Na passada semana, a comissão parlamentar da Administração Pública, Ordenamento do Território e Poder Local visitou a região do Algarve. Esta é a comissão que no parlamento trata das questões relacionadas com a Administração Pública, autarquias locais, ordenamento do território e política de coesão. Esta visita teve como principal foco interagir com os agentes regionais e locais, em particular, com os seus autarcas, tendo em vista conhecer melhor a região do ponto de vista da sua coesão territorial. Percorremo-la desde o extremo barlavento até ao extremo sotavento. Desde o litoral até ao mais profundo do seu interior.
Deslocámo-nos pela EN125, A22 e serpenteámos as estradas da serra algarvia. Foi possível falar com os representantes políticos de cada um dos municípios e com alguns responsáveis dos organismos desconcentrados da região, designadamente, da CCDR Algarve. Tivemos a oportunidade de dialogar com empresários turísticos e de sectores emergentes da economia regional, assim como, também tivemos o gosto de visitar o UALG TEC CAMPUS, o recém-criado centro tecnológico da região do Algarve. Fomos muito bem recebidos e acolhidos por todos, em particular pelos responsáveis, técnicos e funcionários da Comunidade Intermunicipal do Algarve – AMAL.
O Algarve, tal como visionou e defendeu tantas vezes o meu amigo e colega, Prof. Doutor Luís Serra Coelho, tem todas as condições para ser hidro e energeticamente autossuficiente! E é a serra algarvia que nos dá toda essa vida que, paradoxalmente, está a definhar
Para mim, deputado algarvio e eleito pelo distrito de Faro, foi bom receber os meus colegas na nossa região, mas fundamentalmente constatar que proporcionámos momentos de descoberta de um Algarve que desconheciam e que não faziam ideia que existia. Nós, sabemos por cá, que o Algarve não se circunscreve apenas aos seus principais pontos turísticos, é muito mais do que isso. Há um Algarve profundo, protegido do rebuliço do litoral pelas cordilheiras da serra, mas que, curiosamente, alimenta culturalmente o turismo do Algarve. Fá-lo com a sua gastronomia tradicional, com os seus cantares, com o sotaque, com os comportamentos e traços fisionómicos que se denunciam nos sorrisos, olhares e comportamento de nós, algarvios.
Esse Algarve profundo, que se esconde do litoral através dos montes, mesmo a norte do barrocal, está abandonado à sua sorte, sem pessoas, sem acesso à saúde, sem vida económica, sem internet (conetividade digital), sem a atenção dos responsáveis políticos nacionais. Curiosamente é esse mesmo Algarve que aparece nos postais que se vendem no litoral, com fotos alusivas ao seu património cultural, que dá identidade à região, mas também abastece a água que se consome e que produz e, desde há pouco tempo, também fornece energia suficiente para servir uma boa parte da região, mais de metade, segundo podemos perceber.
O Algarve, tal como visionou e defendeu tantas vezes o meu amigo e colega, Prof. Doutor Luís Serra Coelho, tem todas as condições para ser hidro e energeticamente autossuficiente! E é a serra algarvia que nos dá toda essa vida que, paradoxalmente, está a definhar.
É altura para, seriamente, pensarmos sobre o que fazer com este território, com o pouco que lhe sobra de vida, com o seu futuro e com o futuro dos que aí pretendem viver. É altura para passarmos as décadas de inebriantes promessas e passarmos aos atos. E resolvermos com urgência a inaceitável condição de que qualquer pessoa no interior de Cachopo demora duas horas entre chamar uma ambulância e chegar ao hospital central do Algarve. Isto é criminoso! O novo programa regional de ordenamento do território é, sem dúvida, o instrumento adequado para estrategicamente repensarmos o futuro da região. É urgente agarrar esta oportunidade para garantir o que tiver de ser feito. Porque o problema do País e do Algarve, em particular, é que muito se diz e pouco se faz.