CARNAVAL ETERNO, CARNAVAL EFÉMERO
Carnaval é a capacidade de nos olharmos ao espelho e rir de nós próprios. A adaptabilidade de transformar a máscara que se transporta no dia-a-dia numa multiplicidade efémera de máscaras alheias, ora sublimando desejos ocultos e frustrações, ora carregando sobre alvos da crítica social e do escárnio colectivo. Diz-nos a História que estas festividades de elevado sentido de unidade social, porque juntam pessoas de todos os tipos de condição e idade, remontam aos tempos da Antiguidade, do Egipto a Roma, de Israel à Grécia, num misto de paganismo e culto religioso, apropriado pelo Cristianismo na época medieval, com início marcado no calendário aos 47 dias antes da Páscoa. É, hoje, um marco importante no anuário de todo o planeta, onde entre bombinhas de Carnaval e bombas de guerra a sério, o mundo faz trégua nas lutas, nas misérias e nas causas, e explode em contradição. São alegrias forçadas e espontâneas. Criatividade natural e artificialmente construída.
É um espectáculo em todas as escalas, locais, regionais, nacionais e globais, num misto de costumes velhos e hábitos novos. O Carnaval tornou-se obviamente indústria, sector económico, motor de mobilidade de multidões, fonte de receita e de despesa, oportunidade grandiosa para o Turismo, a par do sol e da neve, do Natal e da Páscoa. A televisão transporta-nos para grandes eventos no Rio de Janeiro, Colónia, Viareggio, Nova Orleães, Veneza, Tenerife, Quebec, Nice, Barranquilla, Mazatlán, Berlim, ou Sydnei, entre muitos outros. Mas também faz directos de Loulé, Ovar, Alcobaça, Torres Vedras, Sesimbra, Sines, Loures, Estarreja, Elvas ou Funchal.
Falta por cá, no Algarve se quisermos, em Loulé necessariamente, um espaço que eternize a essência, as glórias e os protagonistas: falta um Museu do Carnaval
Em Portugal, pouco resta desses três dias de criação, sobram fotos, filmes, jornais, fios de memória enquanto durar, alguns adereços ou carros alegóricos para reconverter no Carnaval do ano seguinte, e o resto perde-se, joga-se nos aterros sanitários, nos cemitérios de lembranças. É o triunfo da fugacidade. Falta por cá, no Algarve se quisermos, em Loulé necessariamente, um espaço que eternize a essência, as glórias e os protagonistas: falta um Museu do Carnaval, à semelhança de tantos outros espalhados pelo mundo fora. São repositórios históricos, culturais, educativos, antropológicos, artísticos, investigativos do impacto social do evento e das tradições a ele associadas, e que estendem o interesse pelo tema a todos os dias do ano, constituindo uma base logística firme de promoção turística, de produção de merchandising e mais-valia comercial. Falta alguém que vislumbre na arte de transformar o efémero em duradouro uma oportunidade de enriquecimento cultural e económico para a Região.
A DESFORRA DOS AFORRADORES
Está ao rubro a corrida aos Certificados de Aforro, esse parente pobre dos produtos de poupança. Depois de muitos anos a ser joguete dos senhores da banca, que têm pago ofensivamente juros miseráveis aos seus depositantes, estes (re)descobriram que há vida para lá dos bancos tradicionais numa remuneração um pouquinho mais justa para o que deixaram de lado fruto do seu trabalho.
Aos olhos da clientela de pequena e média dimensão, os senhores banqueiros são sempre muito solícitos a disparar as taxas que oneram os créditos (habitação, consumo, empresas), a cada espirro que a senhora Lagarde dá em Frankfurt, de cada vez que a Euribor dá um saltinho. Em contrapartida, existe uma artrose usurária que impede o reflexo equivalente, ou seja, pagar melhor a quem lhes enche os cofres. A actividade bancária já teve melhores dias no ranking do prestígio e da confiança junto da população, escaldada com a Economia de casino.
As negociatas de alto risco para amigos que deram para o torto, impactaram severamente nos auxílios do Estado (todos nós), e na caça despudorada e unilateral às comissões pagas pelos clientes por tudo e por nada. A impunidade dos responsáveis pelas falências e má gestão é revoltante. Os processos arrastam-se pelos tribunais sem fim à vista, dinheiro não falta para pagar a poderosas sociedades de advogados. Com o escalar da inflação, a situação dos aforradores tornou-se insustentável, vendo o resultado de vidas de trabalho a ser comido vorazmente em cada dia que passa.
A emergência dos Certificados de Aforro, com taxas remuneratórias indexadas à Euribor, apareceu como uma tábua de salvação. Embora com um limite máximo nos montantes a aplicar, mais vale pouco que nada. Ordem para transferir! Não surpreende que do lado da banca já se ouçam queixas de que o Estado está a pagar demais ao povo aforrador. Quem sempre teve tudo, não quer abdicar de nada.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico