Mário Vaz, presidente da Vodafone Portugal, afirmou em conferência de imprensa que a operadora de telecomunicações foi alvo de um “ato terrorista”, mas afirma que não foi pedido resgate. A Vodafone está a trabalhar para repor todos os serviços os mais rápido possível e espera ter o 4G reposto esta tarde.
Na conferência de imprensa, a Vodafone confirmou limitações no INEM e na rede Multibanco, bem como em contas bancárias validadas por SMS. Segundo Mário Vaz, o ataque limitou as comunicações de várias empresas e prestadores de serviços básicos, como o Multibanco, o INEM, várias corporações de bombeiros e serviços postais.
De acordo com a empresa, um ataque dirigido à rede de telecomunicações provocou um apagão generalizado nas redes da Vodafone às 21h desta segunda-feira – e a operadora de telecomunicações admite que ainda terá trabalho pela frente até recuperar a estabilidade dos serviços móveis e fixos.
“O ataque foi dirigido à rede. O objetivo foi claramente deixar indisponível o serviço da nossa rede”, referiu Mário Vaz, na conferência de imprensa. E frisou: “Foi ao mesmo tempo um ato terrorista e um ato criminoso”. O ataque dirigiu-se apenas à Vodafone Portugal, nenhumas das outras empresas do grupo foram atacadas.
Depois “da interrupção abrupta da quase totalidade dos serviços” que se registou às 21h de segunda feira, as equipas da Vodafone lançaram um plano de contingência para reabilitar as comunicações dos clientes domésticos e empresariais nas comunicações de voz.
Mais de quatro milhões de clientes de rede móvel foram afetados – e esses foram a prioridade da recuperação da rede, mas o ataque também afetou as comunicações fixas.
Mário Vaz reiterou ainda que o ataque não expôs dados pessoais de clientes e empresas, e fez questão de informar que foram os serviços de rede e não os sistemas informáticos que suportam o negócio que foram atacados.
Apesar da descrição pública da extensão do ataque, a operadora optou por não fornecer detalhes sobre a tipologia de ataque ou eventuais pistas relacionadas com a autoria. Mário Vaz informa ainda que a operadora não recebeu qualquer pedido de de resgate.
“Estamos a refazer tudo o que foi refeito. É um trabalho moroso, mas tem de ser feito. Acreditamos que hoje (terça-feira) à tarde vamos recuperar os comunicações de 4G”, prometeu Mário Vaz. Mas o próprio gestor admite que “há um elevado grau de incerteza” na recuperação da rede. Na Vodafone, há a convicção de que o ataque foi desenhado para dificultar os trabalhos de recuperação.
A Vodafone já notificou, e está a colaborar, a Autoridade Nacional das Comunicações, o Centro Nacional de Cibersegurança e a Polícia Judiciária, e também entrou em contacto com os operadores concorrentes, que mostraram disponibilidade para cooperar. Até à data, a Vodafone não recorreu à infraestrutura da rede, mas admite poder fazê-lo caso seja necessário e tendo em conta a demonstração de disponibilidade de outros operadores, entre outros.
Às 22h00 de segunda-feira, a rede da Vodafone sofreu um apagão que demorou uma hora a começar a ser gradualmente revertido. Durante esta hora os clientes não tiveram acesso nem à rede móvel e parte da rede fixa, e ficaram mesmo impedidas de comunicar com os serviços de assistência da operadora.
INEM, bancos, multibanco e bombeiros foram afetados e são prioritários
“Uma das prioridades absolutas são os serviços essenciais que estão dependentes da nossa redes: o INEM, várias corporações de bombeiros, e alguns carteiros”, explicou Mário Vaz.
Além disso, o apagão também afetou o sistema de SMS, limitando os serviços de empresas que comunicam com este tipo de mensagens nas relações com clientes. Os serviços de autenticação de contas on-line de alguns bancos podem estar a operar de forma limitada.
No caso INEM, o serviço de comunicações acabou por ser reposto com soluções de contingência, que a Vodafone garante que irá disponibilizar apenas enquanto não retomar os serviços convencionais.
No caso do Multibanco, que é detido pela SIBS, a falha também terá sido generalizada inicialmente. A operadora recuperou, recorrendo a comunicações de contingência que já existiam, e nas caixas automáticas que comunicam por rede sem fios, optou-se por estabelecer ligações através da terceira geração das redes móveis (3G).
Mário Vaz informou ainda que os serviços de VPN, que permitem suportar comunicações cifradas entre grupos de utilizadores, também só agora estão a ser recuperados. O serviço OneNet é um dos afetados – e produziu consequências a clientes empresariais que estão no estrangeiro.
Depois da ocorrência, a Vodafone logrou recuperar as comunicações de voz através das redes móveis de segunda geração (2G). Por volta da meia-noite de segunda-feira foram restabelecidas as comunicações móveis de terceira geração (3G) na Madeira – e esta manhã já havia 3G em todo o país, apesar de registadas várias instabilidades e falhas.
O ataque também afetou a rede fixa à escala nacional. Na manhã de terça-feira foram restabelecidos os serviços de TV e Internet fixa. “As comunicações de voz fixa serão a prioridade de seguida”, adiantou Mário Vaz, apontando uma nova meta para o restabelecimento desse serviço.
Mário Vaz não acredita que Portugal esteja particularmente vulnerável em matéria de ciberataques, apesar de nas últimas semanas teve havido várias empresas e instituições a serem atacadas: grupo Impresa (dona do Expresso), Assembleia da República, Grupo Cofina e TAP.
A Vodafone para já ainda não fez contas aos prejuízos, seus e dos seus clientes. “Avaliar os prejuízos não é o nosso foco. A nossa prioridade absoluta é repor os serviços aos nossos clientes”, sublinhou Mário Vaz, que iniciou a conferência de imprensa, com o pedido de desculpa pelos danos provocados.
Mário Vaz explicou ainda que a recuperação da rede da Vodafone vai implicar intervenções graduais e sequenciais, em diferentes módulos de rede que estão articulados entre si. O que torna o processo complexo, moroso, e eventualmente imprevisível.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL