Confesso que estava longe de pensar vir a escrever, alguma vez, sobre a Guerra de África, como também ficou conhecida. Isso nunca esteve no meu horizonte.
O facto de não haver muita coisa escrita sobre esse período difícil da nossa história recente, e das obras conhecidas serem geralmente ficcionadas, incentivou-me a escrever este livro.
É preciso que aqueles que combateram na guerra colonial escrevam as verdades sobre uma guerra que o poder político teima em ignorar, sobretudo os milicianos, ou seja, aqueles que verdadeiramente estiveram na linha da frente dos combates na Guiné, mas também em Angola e Moçambique.
Portugal não pode esquecer nem ver apagados 13 anos da nossa história.
Passados que estão mais de 50 anos desde o fim da Guerra no Ultramar, entristece-me não ver reconhecido nem em palavras e, sobretudo em actos concretos, o sacrifício imposto aos mais de 800 mil jovens portugueses
Podemos imaginar as razões por trás desta intenção, mas não podemos deixar ao critério, sempre subjectivo, de terceiros, a responsabilidade em escrever uma história que não viveram.
É nossa obrigação evitar que isso aconteça. Este é o meu pequeno contributo rumo a esse objectivo.
Passados que estão mais de 50 anos desde o fim da Guerra no Ultramar, entristece-me não ver reconhecido nem em palavras e, sobretudo em actos concretos, o sacrifício imposto aos mais de 800 mil jovens portugueses. Há quem diga que foram mais de 1 milhão, obrigados a combater uma guerra que não queriam, mas à qual não quiseram ou não puderam fugir.
Trata-se, portanto, de um pequeno contributo, desprovido de qualquer outra intenção que não seja um pequeno registo para memória futura sobre um período específico da nossa história.
Em boa verdade, os ex-combatentes são os heróis esquecidos de uma guerra que encerrou o período mais glorioso da nossa história – os Descobrimentos.
A Guerra de África, como também ficou conhecida, quer queiramos quer não, e por muito que isso desagrade à generalidade da classe política, constituiu o último capítulo dessa época gloriosa, enquanto a descolonização pode muito bem ser considerada a última página desse período épico.
Os números da guerra continuam por apurar, qual segredo de Estado. Porém, de acordo com alguns estudos científicos realizados em algumas universidades, estima-se que:
- 800 mil jovens portugueses foram mobilizados para combater nas três frentes de guerra na Guiné, Angola e Moçambique;
- 500 mil africanos integraram igualmente os diferentes ramos das forças armadas portuguesas;
- Houve 9 mil desertores nas tropas portuguesas;
- Houve ainda 220 mil faltosos, dos quais 20 mil refratários;
- 9 a 10 mil mortos entre as tropas portuguesas;
- 31 mil feridos evacuados em estado grave;
- 45 mil mortos e 53 mil feridos graves entre os africanos;
- Mais de 100 mil doentes e feridos, dos quais resultaram 14 mil deficientes físicos com incapacidades superiores a 60%; e ainda
- 140 mil neuróticos de guerra.
Convenhamos que estes números surpreendem pela negativa. Se outras razões não houvesse, estas seriam mais que suficientes para que o Estado português não ignorasse os nossos combatentes, muitos deles afectados psicologicamente e com carências económicas a viver dificuldades tremendas, incluindo muitos sem abrigo, nada que a boa vontade dos nossos responsáveis políticos não pudesse resolver sem pôr em causa as contas públicas, o défice e o interesse nacional.
Não posso, pois, deixar de considerar verdadeiramente lamentável o esquecimento dado aos ex-combatentes pelos mais altos responsáveis da governação, infelizmente transversal a todo o espectro político-partidário português.
Um País que persiste em ignorar o seu passado, compromete o presente e não tem futuro. Este livro é o meu contributo singelo para evitar que que essa parte importante da nossa história não seja esquecida.
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