A sazonalidade constitui uma das maiores fragilidades do turismo do Algarve. Esta fraqueza não é um processo exclusivo do turismo, encontrando explicações e soluções numa visão mais global da economia em geral, assim como em aspectos de ordem social e de comportamento humano.
A sazonalidade do Sol e Praia resulta, essencialmente, das condições naturais e dos ritmos sociais. O Verão é não só o período mais quente do ano, mas é também uma época especial para outros sectores de actividade, como a agricultura ou as pescas, por exemplo.
Defendemos a necessidade de ser definida uma política de promoção orientada especificamente para a sazonalidade
A sazonalidade turística integra uma variedade de sazonalidades que vão desde a procura, à produção de serviços turísticos e, muito especialmente, às condições climatéricas – as famílias vão de férias no verão. A procura é suscitada pela oferta, mas é a procura que determina o seu sucesso.
Assim sendo, as variações conjunturais, estruturais ou sazonais das procuras turísticas resultam, na sua base, de processos de natureza humana, económica e social.
O que está em causa, no fundo, é sermos capazes de aumentar a procura na época baixa, através de uma reorganização da nossa oferta de modo a dar mais qualidade de serviço nos picos altos e promover uma maior ocupação nos períodos baixos, dentro de uma racionalidade económica, via valorização e optimização dos recursos existentes numa óptica de maior satisfação económica e social.
Uma gestão adequada da sazonalidade passa por levar em consideração a criação e o reforço de um conjunto de actividades de animação e outras, inserida em uma política articulada e devidamente consensualizada de utilização dos designados factores de produção.
É por isso que faz sentido enriquecer a oferta turística ao nível de outros subprodutos, de forma a alargar a estação turística com mais e melhores serviços.
Temos consciência que um dos mais importantes objectivos da política de turismo é a atenuação dos efeitos negativos da sazonalidade, através de uma melhor utilização dos recursos e infraestruturas públicas e privadas dimensionadas e/ou com aproveitamento adequado apenas durante a época alta do turismo.
Também sabemos que esbater a sazonalidade passa por comercializar mais e melhor a capacidade disponível a partir da época turística para a estação baixa, aumentando as ocupações e, por essa via, as vendas e o volume de negócios nos chamados meses laterais – os chamados “shoulders”.
Por outro lado, para um destino turístico tradicional como o Algarve, cujo ciclo de vida oscila entre a consolidação, a estabilidade, a estagnação e, em alguns casos, o declínio, traduzido em vários desequilíbrios ao nível da sua oferta, esbater a sazonalidade exige, necessariamente, a definição e implementação de políticas que visem contribuir para a renovação e regeneração do nosso produto, sem o que não será possível manter níveis mínimos de satisfação da procura.
É por estes motivos que defendemos a necessidade de ser definida uma política de promoção orientada especificamente para a sazonalidade, com uma explicitação clara dos objectivos a atingir, assim como o estabelecimento de um programa de apoio financeiro à adaptação da oferta e outros produtos, reconhecidamente aceites como atenuadores dos efeitos sazonais – turismo de negócios, golfe e outros eventos desportivos e culturais.
Reforçar a ligação ao Produto e à Distribuição, implica uma articulação entre a oferta turística e o transporte aéreo, enquanto duas faces da mesma moeda, não podendo, por isso mesmo, continuar a ser tratados separadamente como tem acontecido até aqui.
A visão redutora de alguns organismos corporativos, quer públicos quer privados, mais interessados em gerir as suas próprias incapacidades e protagonismos, constituem verdadeiros obstáculos à implementação de políticas e estratégias inovadoras destinadas a enfrentar com sucesso os desafios impostos pelos mercados turísticos, nomeadamente no que à promoção diz respeito.
Esbater a sazonalidade é, pois, uma necessidade objectiva de potenciação da nossa capacidade competitiva e de atracção em segmentos de mercado em expansão e de enorme importância para a melhoria da qualidade da nossa oferta turística, constituindo um dos maiores, senão o maior desafio do turismo do Algarve no presente e no futuro.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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