De acordo com os números de autorização de residência do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) atribuídos a brasileiros até 31 de agosto, o Algarve surge destacado com o maior número de brasileiros por número de habitantes, a morar principalmente em Albufeira, Portimão, Loulé e Lagos.
Segundo apurou o Expresso, é no concelho de Albufeira onde os brasileiros representam uma fatia maior da população em Portugal, sendo que dos seis concelhos com maior concentração, quatro são algarvios. O destaque vai para Albufeira, onde 8,4% da população do concelho é brasileira (3710 residentes). Segue-se Portimão com 5,8%, Cascais com 5,6%, Loulé com 5,2%, Braga com 4,6% e Lagos com 4,5%.
O sol algarvio atrai três tipos distintos de brasileiros, salienta o Expresso: “os que tem dinheiro para suportar uma casa numa região inflacionada pelo turismo, o jovem que trabalha na área da construção e serviços (hotelaria e restauração) e o estudante universitário”.
Na Universidade do Algarve, entre 9 mil estudantes de 84 nacionalidades, 700 (8%) são brasileiros. Nesta instituição, as provas de ingresso são substituídas pelos resultados obtidos no ENEM (o exame nacional do Brasil), há webinares intercontinentais para esclarecer todas as dúvidas das candidaturas e até um núcleo de estudantes brasileiros. Muitos acabam por fazer ‘dois em um’: enquanto tiram a licenciatura ou mestrado em Portugal, trabalham na área do turismo.
Nos últimos anos explodiram os pequenos negócios que servem a comunidade verde-amarelo, na mesma velocidade em que esta cresceu. Restauração, estética, roupa de praia. E o que não houver em lojas físicas, é só encomendar online. Nas redes sociais locais vende-se açaí, coco verde, camisa para ver a copa, feijoada ou coxinha, refere ainda o jornal.
ONDE RESIDEM OS BRASILEIROS QUE VIVEM NO ALGARVE?
Há brasileiros a viver em todos os 308 concelhos de Portugal
De acordo com os dados do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), há brasileiros a residir em todos os 308 concelhos de Portugal.
Segundo apurou o Expresso, viviam em Portugal 233.122 brasileiros em agosto, constituindo a maior comunidade estrangeira residente em Portugal (29,3% de todos os imigrantes). Cerca de 30 mil obtiveram a Autorização de Residência já em 2022, o que representa um crescimento de 12% em apenas seis meses. No entanto, deverão ser quase o dobro, se forem incluídos “os que permanecem no país em situação irregular, os que têm o processo de legalização em curso e os que obtiveram nacionalidade portuguesa ou outra”, segundo disse ao Expresso a presidente da ONG Casa do Brasil, Cyntia de Paula, que acredita serem cerca de 400 mil brasileiros (mais mulheres que homens), o que representarão cerca de 4% da população nacional.
E não só a comunidade em território nacional continua a aumentar, como a geografia da residência está a expandir-se. Vilas e aldeias ganham nova vida, e os imigrantes uma casa maior ou um andar em vez de um quarto em apartamentos partilhados, que é o destino certo dos mais remediados. “Houve uma mudança de perfil da imigração nos últimos anos, mais jovem, com formação superior, consciência política e militante de causas sociais (direitos humanos, racismo, igualdade LGBTi+), muitos deles ativistas que continuaram em Portugal a luta que não conseguiam travar no Brasil”, explica Cíntia.
“E a este fluxo junta-se outro, em crescimento contínuo e acelerado, de brasileiros mais indiferenciados, da classe trabalhadora. Nos últimos quatro anos no Brasil houve um empobrecimento claro da população, regressou a fome, liberou-se o uso de armas, aumentou o desemprego. Para muitos não houve outra saída senão partir. É interessante ver que, ao contrário de fluxos anteriores, já não vem o homem sozinho, vendem o que têm lá e vem a família toda. Como este novo fluxo é mais instruído, há pequenos empreendedores a criar serviços, empresas, a revitalizar o interior”, conta a presidente da Casa do Brasil, associação que há 18 anos presta apoio à comunidade.
Os imigrantes de “alta renda”, que também se mudam em cada vez maior número para Portugal, fixam-se principalmente no centro de Lisboa, Cascais, Porto e também na Madeira. Onde o m2 é mais caro é certo encontrá-los. Desde que os vistos Gold foram lançados, em 2012, o investimento brasileiro ultrapassou os 870 milhões de euros (dados de agosto), revela o SEF, a maior parte através da compra de bens imóveis de valor igual ou superior a 500 mil euros. No total foram dadas autorizações de residências douradas a 1123 cidadãos do Brasil, número só suplantado pelos chineses.