Não é necessário ser letrado em história para saber que o Algarve, quando comparado com outras regiões do País, tem sido objecto de um tratamento de desfavor generalizado por parte dos sucessivos Governos da República.
O tão propagado princípio da universalidade e da equidade só se aplica ao Algarve quando é para pagar, as portagens nas SCUT, os prejuízos da TAP, etc., etc., uma vez que quando se trata de receber manda-se o princípio às urtigas e os algarvios que se lixem. Sempre assim foi, sempre assim será.
Os sucessivos poderes terão mesmo “apadrinhado”, em tempos idos, embora disfarçadamente, claro, em defesa do politicamente correcto, algum mal-estar entre os portugueses contra o Algarve, e que alguns em nome de interesses obscuros, económicos e outros, persistem em cultivar.
Quando se trata de receber manda-se o princípio às urtigas e os algarvios que se eram nesta matéria, lixem. Sempre assim foi, sempre assim será
Hoje, felizmente, as coisas já não são o que eram nesta matéria, mas alturas houve em que, salvo o exagero, quem não falasse mal do Algarve não era bom português.
Este tratamento de desfavor vem-se manifestando em áreas como o investimento público (infra-estruturas, equipamentos, etc.), verbas alocadas à promoção da maior e mais estratégica região turística portuguesa, e por aí fora.
Neste contexto, é absolutamente inaceitável a chantagem exercida sobre todos aqueles que consideram a crise uma realidade, tendo por base erros teóricos de base no seu desenho e prioridades, interesses políticos, ausência de rigor, não só no seu âmbito estratégico como operacional e, sobretudo, falta de capacidade em expressar uma dinâmica mobilizadora para a alteração radical da situação em que nos encontramos mergulhados.
Políticos habilidosos, ou mal-intencionados, enganam os portugueses, através do recurso a retóricas e narrativas mal-amanhadas. Se isto é democracia, vou ali já venho.
É, pois, com surpresa, e mesmo estupefacção, que assistimos à atribuição de rótulos de “negativistas e intoxicadores da opinião pública”, sempre que se apresentam propostas para reduzir/esbater mais depressa e de um modo mais eficiente a progressiva descida que se verifica nas procuras internas e externas e, por essa via, nos resultados económicos das empresas e nas receitas económicas e turísticas do país.
Todos os que se atrevem a mostrar novos caminhos para o aumento da competitividade das empresas e do turismo, se impacientam e não se resignam perante as descidas progressivas e sustentadas do sector no Algarve e no país, assim como com a incapacidade dos organismos públicos responsáveis em tomar medidas, são sucessivamente desmentidos com declarações positivistas, descabidas e incongruentes, através da divulgação de estatísticas mentirosas e sem qualquer rigor técnico e científico, suportados pelos habituais beneficiários do regime.
O turismo nacional atingiu um provincianismo tal, traduzido na afirmação de que todos os que apoiam a bondade das propostas apresentadas, estão a contribuir para ataques especulativos à economia turística portuguesa, como se os operadores turísticos internacionais não fossem capazes de ler e interpretar as insuficiências e timidez das medidas, ou melhor, a falta delas, preconizadas pelos nossos organismos públicos, quer nacionais, quer regionais, através dos comissários políticos do costume.
Na verdade, muito do que há a fazer para promover o crescimento do nosso turismo, nem é impopular, nem custa muito ao erário público. Parte dos chamados “custos de contexto” e da crise competitiva do nosso turismo advêm da falta de capacidade em adoptar as medidas mais correctas e adequadas ao conjunto das nossas empresas e da actividade turística em geral.
Em boa verdade, é preciso assumir, claramente, que para cá do Caldeirão, já não mandam os que cá estão.
Entretanto, e apesar de tudo, o Algarve e os algarvios vão resistindo… Até quando? Ou como dizia o outro: “Se está tudo tão bem, porque é que está tudo tão mal?”
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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