expressa nos adereços pessoais e nas pinturas nas cavernas, como em Altamira.
O recuo glaciar no fim da última glaciação (10.000 ac.), permitiu a expansão para Norte dos ambientes de vida e, portanto, dos H. sapiens, descritos como tendo olhos, cabelos e pele escura. Uma segunda onda migratória cerca de 12 000 ac., através do Próximo Oriente, substitui a anterior variedade humana. O Homem de Cheddar (7000 – 6000 ac.) é um exemplar típico desta população. Provavelmente com intolerância à lactose, olhos claros (talvez verdes), cabelo encaracolado ou ondulado, castanho escuro ou preto, e pele escura. Todavia, em alguns locais, ambas as populações persistiram em lugares próximos, como é o caso das cavernas de Gough e de Kendrick na Grã-Bretanha e, na Península Ibérica, os H. sapiens possuem ambas as ancestralidades, indiciando a fusão das duas populações. Também, os H. sapiens, coexistiram e se cruzaram com os Neandertais, visto as duas espécies não serem mais diferentes que duas etnias, até à extinção dos Neandertais, uns milhares de anos depois, provavelmente em Portugal. Cerca de 2% do genoma de um europeu é Neandertal, inexistente no africano típico.
Estes grupos humanos movem-se com as manadas de que se alimentam e ao longo dos rios de que bebem e retiram peixe e mariscos, mas também assentam quando encontram um ambiente capaz de suprir as necessidades do grupo. Entre 7000-4900 ac., no estuário do Sado, encontram-se assentamentos familiares, em sítios com visibilidade e acessibilidade às linhas de água, embora com fraca visibilidade para outros, apenas a 1 ou 2 km. Encontram-se também assentamentos temporários associados com excursões de caça e extensas instalações associadas à produção de fornos e outras para a produção de utensílios em sílex, em locais onde não são conhecidas estruturas habitacionais, sugerindo centros de produção, onde os recursos naturais se encontram, ao serviço de várias populações.
Ao longo de 8.000 anos, as indústrias líticas e cerâmicas, a economia e o padrão de assentamento, foram evoluindo, revelando menor mobilidade e maior complexidade na organização logística e social. As comunidades estruturam-se como entidades territoriais e diferenciam-se de outras comunidades vizinhas com as quais estabelecem redes de circulação de objetos, pessoas e novos elementos culturais.
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