O verão de 2021 já terminou e com ele a época alta do turismo. Ainda haverá uns dias de calor à nossa frente – com os quais o sector está a contar – mas, grosso modo, o tempo para fazer contas já passou. E o turismo recuperou, sem dúvida alguma, como mostram os últimos dados e os responsáveis. Porém, ainda há muito a fazer até chegar aos níveis de 2019, período pré-covid.
Os últimos dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) dizem apenas respeito ao mês de julho, mas mostram uma grande recuperação face a 2020: só no alojamento Portugal passou de 1 milhão de hóspedes e 2,6 milhões de dormidas para 1,6 milhões de hóspedes e 4,5 milhões de dormidas.
Tendo em conta os dados disponíveis, e as previsões, para Ana Jacinto, secretária-geral da AHRESP (Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal), “os primeiros sinais são de recuperação e o sentimento que impera no mercado é animador”.
E foi esse o sentimento que o Expresso encontrou ao contactar com a associações de turismo nas várias regiões do país. Por exemplo, no Alentejo, além dos dados já conhecidos de julho, o Vítor Silva da Agência Regional de Promoção Turística do Alentejo (ARPTA), disse que se os dados já incluíssem o mês de agosto “a recuperação seria ainda mais expressiva em termos de dormidas e ainda mais em termos de proveitos”, segundo o contacto que, enquanto presidente da associação, tem com o tecido empresarial na região.
Voando até ao Funchal, o secretário regional de Turismo e Cultura e presidente da Associação de Promoção da Madeira (APM), Eduardo Jesus, afirmou que agosto “teve uma procura ainda mais acentuada que a verificada em julho, pelo que o verão de 2021 é sem qualquer dúvida, muito positivo”. E de volta ao continente, foi esta a opinião partilhada também por João Fernandes, presidente da Associação de Turismo do Algarve (ATA), que diz que o verão “superou as expectativas”.
Também no Centro a atividade “superou, na globalidade, as expectativas”. Pedro Machado, presidente do Turismo do Centro, indicou ao Expresso que “nestes últimos meses, vimos os portugueses a redescobrirem o interior, a preferirem o turismo ativo, o turismo de natureza, além das praias oceânicas, as nossas praias fluviais, as nossas barragens, mas também os nossos trilhos pedestres, as nossas ecopistas, a nossa gastronomia”, tendo ajudado a região a crescer.
SETOR TEM MUITO A AGRADECER AOS PORTUGUESES
Foi mesmo o mercado nacional que impulsionou o ano de 2021, tal como tinha acontecido em 2020. Por todo o território continental e na Madeira os números não enganam: os portugueses redescobriram o seu país. É assim que Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de (TPN) caracteriza esta tendência: “foi uma boa oportunidade para os portugueses perceberem o porquê da fama internacional que Portugal ia conquistando nos últimos anos (…) perceberam que bem perto de casa conseguem fazer férias com uma grande diversidade”.
Para a Madeira o mercado nacional cresceu, inclusive, acima de 2019. Só em julho o mercado nacional atingiu “o máximo histórico daquele mês na Madeira”, a nível de dormidas.
Para a AHRESP “é importante reconhecer a importância que o turismo interno teve na manutenção de um nível mínimo de atividade no último ano e meio e será importante aos decisores políticos avaliar uma aposta na manutenção deste mercado”.
Apesar de reconhecerem a importância que os portugueses tiveram para o setor nos últimos dois verões, as regiões anseiam por mais. No Algarve aguarda-se pelo calor dos meses de setembro e outubro e no Porto esperam o regresso dos que se “apaixonaram” pela região com a Liga dos Campeões (realizada em maio).
NÍVEIS PRÉ-COVID AINDA ESTÃO LONGE, MENOS NA MADEIRA
A atividade turística do verão de 2021, ainda que tenha apanhado a aceleração das campanhas de vacinação em vários países, ainda foi marcada pela pandemia de covid-19. E, por isso, acabou por ficar aquém dos valores de 2019, algo que seria muito difícil pois como recorda João Fernandes, “2019 foi o melhor ano de sempre para o turismo”.
Tal como indicou ao Expresso Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal: “À semelhança do ano passado, é expectável que se verifique uma quebra na atividade acima dos 50% [face a 2019].”
E os dados comprovam a sua declaração. Segundo o INE, em julho o número de hóspedes diminuiu 42,5% e o de dormidas 45,0% face ao mesmo mês em 2019 (-50,1% e -52,6%, respetivamente, em junho). O mesmo foi reconhecido por Rita Marques, secretária de Estado do Turismo na conferência de turismo sustentável “A World for Travel”: “No plano de reativação do turismo perspetivámos este ano ter 50% das receitas de 2019, o que se deverá concretizar, muito em linha com os países europeus, e até tivemos um verão melhor que pensávamos.”
E quase todas as regiões do país ficaram aquém dos níveis pré-covid. No Alentejo, por exemplo, a ARPTA estima que “se nada de novo vier a acontecer, [a região] encerre na casa dos dois terços do que foi registado em 2019”.
Mas a exceção chegou à ilha da Madeira onde, pelo menos no mês de agosto, o movimento de passageiros nacionais, no Aeroporto Cristiano Ronaldo, superou 2019, tendo o tráfego internacional “ficado a apenas 6%”, segundo o secretário regional. Ou seja, tendo em conta estes dados, mesmo que o turismo na Madeira esteja ainda ligeiramente abaixo dos níveis pré-covid, já se encontram perto.
Apesar de os níveis pré-pandemia ainda estarem longe na maioria do país, a secretária-geral da AHRESP mantém-se positiva e espera que se chegue lá já em 2022 “num cenário mais otimista ou em 2023/2024 num cenário mais realista”. Metas essas que vão ao encontro das expectativas das várias regiões.
O QUE FALTA FAZER?
Uma coisa é certa: é preciso regressar à tão desejada normalidade e devolver a confiança a quem viaja – pelo menos, é esta a opinião partilhada por todas as associações.
Mas há mais. Por exemplo, na região Norte, estão a aguardar a decisão da TAP quanto ao plano estratégico da companhia para o Porto. Se a decisão não for a esperada – isto é, que a TAP dê menos importância ao Aeroporto Sá Carneiro – “a região tem de reagir com outras soluções, continuar a trabalhar com outras companhias”, disse Luís Pedro Martins. Isto porque a TAP transporta alguns mercados essenciais para a região, como o brasileiro e o norte-americano.
Adicionalmente, a CTP apelou ao Governo para que cheguem, com urgência, às empresas os “apoios inerentes aos programas e investimentos já aprovados e anunciados” e que sejam fornecidos às empresas “instrumentos” para voltarem a investir e a contratar profissionais.
No geral, passo a passo aproximamo-nos dos valores registados de 2019, mas a AHRESP deixou um aviso: “a crise não acabou para as empresas do alojamento turístico e da restauração e similares e vai perdurar para além da crise pandémica propriamente dita e é por isso fundamental que se mantenham os apoios e os incentivos ao consumo”.
Notícia exclusiva do parceiro do jornal Postal do Algarve: Expresso