Um projeto-piloto de um porto de pesca autossustentável, que permita a reutilização de produtos ou o aproveitamento de resíduos, está a ser desenvolvido em Lagos, no Algarve, promovido pela Universidade de Coimbra (UC) em colaboração com a Docapesca.
Integrado no programa de economia azul UCMar e desenvolvido pelo laboratório Marefoz da UC, o “GREENFISHINGPORT: Projeto-Piloto de Porto de Pesca Autossustentável” visa desenvolver um modelo experimental de gestão ambiental para o porto de pesca de Lagos e consiste em quatro atividades prioritárias, desde logo, como ponto de partida, a realização de um diagnóstico da eficiência energética e sustentabilidade ambiental daquela infraestrutura.
O projeto, de acordo com informação a que a agência Lusa teve acesso, inclui ainda um plano de ação para a sustentabilidade do porto de pesca de Lagos, o desenvolvimento de novos produtos a partir dos resíduos e efluentes e a definição do modelo de gestão ambiental, aqui com a participação da entidade gestora dos portos de pesca e lotas nacionais, comunidade piscatória, empresas e comunidade científica.
“Pretendemos desenvolver um modelo de gestão de portos de pesca que promova a sustentabilidade ambiental, mas também a sustentabilidade económica do porto”, disse Tiago Verdelhos, coordenador do projeto e investigador do laboratório Marefoz.
Depois do diagnóstico inicial, os investigadores desenvolvem um relatório com medidas “que promovam a sustentabilidade” e que, de acordo com Tiago Verdelhos, podem passar pela redução de consumo energético, aproveitamento de produtos que podem ser reutilizados – por exemplo, “a água que é aproveitada para um determinado fim, pode ser reaproveitada para outro” – e a valorização dos resíduos produzidos.
“No decorrer de atividade de um porto de pesca há sempre resíduos de vária ordem, há resíduos plásticos, biológicos, há resíduos de vários tipos. Podemos apresentar ideias que possam servir para valorizar esses resíduos”, enfatizou o investigador da Universidade de Coimbra.
Uma das ideias, continuou, ainda em estudo e avaliação, passa por poder usar alguns dos resíduos biológicos para produção de farinhas de peixe: “Mas é completamente inviável pensar em viabilizar os resíduos de um porto em particular, se é pouca quantidade não compensa ir lá buscá-lo, nenhuma empresa vai buscar num único porto”, observou Tiago Verdelhos.
“Mas a nível da região ou do país já pode ter interesse, é este tipo de medidas que temos de avaliar e poderemos sugerir. Neste caso, terá de ser criado um circuito [por vários portos], às vezes não é a questão do material em si, é como se organiza e como se gere”, argumentou o investigador.
O trabalho em curso dos investigadores da UC contempla uma parceria com a Docapesca, presente no apoio aos cientistas “desde a fase de candidatura” do GREENFISHINGPORT.
“Permite-nos fazer toda a avaliação da atividade daquele porto de pesca, ter acesso a um conjunto de dados necessários aos estudos e é à Docapesca a quem vamos, depois e em primeira mão, apresentar as medidas”, afirmou.
“O grande objetivo é que testem estas medidas inicialmente no porto de pesca de Lagos e que, depois, no decorrer dessa implementação, as que forem exequíveis e validadas, possam vir a ser implementadas noutros portos de pesca do país”, notou Tiago Verdelhos.
O investigador da UC lembrou, no entanto, que no que concerne à sustentabilidade ambiental, a Docapesca “já tem algumas medidas implementadas, como a utilização da iluminação ‘led’”, disse.
Outras medidas terão de ser avaliadas em cada local, porque há casos particulares: “Chegamos a determinado porto e têm produção de gelo. Outro já não tem e compram o gelo noutra empresa ou o equipamento de produção é mais moderno num sítio, mais eficaz e gasta menos. Este tipo de pormenores pode variar, mas há coisas que são transversais”, frisou Tiago Verdelhos.
O projeto GREENFISHINGPORT tem ainda como parceiro a Agência de Desenvolvimento do Barlavento algarvio e é cofinanciado por fundos europeus do MAR2020.