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Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, Programadora Cultural
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“O Labirinto da Saudade. Psicanálise Mítica do Destino Português é um livro admirável, vocacionado para ser acolhido na história do pensamento em Portugal.” Miguel Real
Eduardo Lourenço nasceu a 23.5.1923 e neste ano comemora-se o Centenário do seu nascimento pelo que não queria deixar terminar 2023 sem fazer referência a tão importante personalidade da cultura portuguesa e à Biblioteca de que é patrono. Filho de um Oficial do Exército frequentou o Liceu da Guarda e terminou os seus estudos secundários no Colégio Militar em Lisboa. Licenciou-se em Ciências Histórico-Filosóficas na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Foi professor assistente nessa mesma Faculdade e iniciou a sua colaboração em revistas como a Vértice, onde se estreou com um poema e onde foi publicando ensaios, mais tarde reunidos no primeiro livro: Heterodoxia que foi publicado em 1949.
Em 1953 deu-se o início do seu exílio voluntário “por estar desapontado com a vida académica portuguesa. A partir de 1954, leccionou em universidades estrangeiras nas cidades de Hamburgo, Heidelberg, Montpellier, São Salvador da Baía, Grenoble e Nice.”
Apesar do seu afastamento manteve-se atento à realidade portuguesa e participou na vida política do país através da sua obra escrita e até do apoio a candidaturas políticas.
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Entre 2002 e 2012 Eduardo Lourenço torna-se administrador não executivo da Fundação Calouste Gulbenkian, e em 2013, após a morte da mulher, passa a viver em Lisboa.
Foi Conselheiro de Estado, entre 2016 a 2020, por nomeação do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Após a sua morte em Dezembro de 2020 o mesmo presidente nomeou para o seu lugar a escritora Lídia Jorge, que no mês passado foi a vencedora da 19.ª edição do Prémio Eduardo Lourenço.
A bibliografia do “maior e mais livre pensador do país” soma perto de 40 títulos, todos eles detentores de “um olhar diferente e inquietante” sobre a realidade, num percurso iniciado em 1949. Muitos trabalhos de cariz analítico e científico foram produzidos sobre a obra de Eduardo Lourenço (de José Gil, Maria Manuela Cruzeiro, Maria Manuel Baptista, Miguel Real, entre outros), mas também o foram sobre a sua abordagem filosófica à cultura portuguesa. Existem textos maravilhosos de quem conheceu bem Eduardo Lourenço tal como Anabela Mota Ribeiro, Guilherme d’Oliveira Martins e José Tolentino de Mendonça. O Centro de Estudos Ibéricos (CEI) considera Eduardo Lourenço como o intérprete maior das questões da cultura portuguesa e universal e como um dos mais prestigiados intelectuais europeus.
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O seu legado é imenso e ainda está em aberto, pois há muitos inéditos por publicar. Alguns dos seus últimos textos foram publicados na Revista Nova Águia. Escreveu um dos livros mais emblemáticos e caracterizadores da identidade portuguesa, O Labirinto da Saudade, e foi considerado um heterodoxo do início ao fim, um pensador curioso e sistemático até à sua morte aos 97 anos.
A Biblioteca Municipal Eduardo Lourenço situada na Guarda, distrito de onde é natural o ensaísta e filósofo (Aldeia de S. Pedro de Rio Seco – Almeida), passou a ter o seu nome no dia 27 de Novembro de 2008 e contou com a presença e as palavras de Eduardo Lourenço na cerimónia de inauguração. Eeste espaço ainda passou a ser mais seu, porque Eduardo Lourenço doou grande parte da biblioteca particular à nova Biblioteca.
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À data da inauguração a Biblioteca dispunha de um fundo documental com cerca de 100.000 volumes, aos quais foram acrescentados 3000 volumes oferecidos por Eduardo Lourenço e que se encontram disponíveis na Sala de Adultos, não podendo no entanto ser requisitados para empréstimo domiciliário. Até ao final da sua vida continuou a doar livros à Biblioteca tendo chegado aos 8000 volumes.
No dia 27 de Novembro de 2008 foi inaugurada a Exposição e foi lançado o Catálogo Um (e)terno olhar: Eduardo Lourenço, Vergílio Ferreira e a Guarda.
“Este Catálogo é sentidamente projectado para a vida e obra do autor de Labirinto da Saudade, mas também para a vida e obra de Vergílio Ferreira, amigo fraterno a quem Eduardo Lourenço se quis indissoluvelmente ligar”. Sem dúvida duas personalidades ímpares, oriundas do Distrito da Guarda. Na programação do dia da inauguração constou também a apresentação do livro Leituras de Eduardo Lourenço: um labirinto de saudades, um legado com futuro coordenado por Virgílio Bento e que representa um invulgar trabalho de pesquisa que nenhum investigador da obra de Eduardo Lourenço pode ignorar.
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Não estive presente na inauguração da Biblioteca, mas conheci este espaço em 2012 quando apresentei um trabalho no Seminário: Territórios, Sociedades e Culturas em Tempos de Mudança e fui uma das investigadoras apoiadas pelo Centro de Estudos Ibéricos (CEI).
Eduardo Lourenço foi o mentor do CEI. Este Centro nasceu da sua ideia apresentada na sessão solene comemorativa do Oitavo Centenário do Foral da Guarda, em 1999. Precisamente um ano depois de ter lançado o desafio, ou seja, a 27 de Novembro de 2000, foi celebrado entre a Câmara Municipal da Guarda, a Universidade de Coimbra e a Universidade de Salamanca o Protocolo para a criação do CEI. Desta forma ficaram unidas as duas Universidades mais antigas da Península (Coimbra e Salamanca).
O Centro de Estudos Ibéricos instituiu, em 2004, o Prémio Eduardo Lourenço, em homenagem ao seu mentor, patrono e Director Honorífico, destinado a galardoar personalidades ou instituições com intervenção relevante no âmbito da cultura, cidadania e cooperação ibéricas.
cerimónia de inauguração. Eeste espaço ainda passou a ser mais seu, porque Eduardo Lourenço doou grande parte da biblioteca particular à nova Biblioteca.
O CEI tem perpetuado a memória deste nome maior da cultura ibérica e universal que marca o século XX português.
*A autora escreve de acordo com a antiga ortografia