O conceito de turismo urbano ou não existe ou não se encontra suficientemente desenvolvido. Este facto resulta das dificuldades em enquadrar a enorme abrangência de motivações que estão na origem das deslocações e viagens turísticas desta natureza, mais identificadas com outras definições, como o turismo cultural, de negócios e desportivo, por exemplo.
As questões culturais e históricas vêm-se manifestando, cada vez mais, como uma necessidade premente dos destinos à escala mundial na orientação e estímulo do seu turismo, uma vez que constituem a essência da autenticidade das suas ofertas e produtos turísticos.
[É preciso] orientar os consumidores de férias para os valores culturais e históricos do Algarve
Os recursos históricos, culturais e arquitectónicos das zonas urbanas, assumem-se como vertentes inequívocas de complementaridade dos produtos turísticos tradicionais, na medida em que, muito sinceramente, não nos parece, nem correcto nem honesto, idealizar que as nossas cidades, por si só, possam gerar e atrair fluxos turísticos relevantes no âmbito da procura turística do Algarve.
A posição do Algarve, com uma economia virada para o exterior, só pode ser considerada de um enorme desconforto nesta área, traduzida na falta de compromissos políticos claros, sem qualquer ambição relativamente às opções a tomar, com medidas quase sempre incoerentes e distorcidas das realidades e, muito principalmente, sem estímulos e outros impulsos, o que, em última análise, vem limitando a eficácia da economia portuguesa em geral e turística em particular.
Neste contexto, assume relevância particular a adopção de medidas que permitam um reforço de reafirmação da nossa identidade enquanto região, recuperando e reactivando actividades tradicionais e patrimoniais, de forma a orientar os consumidores de férias para os valores culturais e históricos do Algarve.
Em boa verdade, o facto destes valores se encontrarem desinseridos da nossa oferta turística, não tem permitido ao sector uma utilização racional e económica destas valências competitivas.
Os actuais estrangulamentos das nossas zonas urbanas são por demais evidentes e não poderão por muito mais tempo continuar a ser ignorados, sem prejuízo de estarmos a hipotecar o nosso futuro enquanto região e destino turístico por excelência, que já somos e pretendemos continuar a ser.
É preciso acabar de vez com aquilo que habitualmente se designa por cultura da facilidade, dando lugar a uma cultura de exigência e rigor, através de uma maior cumplicidade, habilidade e empenho, imaginação, dinamismo e ousadia das entidades oficiais mais directamente responsáveis por estas matérias.
As actuais preocupações pelo carácter sustentado do desenvolvimento das zonas urbanas passam, naturalmente, pela necessidade de se reforçarem as intervenções nestas áreas, com o património a desempenhar um dos quadros de referência estratégica, porventura mais significativo, na convergência e valorização competitiva das nossas cidades e do nosso turismo.
O turismo, embora funcione, todos o sabemos, como um motor no relançamento e modernização de outros sectores económicos, não se desenvolve de uma forma harmoniosa e sustentada sem a integração e inserção plenas numa visão global da economia e vida das regiões, e de um maior equilíbrio e mais forte afirmação de outras actividades económicas, sociais e culturais. O património tem de ser valorizado e mostrado através de uma intervenção forte, activa e de grande valor cultural.
A valorização e a recuperação dos centros histórico-culturais regionais encontram-se por definir e nada se fez no sentido da concretização do Parque das Descobertas em Lagos, de um Museu dos Descobrimentos, das zonas históricas de Silves, Sagres, Estoi/Ossónoba, Faro, Castro Marim e Tavira, entre outras, criando os meios e as condições para a sua consolidação, divulgação e exploração económica e turística.
O turismo é um sistema social complexo, com uma envolvente de variedades culturais e sociais, pelo que importa ultrapassar os lugares comuns com que a actividade vem sendo abordada, aliando os homens do turismo a historiadores, sociólogos, psicólogos, geógrafos, economistas, etc., como melhor forma de encontrar soluções e formular questões destinadas a resolver bloqueios e desconfianças que vêm afectando negativamente o desenvolvimento da actividade turística enquanto sector estratégico e prioritário da economia portuguesa em geral e algarvia em particular.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia