Caros leitores,
Hoje proponho falar de um assunto que todos conhecemos, mas cuja importância requer a nossa repetida atenção, dado as implicações profundas que representa: A nossa casa, o planeta Terra, está em desordem!… bom, permitam-me o aforismo, na realidade por um ponto de vista pragmático, sempre esteve em desordem, quero dizer…
Nesta nossa casa, o planeta Terra, existe uma multitude de processos a decorrer em simultâneo. Duma forma geral percebemos o equilíbrio que permite a vida no nosso planeta de acordo com um balanço delicado entre vários processos, maioritariamente geológicos, biológicos ou climáticos. Por vezes, estes processos entram em desequilíbrio com consequências incertas e resultados potencialmente destrutivos para a vida como conhecemos. A geologia, a paleontologia e a arqueologia informam-nos das muitas vezes que isto aconteceu. Desequilíbrios atribuídos a actividades terrestres, movimentos geológicos, climáticos, à predominância de uma espécie animal, eventos cósmicos ou eventualmente, se bem que em menor escala, a actividade humana aparecem no registo histórico regularmente e conhecemos os resultados destes eventos.
Quanto à actividade humana em especial, podem-se isolar eventos de especifica importância que, embora demarquem progresso, simultaneamente representam entropia, um passo na direcção de desordem. Podemos falar da pré-história, da idade do ferro e subsequente progresso que abriu as portas a uma guerra mais sangrenta, ou dos impérios onde a ambição criou progresso a custo de outros menos fortunados. Eventualmente chegamos à revolução industrial, que abriu as portas ao nosso tempo, onde houve extraordinários avanços na sociedade seguidos de consequências terríveis que ameaçam a nossa própria existência.
Isto faz parte de uma natureza onde todos os organismos procuram o avanço da espécie, através de adaptação competitiva. Nós, por mais inteligentes que sejamos, não desligámos este instinto que permeia as nossas decisões. Seja por procurarmos uma vida mais confortável, ou abundante, ou proteger a nossa descendência ou viver em segurança, o ser humano sempre agiu em conformidade com uma realidade universal imprimida nos nossos genes. Hoje é com relativa confiança que se pode dizer que vivemos em tempos abundantes para alguns e de extrema dificuldade para outros, uma dinâmica que nos empurra na direcção de desordem. Sinais frequentes, como excessos populacionais, constante conflito, cataclismos ambientais e/ou escassez de bens, particularmente água, são bons indicadores da direcção em que viajamos.
Más notícias à parte, também existe um aumento dos esforços para mitigar estes problemas, de certa forma um acordar para a necessidade de acção. Referindo a expressão “think globally, act locally”, que de forma eficiente refere a importância de observarmos o que acontece a nível global, e perceber que são os pequenos passos dados localmente que vão verdadeiramente fazer a diferença, decorrem esforços a nível global, com acção a nível regional, com o objectivo de rebalancear os efeitos da actividade humana de forma a preservar um futuro onde as nossas crianças não têm que temer a possibilidade de uma vida insuportável e simultaneamente tentar responder aos vários desafios apresentados pelas mudanças a decorrer no nosso planeta.
Continuando este artigo numa segunda parte, convido-vos a voltar aqui no próximo mês onde falo de esforços a decorrer em Faro e arredores que por pequenas acções a nível local procuram balançar a equação e assegurar a continuidade da vida em face dos vários desafios que temos em frente. Até breve.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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