O ritmo crescente com que imigrantes estão a lançar os seus próprios negócios em Portugal está a gerar preocupação entre especialistas e associações de apoio ao empreendedorismo. Segundo Andréa Santos, presidente da associação Empreendedores Vencedores, os imigrantes, sobretudo brasileiros, estão a abrir empresas apenas três ou quatro meses depois de chegarem ao país, um comportamento que a empresária considera ser “um risco muito grande”.
“A inserção dos imigrantes no mercado empreendedor tem sido cada vez mais rápida. As pessoas ou estão com mais necessidade ou com mais coragem”, afirmou Andréa Santos, líder desta associação que apoia pequenos e médios empresários imigrantes, atualmente com cerca de 700 membros.
A empresária, ela própria imigrante brasileira, chegou a Lisboa em 2017 e testemunhou uma mudança significativa no perfil dos novos empreendedores. “As pessoas começavam a lançar-se no mercado português depois de dois ou três anos em Portugal. Agora, vejo pessoas que, estando aqui há três ou quatro meses, já se lançam no mercado empreendedor. É muito rápido”, refere.
Embora reconheça a coragem e o desejo de prosperar que impulsiona muitos imigrantes, Andréa alerta que essa aceleração “representa um risco muito grande”. A presidente da associação sublinha que, muitas vezes, os imigrantes vendem todos os seus bens nos países de origem para investir em Portugal. Se o negócio falhar, podem ficar sem qualquer suporte financeiro, tanto no novo país como no de origem, ficando numa situação de vulnerabilidade.
Por esta razão, Andréa Santos tem insistido na importância de uma análise cuidada dos investimentos. “Temos falado muito sobre isto no grupo. Aconselhamos sempre os imigrantes a manter um fundo de maneio, a não investirem tudo o que têm, a começarem os negócios devagar, a testarem o mercado antes de avançarem para um investimento maior.”
Fatores que impulsionam o empreendedorismo imigrante
Dois fatores principais estão, segundo a empresária, a contribuir para esta tendência de aceleração na criação de negócios. Em primeiro lugar, o aumento significativo da comunidade brasileira em Portugal. “Os brasileiros têm menos medo de arriscar,” destaca Andréa, frisando que a nacionalidade é a que mais predomina entre os empreendedores da associação. Em segundo lugar, desde 2020, houve uma proliferação de grupos e entidades que oferecem apoio e informação aos imigrantes que desejam empreender.
“Em 2017, praticamente só existia o Alto Comissariado para a Imigração a oferecer um curso de como montar um plano de negócios em Portugal. Agora, há muitos grupos com o mesmo objetivo”, nota a presidente da associação.
Apesar desse apoio crescente, Andréa sublinha que nem sempre os imigrantes obtêm sucesso nos seus negócios. “Há muitos casos de insucesso, e alguns repetidos. As pessoas às vezes não aprendem com os seus próprios erros e acabam por desistir, voltando ao mercado de trabalho formal”, observa.
Mesmo assim, a empresária considera “interessante” o facto de muitos empreendedores não se desligarem completamente dos grupos de apoio, mesmo após o fracasso. “Eles mantêm-se nos grupos, a aprender, como se sentissem que algo faltou para o sucesso. Há uma procura contínua por mais conhecimento.”
Educar para o sucesso
A missão da associação Empreendedores Vencedores é clara: formar empreendedores que estejam preparados para os desafios do mercado português. Além de oferecer um conjunto de aulas pagas para ajudar os empresários a estruturarem-se melhor, a associação também promove um programa de palestras com especialistas em várias áreas do empreendedorismo. Estes especialistas disponibilizam ainda uma hora de consultoria gratuita para esclarecer dúvidas dos participantes.
“O nosso objetivo não é apenas construir pontes comerciais, mas também criar ligações entre palestrantes, profissionais e empreendedores”, conclui Andréa Santos, sublinhando a importância de uma formação sólida para o sucesso no mundo dos negócios.
Num contexto de crescimento do empreendedorismo imigrante em Portugal, é fundamental que esta expansão seja acompanhada de prudência e de uma análise rigorosa das condições de mercado. Embora o risco faça parte de qualquer aventura empresarial, a preparação e o conhecimento são os maiores aliados para evitar quedas fatais.
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