O novo maestro titular da Orquestra Clássica do Sul (OCS), Martim Sousa Tavares, disse querer que a formação tenha um espírito “todo o terreno” para alcançar todas as camadas da população e não apenas um nicho.
“Aquilo a que eu estou habituado e aquilo em que eu me revejo são as orquestras tidas como bens para usufruto de uma população em sentido lato, não apenas um nicho de uma sociedade, não apenas uma zona de uma cidade, mas uma população, e para isso é preciso que as orquestras tenham este espírito ‘quatro por quatro’, um bocadinho mais todo o terreno”, defendeu.
O novo maestro da OCS, que sucede a Rui Pinheiro, falava durante uma conferência de imprensa da Associação Musical do Algarve e do Teatro das Figuras, no Museu Municipal de Faro, que antecedeu o seu primeiro concerto à frente da orquestra, no dia 05 de fevereiro.
Na ocasião, Martim Sousa Tavares revelou querer conquistar novos públicos e que a orquestra se assuma “enquanto marca daquilo que é a identidade cultural do Algarve”, o que passa por levar a formação a tocar em territórios com menor densidade populacional, espaços menos convencionais e com novos repertórios.
“A orquestra também tem que se conseguir relacionar com o mundo à sua volta, e isto quer dizer que fazemos música clássica, é certo, mas não em sentido anacrónico. Não pensem que vamos ser previsíveis, ou que isto vai ser sempre o Mozart e o Beethoven”, referiu.
O maestro sublinhou que é desejável “que apareçam novos formatos de intervenção da orquestra, novos espaços, novos horários, novas formas de estar, novos repertórios e novos compositores”, acrescentando que dirigirá metade dos concertos da orquestra, estando a outra metade reservada a outros maestros, evitando, assim, cair em “rotinas”.
Martim Sousa Tavares disse ainda concordar com o regresso da orquestra ao seu nome original – Orquestra do Algarve -, a partir de abril, pois apesar de os motivos da mudança de nome para Orquestra Clássica do Sul, há cerca de 10 anos, terem sido “bons”, também é bom “voltar atrás e eliminar a palavra clássica” do nome.
“Só traz coisas boas, porque clássico é um espartilho. E se não quisermos ser clássicos?”, interrogou, notando que a orquestra está a planear programar um ciclo específico para a freguesia serrana de Cachopo, em Tavira, além de a possibilidade de tocar em bairros sociais de Olhão, ao abrigo de um desafio lançado pela Câmara.
Outro dos seus projetos para alcançar novos públicos, neste caso o público mais jovem, é criar uma tipologia de concertos chamados de ‘after dark’ em espaços noturnos, onde as pessoas possam estar de “uma forma diferente” do que estariam num concerto tradicional num auditório.
O maestro tenciona “fazer um levantamento de qual é a cena de clubes noturnos no Algarve ou de espaços pós-industriais, por exemplo, que possam ser usados para este tipo de concertos” o que não é “inventar nada de novo”, já que esse formato já tem feito sucesso, tanto em Portugal como fora.
“Eu próprio já fiz a programação de um ciclo de música clássica numa discoteca. Portanto, sei que é possível fazer estas coisas. Claro que tem que escolher repertório específico, não vai a orquestra toda […] portanto, vamos nós próprios adaptar-nos e oferecer música do século XX, século XXI”, concluiu.
O presidente da Orquestra Clássica do Sul, António Branco, referiu que neste “novo ciclo” quer apostar na orquestra “enquanto instrumento de coesão territorial e de inclusão”, para que haja uma presença “desde Alcoutim a Vila do Bispo”.
Por outro lado, tem ainda como objetivo intensificar a procura de espaços relacionados com o património construído do Algarve, em que seja possível fazer concertos da orquestra, seja na sua formação integral, ou em formações mais pequenas.