O Algarve é a Região do País onde a relação entre a Água e o Turismo é mais importante, intensa e durável. Esta realidade exigiria, só por si, uma gestão cuidadosa das disponibilidades de água, de forma a minimizar as consequências dramáticas de um cenário de seca prolongada, uma das características do clima mediterrânico, agravadas pelas alterações climáticas.
A água é não só um bem escasso, mas também fonte de vida e um recurso essencial para a manutenção dos equilíbrios ecológicos e ambientais à escala planetária. Os bens raros, especialmente quando necessários e indispensáveis à vida, tornam estes recursos ainda mais valiosos.
Entre as várias fragilidades regionais nesta matéria, sobressaem, entre outras, a necessidade de definir os microssistemas do interior, a implementação de sistemas de gestão e protecção dos aquíferos subterrâneos, a criação de planos de bacia para as ribeiras do Algarve, a construção de novas barragens e centrais de dessalinização e, sobretudo, a minimização das elevadas perdas nas redes concelhias de distribuição de água (mais de 20%).
A Política da Água deve ser a prioridade das prioridades do Algarve, mas não tem tido a tradução prática que a actual situação exige
O Algarve é um dos exemplos mais paradigmáticos da valorosidade da água, atendendo às características climatéricas da região e à necessidade em satisfazer grandes consumos, pelo menos em determinados períodos do ano, uma consequência directa das exigências agrícolas (60% do consumo), e de uma população flutuante com origem na actividade turística que chega a atingir mais do dobro da população residente.
Por tudo isto, não subsistem dúvidas quanto à necessidade de o Algarve levar a cabo investimentos estruturais, especialmente ao nível da construção de novas barragens, destinadas a armazenar as chamadas águas de superfície, actualmente muito limitadas em períodos de seca prolongada ou extrema.
A redução da capacidade de armazenamento da barragem de Odelouca, um erro político resultante da cedência a interesses ambientalistas instalados, colocou em causa a garantia de abastecimento de água em quantidade e qualidade em períodos de escassez, como o que atravessamos presentemente.
A recusa em construir a barragem da Foupana é mais um dos erros políticos graves que atentam contra o interesse público regional e nacional.
A água é um bem económico de origem natural, pelo que se justifica a transferência dos sítios onde a mesma é abundante ou onde pode ser armazenada para aqueles onde é mais escassa, permitindo, assim, criar condições para um desenvolvimento mais harmonioso, equilibrado e sustentável das actividades económicas regionais. Nestes termos, o transvaze do Pomarão para o Sistema Odeleite/Beliche deve ser concluído o mais rapidamente possível.
A água, enquanto bem finito, está sujeita às leis do mercado, pelo que a tendência será para que a mesma seja cada vez mais cara, o que vai contribuir para a perda de competitividade das empresas e da economia da região em geral. A água, todos o sabemos, é um bem universal imprescindível, que a natureza coloca ao serviço do homem e do seu bem-estar.
A Política da Água deve ser a prioridade das prioridades do Algarve. Este grau de prioridade ainda não foi suficientemente reconhecido e, portanto, não tem tido a tradução prática que a actual situação exige, já que a água não é mais um bem inesgotável.
A escassez de água e a seca são, hoje, uma ameaça à economia como um todo, justificando, por isso mesmo, no quadro da adaptação às alterações climáticas, a realização urgente de investimentos específicos, já que as chuvas normais não são suficientes para repor os níveis freáticos, nem o armazenamento em barragens.
A região carece de investimentos estruturais, nomeadamente a implementação de um Plano de Recursos Hídricos, consubstanciado, entre outras coisas, no lançamento da construção da barragem da Foupana, para além da construção de centrais de dessalinização onde tal se justifique, bem como um Programa para reutilizar, eficazmente, as águas das ETAR´s para a agricultura, regas de campos de golfe, espaços verdes e jardins.
* O autor não escreve segundo o acordo ortográfico