A forma como duas correntes arquitetónicas impactaram as edificações regionais e o papel de diversos atores e disciplinas nesse processo está em foco no livro “A Construção do Algarve”, que vai ser editado em português, disse o autor.
O trabalho do arquiteto Ricardo Costa Agarez recupera a tese de doutoramento feita numa universidade inglesa, foi lançado em 2016 por uma editora internacional e é agora publicado em português pela editora Dafne, que ‘casou’ a sua vocação para publicar matérias diversas e de caráter crítico com a vontade do autor em dar a conhecer a sua tese em língua portuguesa, explicou o próprio à agência Lusa.
“O livro é o resultado e usa muito material recolhido para uma tese de doutoramento feito em Inglaterra, que usa o Algarve como ponto de partida, como estudo de caso, para olhar para questões que têm que ver com a identidade regional, com a forma como uma região pode construir a sua identidade”, afirmou o autor.
Ricardo Costa Agarez explicou que o livro analisa a forma como se conseguiu “constituir e ir erguendo uma identidade local ou regional através da arquitetura” no período entre os anos 20 e 60 do século XX e da atuação, não só dos próprios arquitetos, como “também dos engenheiros, mesmo construtores civis e até donos de casas e dos edifícios”.
“Eu fui observar como é que essas duas correntes, que no fundo são a arquitetura moderna internacional e regionalismo em arquitetura, que são correntes vistas como uma a seguir à outra, uma em confronto com outra ou em oposição uma à outra, para perceber como é que as duas se tinham desenvolvido individualmente e em conjunto, nesse confronto”, disse o arquiteto.
Habitualmente, há um trabalho mais teórico neste tipo de análises, mas o livro “olha para essas coisas a partir das obras de uma região” e analisa “como é que estas correntes, estes conflitos, estas tensões, estas respostas e estas questões se passam na verdade, na realidade muito pedestre” do Algarve.
“Aqui entra uma espécie de elenco de atores, que vai muito para lá dos arquitetos, e isso é o que, para mim, é o mais interessante – como é que essas pessoas também participaram nesses processos, desde o bispo a políticos, responsáveis técnicos de Câmaras Municipais, de agências governamentais, dos arquitetos ou publicações de revistas ou livros”.
Ao mesmo tempo, segundo o autor, há ainda disciplinas, como a geografia ou a etnografia que “também tiveram um papel importante nesta construção” de uma região, ainda antes da massificação do turismo no Algarve.
Ricardo Costa Agarez explicou que o Algarve foi a região escolhida devido às suas características relacionadas com a “identidade enquanto região cultural e histórica distinta” e recordou ter sido a última a ser reconquistada ao califado de Córdoba, no século XIII.
Apresentação está marcada para 23 de maio em Lisboa e para 3 de junho em Faro
“Desenvolve-se ali arquitetura vernácula e tem características que não se encontram noutras regiões”, antecipou ainda o autor, frisando que o Estado Novo também “acarinhou” as particularidades para acentuar a “diversidade” que pretendia transmitir e que é visível, por exemplo, na construção cúbica que é característica da cidade de Olhão.
A apresentação da edição em português do livro “A Construção do Algarve” está marcada para 23 de maio, em Lisboa, e para 3 de junho, em Faro, segundo informação avançada pela editora.
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