Galileu Galilei renunciou às suas convicções para fugir às fogueiras da Inquisição. Demonstrando uma coragem suicida para a época, terá sussurrado entredentes, para quem quis ouvir: “e, no entanto, ela move-se…”.
Perseguido e humilhado pela concepção de novas formas de pensamento, investigação e pesquisa, os ventos da história reconhecem-no, nos nossos dias, como o pai da ciência moderna e um dos génios da revolução científica do século XVII.
Galileu, em boa verdade, incorpora a eterna luta entre a rebeldia e o conformismo intelectual, entre a liberdade de pensamento, a crítica e mesmo a censura. Por outro lado, é também a demonstração cabal de que a verdade pode ser sufocada de forma assustadora, mas não para sempre.
Em tempo de crise acaba-se o crédito, a inflação aumenta, os preços sobem, o endividamento dos agentes económicos dispara, os juros crescem e as dívidas são para começar a pagar, e já
A analogia da crise com Galileu Galilei, porventura pretensiosa e deslocada, até despropositada, destina-se a evocar o carácter “reguila”, mas também corajoso, inconformista e determinado do autor, clamando em voz alta o que muitos dizem ou pensam em surdina e, muitas vezes, não são capazes de assumir frontalmente, tanto mais que o turismo é o sector económico do “politicamente correcto”, pacato, submisso, ordeiro e obediente.
As democracias fazem com que os políticos tenham horizontes de curto prazo, muito curto-prazo. Não é nenhuma crítica contra ninguém. O sistema é assim, e pronto.
Em suma, para não fugir à regra, vamos continuar a ter o melhor ano turístico de sempre, ultrapassaremos pela “enésima” vez consecutiva o número de turistas e dormidas, o volume de receitas e as taxas médias de ocupação. Melhor é impossível. Foi, é e vai continuar a ser assim todos os anos. E, no entanto, ela existe. Sim, sim, essa mesma – a crise.
Uma coisa é certa: os ciclos económicos vão continuar a ritmos verdadeiramente alucinantes. O que hoje é verdade amanhã é mentira. O sucesso irá depender, essencialmente, da capacidade das empresas para se adaptarem às novas realidades do dia a dia. As economias movem-se à velocidade da luz, ou de um click, como agora se diz.
Não admira, portanto, que os ainda defensores das ideias marxistas considerem que o capitalismo se encontra à beira do abismo, prestes a ruir a qualquer momento.
A “Economia de Mercado” é, quer para Marx quer para Keynes, os principais ideólogos dos gurus da economia moderna, a razão principal de todos os males. De acordo com Marx, a mesma deve, pura e simplesmente, ser abolida, enquanto para Keynes a economia deve ser objecto de um controlo por parte do Estado. Descobrir o mistério das crises é, porventura, um dos maiores desígnios dos grandes economistas e pensadores da actualidade. Numa coisa, porém, Marx tinha razão: o capital continuará a determinar o poder político.
Entretanto, continuaremos a conviver com avaliações subjectivas e erradas, quer de empresários, experientes ou não, quer sobretudo de responsáveis políticos, economistas, especialistas, leaders de opinião, etc. sem esquecer a emergência dos chamados chicos-espertos, sempre à espreita de uma boa oportunidade em períodos mais ou menos conturbados e, para os quais, as teorias económicas de Marx ou Keynes representam zero.
Em tempo de crise acaba-se o crédito, a inflação aumenta, os preços sobem, o endividamento dos agentes económicos dispara, os juros crescem e as dívidas são para começar a pagar, e já. Em última análise, a recessão acabará por acertar definitivamente as contas, quer das instituições financeiras, quer dos empreendedores e, principalmente, dos consumidores finais.
Os reflexos no turismo são mais que evidentes: O transporte aéreo low cost vai evoluir para novas estratégias, filosofias e conceitos; os operadores turísticos darão lugar a novos canais de comercialização e distribuição de férias; os hotéis terão de ser capazes de se ajustar permanentemente às mudanças, num mundo onde o futuro aconteceu hoje e o presente já pertence a um passado distante.
Embora rejeitada, ignorada, escondida ou dissimulada, a crise existe e vai continuar a andar por aí. A crise deixou de ser a excepção para passar a ser a regra. Desmentida hoje, reconhecida amanhã, ludibriada por outros, mas como diria Galileu Galilei; e, no entanto, ela existe.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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