Portugal apresenta atualmente uma grave crise habitacional, das maiores da Europa, com destaque para regiões como o Algarve, Lisboa e Porto, onde os preços da habitação mais do que duplicaram na última década. Os dados foram divulgados num estudo coordenado pelo economista português Guilherme Rodrigues, em funções no Reino Unido, e publicado pela associação Causa Pública.
De acordo com o relatório, a situação portuguesa registou a maior deterioração entre os 38 países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE).
O estudo revela que, ao contrário da tendência verificada na maioria dos países europeus, os preços da habitação em Portugal continuaram a aumentar em 2022 e 2023, apesar do aumento das taxas de juro.
No Algarve, a procura de habitação tem sido agravada pelo aumento do turismo e do investimento estrangeiro, colocando pressão adicional sobre os residentes locais. Esta dinâmica contribui para a desigualdade entre regiões e gerações, como sublinha o estudo, dificultando a atração de trabalhadores para a administração pública e empresas locais.
A associação Causa Pública alerta também para o facto de Portugal possuir um dos menores parques de habitação pública e social da OCDE, sem registo de expansão na última década. Esta situação expõe especialmente as populações mais vulneráveis às flutuações do mercado imobiliário.
Além disso, o estudo refere que o peso crescente do setor imobiliário prejudica a economia nacional, não apenas devido aos custos diretos associados à compra ou arrendamento de imóveis, mas também pelos efeitos indiretos, como a dificuldade na atração de mão-de-obra qualificada. No Algarve, estes fatores têm impactos significativos na capacidade de desenvolvimento económico, especialmente em setores críticos como o turismo e os serviços.
A Causa Pública reforça que estas dinâmicas limitam o crescimento dos setores mais produtivos e inovadores, considerados essenciais para a melhoria da qualidade de vida da população. A associação defende a necessidade de uma intervenção pública que vise regular o mercado e reduzir as tensões sociais criadas pela atual crise habitacional.
O relatório conclui que o agravamento da crise habitacional em regiões como o Algarve não só mina a igualdade de oportunidades, como coloca desafios adicionais à coesão social e ao desenvolvimento sustentável do país.
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