A recente iniciativa conjunta do PSD do Algarve e do Partido Popular de Huelva, ao lançarem uma petição bilingue a favor da ligação ferroviária de alta velocidade entre Faro, Huelva e Sevilha, merece destaque e apoio incondicional. Trata-se de um passo concreto e determinado em direção a uma ambição antiga e justificada: ligar duas regiões fronteiriças que partilham não só uma história comum, mas também interesses económicos, culturais e sociais profundos.
A ausência de uma ligação ferroviária moderna entre o sul de Portugal e a Andaluzia é, há muito, uma lacuna no mapa da mobilidade ibérica. Numa era em que se apregoa a coesão territorial, a sustentabilidade e a integração europeia, manter o Algarve isolado por via ferroviária do seu vizinho espanhol representa um contrassenso estratégico.
Não é apenas uma questão de mobilidade – é uma questão de desenvolvimento. O potencial económico desta ligação é evidente: aumento do turismo, dinamização do comércio, criação de novas oportunidades de investimento e emprego, e reforço da atratividade internacional da Euro-região Algarve-Andaluzia. Estes benefícios ultrapassam fronteiras e interessam tanto a portugueses como a espanhóis.
Além disso, a mobilidade ferroviária é uma alternativa mais ecológica ao transporte rodoviário, o que está em consonância com os compromissos climáticos assumidos por Portugal e Espanha. A promoção da ferrovia como meio de transporte sustentável não pode continuar a ser apenas um discurso político – deve traduzir-se em ações concretas, como esta ligação entre Faro e Sevilha.
O apoio político agora demonstrado pelos dois partidos regionais, através da assinatura de um memorando e do planeamento de ações conjuntas, revela que há vontade. Contudo, como salientou o presidente do PSD/Algarve, falta muito para que esta vontade se transforme em realidade. O Governo português já iniciou estudos prévios, mas é imperativo que se acelere o processo.
É igualmente essencial que esta causa deixe de ser vista como uma prioridade local ou regional. O Governo central, em Lisboa, e as instituições europeias devem encarar esta ligação como uma infraestrutura estratégica para o sul da Europa. A pressão popular, através da petição agora lançada, pode ser decisiva para colocar este tema na agenda política nacional e internacional.
Também não podemos ignorar o papel simbólico da ligação entre Faro e Sevilha. Trata-se de reforçar a cooperação transfronteiriça e o espírito da Cimeira Luso-Espanhola realizada recentemente em Faro. Este é o momento certo para consolidar compromissos e transformá-los em projetos executáveis.
A ferrovia Faro-Huelva-Sevilha não é apenas uma aspiração legítima – é uma necessidade urgente. O Algarve e a Andaluzia não podem continuar afastados por falta de visão ou vontade política. Esta ligação deve ser uma prioridade nacional.
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