Uma das consequências mais visíveis da falta de uma política de turismo, traduz-se no facto de não ter sido previsto o desenvolvimento de zonas residenciais para responder às necessidades do aumento da população trabalhadora.
Construiu-se muito e mal e, sobretudo, não se implementou um crescimento sustentado e ajustado às necessidades desse crescimento económico e turístico.
A falta de mão-de-obra em quantidade e qualidade para responder às necessidades empresariais do sector hoteleiro e turístico constitui um dos maiores problemas estruturais do Algarve na actualidade.
Sem o factor humano, o turismo e o Algarve deixarão de ser competitivos por falta de atratividade e serviços medíocres e pouco produtivos
O facto de o turismo ser uma actividade de pessoas para pessoas, faz com que o factor humano desempenhe, neste sector económico, um papel muito mais crucial e decisivo do que em outras actividades económicas, nomeadamente no que se refere à qualidade dos serviços prestados.
Os estrangulamentos actualmente existentes nesta matéria resultam, em grande medida, da ancestral falta de mobilidade entre as zonas residenciais com maior concentração de trabalhadores e os respectivos locais de trabalho, localizados fora das principais áreas urbanas.
Numa altura em que as Câmaras Municipais se preparam para rever os seus PDM’s (Planos Directores Municipais), os responsáveis autárquicos devem encarar, de uma vez por todas, a necessidade em implementar políticas de habitação activas a custos controlados, tendo em vista motivar e atrair mão-de-obra de outras regiões do País, mas também imigrantes oriundos de países terceiros.
Os hotéis e os empreendimentos turísticos vêm desenvolvendo, sobretudo nos últimos anos, esforços e investimentos avultados para tentar suprir estas carências, proporcionando sempre que possível alojamento e outras facilidades aos seus trabalhadores. Contudo, e apesar de muito importantes, estes esforços não têm sido suficientes para resolver as enormes lacunas estruturais que a região enfrenta nesta matéria.
Por outro lado, torna-se necessário estabelecer parcerias entre o sector público e o sector privado, com o objectivo de fidelizar os trabalhadores ao turismo e às empresas, através, nomeadamente, de acções de formação contínua durante a temporada baixa, visando a criação de equipas estáveis e duradouras ao longo do ano, melhorando a qualidade dos serviços prestados e aumentando os seus níveis de produtividade e, por essa via, a rendibilidade das empresas e a competitividade turística regional e nacional.
A actividade económica do turismo tem sido e vai continuar a ser um factor determinante na minimização dos impactos negativos das crises, quer no plano social, quer na esfera macroeconómica do País.
O Direito do Trabalho não resolve, por si só, os problemas estruturais da falta de mão-de-obra, pelo que o regresso a um passado proteccionista em termos de legislação laboral, como pretendem algumas forças políticas e sindicais, não pode servir de desculpa para ultrapassar os estrangulamentos com que o nosso País em geral e o Algarve em particular se vêm confrontando nos últimos tempos, quer nesta, quer em outras matérias.
É por estes motivos que o Estado está obrigado, por um lado, à introdução de medidas que visem a melhoria da envolvente empresarial no sector do turismo e, por outro, à resolução dos problemas sociais e bem-estar das populações residentes.
Neste sentido, importa agilizar e flexibilizar os processos de legalização de imigrantes, tendo em vista a importação controlada de mão-de-obra estrangeira para trabalhar na economia em geral e no turismo do Algarve em particular.
A questão da falta de mão-de-obra é um dos casos mais prementes da maior actividade económica nacional, sobretudo da maior e mais importante região turística portuguesa – o Algarve.
Os Municípios do Algarve terão que ser capazes de ultrapassar rivalidades mais aparentes do que reais, mesmo quando estas são de índole partidária, definindo e implementando políticas de construção a preços controlados, tendo no horizonte uma visão regional integrada sobre esta matéria, caso contrário corremos o risco de a região ir definhando competitivamente relativamente a outros destinos concorrentes.
Sem o factor humano, o turismo e o Algarve deixarão de ser competitivos por falta de atratividade e serviços medíocres e pouco produtivos.
O turismo é uma indústria de serviços. Sem serviços de qualidade a indústria perde a sua mais-valia competitiva, passando a ser um destino banal, barato e pouco rentável, desmotivando trabalhadores, investidores e, sobretudo, turistas.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
Leia também: É preciso resistir. Políticos habilidosos enganam os portugueses | Por Elidérico Viegas