O Aeroporto de Faro foi inaugurado em 1965, tendo movimentado, nesse ano, pouco mais de 500 passageiros. Em 2019, ano de referência, o tráfego atingiu mais de 9 milhões de passageiros, dos quais cerca de 50 por cento correspondem a pessoas desembarcadas.
Neste contexto, o aeroporto assumiu-se, definitivamente, como a maior e mais importante infra-estrutura turística regional, uma vez que a quase totalidade das pessoas que recorrem aos seus serviços são turistas estrangeiros que, nas suas diversas vertentes, procuram o Algarve para as suas férias.
É oportuno chamar a atenção para os constrangimentos que irão ocorrer, mais tarde ou mais cedo, no Aeroporto de Faro
O Algarve, por outro lado, é também a maior e mais importante região turística portuguesa, responsável por cerca de 50 por cento das receitas turísticas nacionais, contribuindo directa e indirectamente para a rubrica “Viagens e Turismo” do Banco de Portugal. Ou seja, a região sem o aeroporto não teria turismo e, o País sem turismo, estaria à mercê dos maus resultados económicos dos restantes sectores de actividade que teimam em não progredir.
Para satisfazer o aumento crescente da procura, o Aeroporto de Faro beneficiou, e bem, de várias obras de remodelação e ampliação ao longo da sua existência.
Não é difícil perspectivar que, caso se continuem a verificar os ritmos de crescimento dos últimos anos, o Aeroporto de Faro estará saturado no médio prazo e, por conseguinte, sem qualquer capacidade objectiva para continuar a responder aos desafios decorrentes do crescente aumento das ofertas e procuras turísticas internacionais.
Os actuais estrangulamentos do aeroporto, consubstanciados na incapacidade em fazer escoar, em tempo útil, os passageiros oriundos dos países que não integram o espaço Schengen, como o Reino Unido, por exemplo, não só preocupam como ofendem todo o sector turístico regional e nacional. Estranha-se, ou talvez não, digo eu, o silêncio das chamadas forças vivas da região sobre esta questão.
Por outro lado, como é sabido, o Aeroporto de Faro localiza-se numa área ambientalmente frágil e protegida, perto de uma zona urbana e, portanto, sem qualquer possibilidade objectiva de crescimento.
É verdade que, neste momento, a distribuição temporal do tráfego aéreo, quer durante a semana quer ao longo do ano não é homogénea, havendo dias em que o aeroporto apresenta sinais de fadiga evidente e outros em que o movimento é quase nulo, criando a ilusão que o aeroporto ainda tem capacidade disponível suficiente para muitas décadas.
A impossibilidade de transferir “slots” para os horários menos utilizados não é tarefa fácil, já que o aeroporto se encontra muito condicionado pela carência de “slots” nos aeroportos de origem dos voos, o que impede, na prática, a implementação de uma estratégia de gestão mais racional e condicente com o interesse da empresa concessionária e do turismo regional, consubstanciada numa distribuição mais equilibrada dos movimentos aéreos ao longo do ano.
Importa recordar que uma das razões que justificam os bons resultados turísticos do Algarve nos últimos anos, resulta, precisamente, do facto do nosso aeroporto, contrariamente ao que acontece em muitos outros concorrentes, dispor de “slots” disponíveis, o que vem permitindo responder às solicitações da procura por parte das companhias aéreas europeias, com especial destaque para as “low cost”.
Numa altura em que as atenções sobre estas matérias estão centradas em Lisboa, não só não é descabido como é oportuno chamar a atenção para os constrangimentos que fatalmente irão ocorrer, mais tarde ou mais cedo, no Aeroporto de Faro e, por essa via, no desenvolvimento económico e social da região do Algarve.
No final dos anos cinquenta, princípios dos anos sessenta, a localização do actual aeroporto esteve prevista para a zona compreendida entre as freguesias de Paderne e Tunes, ou seja, em pleno centro do Algarve, como aconselham as boas regras de um desenvolvimento planeado e de futuro.
As razões que presidiram à escolha esclarecida dos responsáveis de então, adulterada por outros interesses, traduzidos na opção Faro, devem servir para, hoje, tal como ontem, orientar os decisores dos nossos dias, visando evitar cometer os mesmos erros do passado, cujos custos, em última análise, todos acabaremos por pagar.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia