A candidatura do Geoparque Algarvensis já foi entregue. Esta é uma das melhores notícias para o Algarve no ano que agora termina. A ser aprovada pela UNESCO, como acreditamos, será uma marca distintiva para projetar o Algarve como um todo.
Ao aceitar fazer parte do seu Conselho Científico pediram-me uma frase que aqui vos deixo: “Pensar a oportunidade que o Geoparque Algarvensis pode abrir como elemento estruturador e mobilizador para todo o território do interior do Algarve, é reconhecer o potencial do capital natural para a criação de valor e construir uma matriz inovadora de políticas públicas que incentivem novas procuras e moldem novos mercados ambientais.”
O aspirante Geoparque Algarvensis Loulé-Silves-Albufeira, liderado por uma parceria entre os respetivos municípios, com a direção cientifica da Universidade do Algarve, revela-se como um projeto de largo alcance, pois potencia a notável geodiversidade existente (geossítios terrestres e marinhos) associada a uma extraordinária diversidade paisagística e biológica (rede de áreas classificadas e de estações de biodiversidade), mas, também, a um relevante património construído e cultural (rede de aldeias, património monumental, arqueológico, etnográfico…).
A integração deste vasto ativo de capital natural numa importante infraestrutura territorial com elevado valor simbólico deve constituir uma aposta muito forte da região. Isso requer uma estratégia regional que privilegie novas centralidades baseadas nos valores naturais (abióticos e bióticos) e culturais (tangíveis e intangíveis) e permita a projeção de marcas territoriais distintivas, o restauro de ecossistemas relevantes, assim como a qualificação dos espaços, das atividades e dos produtos.
No quadro de programação europeu há novos focos que suportam a ideia de uma mudança na forma como se olha para as questões do capital natural, desde logo a recente lei de restauro da natureza e o processo em curso de regulamentação dos mercados de carbono.
O Algarve deve colocar-se na linha da frente para criar condições de atração de investimentos em mercados de capital natural. Quem investe nestes novos domínios quer estar associado a movimentos mobilizadores, quer ter garantias de que os projetos são concebidos com uma perspetiva de longo prazo, que os territórios e as administrações estão envolvidos e comprometidos, que existe visão partilhada, objetivos claros, metas exequíveis, monitorização e certificação rigorosa. Em suma, exige políticas públicas inovadoras e consequentes.
Ora, marcas como “Geoparque Algarvensis” tem tudo para se constituir como entidade territorial com força para congregar vontades e alavancar investimentos. Do lado das políticas públicas, o essencial é conceber um programa integrado, que permita concretizar investimentos estratégicos, como a recuperação de linhas de água e corredores ecológicos, a consolidação de espaços florestais multifuncionais e biodiversos, a infraestruturação dos geossítios e de uma nova oferta museológica, a intervenção em vilas/aldeias, incorporando dimensões de inteligência, sustentabilidade e criatividade, qualificando equipamentos diferenciadores e reforçando a componente de economia, com a criação de condições de contexto para atrair novos modelos de negócio e emprego mais qualificado.
Vamos dar corpo a esse grande projeto que junta a história da terra “dos mares do interior” à história do homem.
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