CORRIDA AO PARLAMENTO
Dinis Faísca (PSD), Francisco Oliveira (PS), Isabel Guerreiro (PS), Jamila Madeira (PS), Jorge Botelho (PS), Luís Graça (PS), Ofélia Ramos (PSD), Pedro Pinto (CH), Rui Cristina (PSD), indicados por ordem alfabética, são os nomes dos deputados pelo Algarve à Assembleia da República que chegam ao fim da XV Legislatura. Aqui encontramos gente que já foi ao Governo e dele saiu sem grande registo de sucesso, outros cuja notoriedade passou à margem do eleitorado algarvio, um suplente recentemente entrado em jogo e um paraquedista com lugar cativo junto ao ombro direito do seu líder partidário.
Numa visita online (www.parlamento.pt) pelo currículo parlamentar dos nossos dignos representantes não é fácil avaliar com justiça e rigor o esforço e os méritos de cada qual, sabido que em muitos dos seus feitos políticos, das perguntas ao governo aos projectos de lei, dos requerimentos às dezenas de votos de pesar, saudação ou condenação, se limitam a assinar em conjunto com muitos outros colegas os textos que os assessores preparam.
Regionalização não há, círculos uninominais também não. Candidatos com carisma, há muito que desapareceram do mapa
A falar do púlpito, nenhuma oratória se destacou da mediania nem ficou para a História. Acantonados nas respectivas trincheiras partidárias, uns defenderam o Governo até no indefensável, outros cumpriram o seu papel de oposição, não houve novidades nem surpresas, é a democracia a funcionar. Nesta hora de balanço, torna-se pertinente perguntar. E o Algarve? O que os distinguiu em defesa do Algarve? Praticamente nada. Todos são a favor da construção do Hospital Central do Algarve e de melhores infraestruturas de Saúde, de melhor ferrovia, de mais água, da requalificação da EN 125, do metro de superfície, de menos ou nenhuma portagem na Via do Infante, de mais habitação, do TGV para cima ou para o lado, e mais não se sabe o quê, daqui não se sai, nada os distingue uns dos outros.
Um lado acha que se fez o suficiente, o outro lado acha que se devia ter feito mais, longa vida ao achismo. Mas nenhum arriscou a carreira contrariando os directórios partidários, ninguém saiu do redil com coragem para enfrentar o chefe em defesa das suas convicções se tal fosse preciso. Pessoal disciplinado. Não se ouve uma voz dissonante que denuncie esta política urbanística suicidária em que o Algarve persiste em continuar, de betonização completa do litoral, de densificação dos centros urbanos. Ninguém parece preocupado com o volume da construção clandestina exponenciada pelas casas pré-fabricadas que se implantam como cogumelos à revelia dos Planos Directores ou das áreas protegidas, sem respeito por nada nem ninguém, de forma anárquica e sem fiscalização. Provavelmente, todos concordam com esta lógica perversa que remunera os municípios que mais área construída licenciam, e por via do IMI e do IMT alargam as desigualdades entre eles, uns cada vez mais ricos e outros cada vez mais pobres. Por estes dias, entrou-se no período mais feio do processo eleitoral: a feitura das listas de candidatos para apresentação ao sufrágio de 10 de Março próximo.
Quem está, geralmente quer continuar, é compreensível e humano. Mas há mais gente a querer entrar, com igual e legítima aspiração. Digladiam-se ambições, agitam-se currículos, argumentam-se representatividades e teóricas mais-valias eleitorais dos protocandidatos. É um jogo fratricida de bastidores, de mil pressões, às vezes até de ameaças físicas, um espectáculo deplorável, de jogadas internas no xadrez dos votos combinados, disputando-se palmo a palmo do primeiro ao último lugar das listas. Tudo parece indispensável, caso contrário é derrota certa, desastre anunciado. Porque tem que haver quotas para as mulheres, para as juventudes partidárias, para o esquadrão sindical, para o Barlavento, para o Centrovento, para o Sotavento, e até para as terras sem vento. Isto, sem contar os jarretas que os iluminados de Lisboa se arrogam o direito estatutário de distribuir pelas províncias. Um processo de selecção que passa totalmente à margem dos eleitores, não haja surpresa que estes depois mal sequer recordem o nome dos eleitos. Parece uma realidade alternativa que choca de frente com o muro da verdade. Chamados às urnas, os eleitores que ainda lá vão, votam sobretudo no líder nacional que mais apreciariam para primeiro-ministro ou no partido da sua opção ideológica. O efeito dos candidatos distritais é pouco mais que marginal e, no fundo, aritmética de resultado nulo. Os votos ganhos pela inclusão de fulano, equivalem-se aos votos perdidos pela exclusão de sicrano. Regionalização não há, círculos uninominais também não. Candidatos com carisma, há muito que desapareceram do mapa.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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