Vivemos momentos de enorme incerteza sobre o futuro, com os riscos cada vez mais evidentes das alterações climáticas a deixar rastos de catástrofe e destruição, a guerra, imponderável na Europa, recorrente no Médio Oriente, a trazer terra queimada e novas linhas vermelhas entre ocidente e oriente, com os desequilíbrios demográficos crescentes, o agravamento das migrações em massa e o alastramento do medo e do mal estar social, com o comércio mundial em arrefecimento e as economias à beira de um ataque de nervos, antecipando-se um mundo ainda mais desigual.
Neste turbilhão de ordem global, a União Europeia sai de eleições com um novo equilíbrio de forças, obrigada a negociações exigentes, internas e externas, desde logo para mais um alargamento a leste, pressionada nas suas fronteiras e amarrada a um Pacto de Migrações em que ninguém acredita, empurrada para se constituir como bloco militar e tentada a vacilar na política de coesão, contestada no ritmo com que tem vindo a desenvolver o processo de descarbonização da economia e de sustentabilidade agrícola, excessivamente dependente do ponto de vista energético e suplantada na produção científica e inovação tecnológica.
Reconheça-se que são questões muito inquietantes a exigir urgência de respostas à altura dos tempos. Sabemos das fragilidades do processo europeu, da crise de confiança nas instituições e, mesmo, da alteração de estado de espírito que percorre as sociedades europeias. Sabemos, também, das divergências internas que a geografia e a história impõem. Mas, o percurso recente mostra, frente à pandemia e à guerra na Ucrânia, a força da ação conjunta.
Este contexto desafiante, gerador de entropia e trajetórias de colisão, colocará em conflito duas perspetivas distintas de equacionar a construção europeia: os que acreditam na mudança com mais integração e os que defendem mais segregação; os que querem avançar nos direitos e deveres e os que querem retroceder nos valores; os que desejam uma alteração no modelo de desenvolvimento e os que persistem no negacionismo; os que propõem partilhar os riscos e sacrifícios e os que pretendem inculcar o medo e rejeitar sacrifícios; os que querem mutualizar os custos e os que olham apenas para o lado dos proveitos.
Não tenhamos dúvidas, este será um confronto existencial, entre os que sempre acreditaram nesta bela e extraordinária faceta que é a União Europeia e os que sempre desconfiaram dela. Disso se escreverá o futuro da Europa.
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