Dados recentes divulgados pela Entidade Reguladora da Saúde (ERS) sobre o acesso a exames de endoscopia gastrenterológica destacam a complexidade dos desafios enfrentados pela região algarvia, enquanto revelam um potencial para melhorias significativas.
Entre 2022 e 2023, o Algarve registou um aumento impressionante de 243,2% na realização de exames de endoscopia gastrenterológica no setor convencionado do Serviço Nacional de Saúde (SNS). Este crescimento percentual, o mais elevado do país, reflete não só uma crescente procura, mas também a resposta às necessidades de saúde de uma população que vive num território marcado por assimetrias no acesso a serviços médicos especializados. Apesar deste progresso, subsistem lacunas preocupantes. Apenas nove concelhos no Algarve oferecem serviços publicamente financiados de endoscopia gastrenterológica, um número reduzido que não atende às exigências da população local e dos milhares de visitantes que anualmente escolhem a região. Estas lacunas tornam-se ainda mais graves quando se considera a elevada incidência de doenças do aparelho digestivo e os desafios na prevenção, diagnóstico precoce e tratamento de condições como o cancro do cólon e reto.
A nível nacional, quase 40% da população não tem acesso a serviços de endoscopia financiados pelo SNS no seu concelho de residência, e a situação no Algarve reflete esta realidade. A concentração de unidades de saúde no Norte e em Lisboa e Vale do Tejo evidencia as desigualdades regionais que persistem e que, em última análise, penalizam os residentes das regiões do Alentejo e do Algarve. Este panorama exige uma ação coordenada e estratégica.
É crucial que se expandam as convenções do SNS com prestadores privados na região, garantindo maior proximidade e acessibilidade aos serviços de endoscopia. Além disso, a criação de campanhas de sensibilização para rastreios preventivos, direcionadas à população entre os 50 e os 74 anos, poderá ajudar a identificar casos precocemente, reduzindo as taxas de mortalidade associadas a tumores do aparelho digestivo.
O Algarve não é apenas um motor económico para Portugal; é também casa para milhares de residentes que merecem um sistema de saúde equitativo e eficaz. A aposta na modernização das infraestruturas de saúde e na eliminação de barreiras ao acesso a cuidados especializados é um investimento na qualidade de vida e no bem-estar de toda a região.
Leia também: Porque é que o preço das casas cresce mais em Portugal do que em Espanha?