Em Portugal, pagar renda sem obter o respetivo recibo é uma situação que continua a afetar muitos inquilinos, criando dúvidas e incertezas sobre os direitos que lhes assistem. Apesar de a lei ser explícita na obrigação de os senhorios emitirem recibos de pagamento, muitos arrendatários deparam-se com dificuldades em garantir o cumprimento desta exigência. Mas, afinal, o que pode fazer um inquilino quando o senhorio se recusa a emitir o recibo?
A obrigação legal do senhorio
Segundo a legislação portuguesa, todos os senhorios estão obrigados a emitir um recibo que comprove o pagamento da renda, seja este em formato físico ou digital. Desde 2015, para senhorios com rendimentos anuais de arrendamento superiores a 877,62 euros, a emissão do recibo deve ser feita obrigatoriamente de forma eletrónica, através do Portal das Finanças. O incumprimento desta obrigação pode acarretar penalizações para o senhorio, como coimas aplicadas pela Autoridade Tributária (AT).
O que fazer se o senhorio não emite recibo?
Para os inquilinos que se veem nesta situação, existem várias formas de agir e proteger os seus interesses:
1. Conservar provas de pagamento
É crucial que o inquilino mantenha registos de todos os pagamentos efetuados, sobretudo quando o senhorio não emite recibo. Transferências bancárias, talões de depósito ou outros comprovativos de pagamento tornam-se documentos essenciais. Estes registos podem servir como prova de que as rendas estão a ser pagas, especialmente em caso de conflito ou inspeção fiscal.
2. Solicitar formalmente o recibo
O inquilino pode enviar um pedido formal ao senhorio, seja através de carta registada ou e-mail, solicitando a emissão dos recibos de renda em falta. Esta comunicação deve ser clara, direta e datada, para que fique devidamente registada a tentativa de resolver o problema de forma amigável. Esta iniciativa também serve como prova de que o inquilino procurou agir de acordo com a lei.
3. Denunciar às Finanças
Se, após o pedido formal, o senhorio continuar a recusar emitir o recibo, o inquilino pode denunciar a situação junto da Autoridade Tributária. A denúncia pode ser feita de forma anónima, protegendo a identidade do inquilino, enquanto a AT avalia a situação. Caso se comprove que o senhorio está a fugir às suas obrigações fiscais, poderão ser aplicadas coimas e sanções.
4. Consultoria jurídica
Em casos mais graves, quando o senhorio persiste na recusa, ou se a situação se arrastar por um período prolongado, pode ser necessário recorrer à ajuda de um advogado especializado em arrendamento. O aconselhamento jurídico pode garantir que os direitos do inquilino são plenamente respeitados. Alternativamente, as associações de defesa dos inquilinos podem oferecer apoio e orientação sobre como agir.
Embora possa ser frustrante e desconfortável lidar com um senhorio que não cumpre as suas obrigações legais, os inquilinos têm ao seu dispor várias ferramentas legais para se protegerem. Desde conservar provas de pagamento a denunciar a situação às autoridades competentes, existem formas eficazes de assegurar que os direitos dos arrendatários são respeitados.
A emissão do recibo de renda não é apenas uma obrigação legal para os senhorios; é também uma questão de transparência e de justiça fiscal. Para um mercado de arrendamento mais equilibrado e justo, é fundamental que todas as partes cumpram com as suas responsabilidades legais. Como bem lembra a legislação, o cumprimento das obrigações fiscais não beneficia apenas o Estado, mas também protege tanto o inquilino quanto o senhorio.
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