Elon Musk é uma das pessoas mais ativas no Twitter e muito engraçado de se seguir. A 9-4-22, ele tweetou: “69,42% das estatísticas são falsas.” A maioria dos tweets são sobre o Tesla e a SpaceX, mas recentemente também tem opinado acerca da guerra na Ucrânia. O vice-primeiro-ministro da Ucrânia, Mykhailo Federov, desafiou-o a enviar para lá Starlink, um dispositivo que permite uma ligação via satélite, com internet de alta velocidade. Os aparelhos chegaram em 24 horas, e Federov confirmou com uma fotografia e agradeceu, via Twitter. Foi uma vantagem para a Ucrânia, que depende muito do que comunica pelas redes sociais para apoio internacional, e seria um golpe duro se a Rússia lhe cortasse este recurso.
Outro tema forte de Elon Musk é a liberdade de expressão. Isto percebe-se não só pelos seus tweets, mas pelas entrevistas que tem dado. Recentemente a conta de um site de sátira chamada “Babylon Bee” foi suspensa no Twitter. Isto acontece frequentemente com contas mais politicamente à direita. Elon Musk foi entrevistado por este site e é seu simpatizante. Talvez este acontecimento tenha alguma coisa a ver com Elon Musk ter comprado 9,2% das ações do Twitter, no dia 4 de Abril. Isto causou uma avalancha de comentários, perguntas e curiosidade no Twitter. #Elonmusk ficou ainda mais viral. Ainda mais surpreendidos ficámos quando soubemos que no dia 16 Musk tinha feito uma oferta para comprar toda a empresa por $43 mil milhões, quando vale no máximo $27 mil milhões. Em vez de levar esta proposta a votos com os acionistas, a direção do Twitter tentou recusar, usando um “poison pill”. Agora Musk parece ter chegado a um acordo com a direção.
Parece que Musk vai conseguir. Sabemos que isto toca em assuntos importantes e quentes, senão a comunicação social “mainstream” não teria entrado num pânico e caos total.
Musk devia usar o dinheiro de outra forma. Devia, em vez disso, combater a pobreza, disseram. Parece incomodar alguns o capitalismo em si: que Elon Musk tenha tanto dinheiro que escolha livremente como o usar. Incomoda que ele invista numa causa que é importante para ele (e talvez não para outros): a liberdade de expressão.
Um multimilionário não deveia “controlar” um meio de comunicação? Usa-se o termo multimilionário como se fosse um insulto, uma palavra feia. E porque é que um multimilionário não pode ser dono de uma empresa de comunicação? Engraçado, quase todas a companhias de media nos Estados Unidos pertencem a multimilionários: Michael Bloomberg tem a Bloomberg LP, que inclui a Business Week magazine, Rupert Murdoch tem The Wall Street Journal, Jeff Bezos tem The Washington Post, para dar alguns exemplos. Cerca de seis conglomerados são donos de 90% dos jornais, telejornais e estúdios de filmes, e todos são mais à esquerda politicamente. Seria o governo mais de confiança?
Há três “braços” de poder, pelo menos é assim nos Estados Unidos: o Executivo (Presidente), o legislativo (Senado) e o judicial (Tribunal). Diz-se que a comunicação social tem tanto poder que é como que um “quarto braço”. No entanto, deve manter-se independente dos outros poderes para funcionar bem. Disse Malcolm X: “Os media são a entidade mais poderosa na Terra. Têm o poder de tornar os inocentes culpados e os culpados inocentes, e isso é poder. Porque controlam as mentes das massas. A imprensa é tão poderosa no seu papel de criar imagens que pode fazer o criminoso parecer vítima e a vítima parecer criminosa.”
O jornalista Max Boot, indignado, afirmou no Twitter: “Estou assustado com o impacto na sociedade e na política se Elon Musk comprar o Twitter. Ele parece acreditar que nas redes sociais vale tudo. Para a democracia sobreviver, precisamos de mais moderação de conteúdo, não menos.” As principais queixas têm sido que com Elon Musk a plataforma passará mais “desinformação” e “extremismo de direita”.
O que é “desinformação”? Quem decide o que é informação correta e incorreta? Uma coisa é penalizar um crime: uma ameaça, pornografia infantil, etc. Outra coisa é sistematicamente “moderar” apenas uma perspetiva dum de assunto atual, de um candidato político, de uma ideia política.
O Project Veritas, um recém-formado projeto jornalístico, publicou um video de um engenheiro do Twitter, Abhinav Vadrevu, a explicar o que é um “shadow ban”, banidos de sombra. Ele explica: “Eles não sabem que foram banidos, pois continuam a postar, mas ninguém vê o seu conteúdo. Eles acham que ninguém está a interagir com o seu conteúdo, quando na realidade ninguém está a vê-lo. Desliga-se os recursos (features). Eles ainda veem tudo, pode-se fazer like, pode-se fazer retweet, mas no final do dia ninguém vê o que estamos a fazer. Essa informação é deitada fora. É má publicidade se as pessoas descobrirem que estamos a fazer shadow ban com elas. Não parece ético.”
No dia 8 de janeiro de 2021, o Twitter suspendeu permanentemente a conta de quem ainda exercia funções de Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. O Twitter fez de juiz e de tribunal, a julgar o caso da invasão do Capitólio no dia 6 por cidadãos. Só agora esses casos estão a ser ouvidos em tribunal. Nunca se provou ligação de qualquer ação de Trump com quem invadiu a Casa Branca. Quem julgou “incitação à violência” foi o Twitter. No entanto, Putin continuou sempre a postar livremente no Twitter, mesmo enquanto iniciava a sua invasão à Ucrânia. Vários líderes taliban continuam a postar livremente no Twitter. Muitos crimes até são planeados, combinados e “incitados” pelo grupo violento Antifa no Twitter. Entre outros exemplos.
Muitos acusam Elon Musk de querer colocar Trump de novo no poder em 2024. Elon Musk não faz parte da campanha nem da equipa de Trump, nem se manifestou nunca a seu favor. É legal Trump concorrer de novo à presidência em 2024, se assim quiser? Sim. É legal Trump, ou qualquer outro político, usar redes sociais para a sua campanha? Sim, e hoje em dia estas serão dos meios mais importantes para o fazer. Então, mesmo que essa fosse a intenção de Elon Musk, beneficiar Trump, que não parece ser, qual seria o problema? Mark Zuckerberg, que controla 12,8% de Facebook, Instagram e Whatsapp, investiu $419 milhões antes da eleiçãode 2020 para atrair eleitores democratas. Não parece haver escândalo aí.
“Moderar” a “desinformação” não equivale a censura? Não se está a moderar ações criminosas, mas sim uma conceção ideológica ou política diferente. A atriz Kathy Griffin publicou uma imagem grosseira e violenta em que segura a cabeça de Trump decapitada e a pingar sangue enquanto este ainda era Presidente. Não é incitação à violência? Contra Trump, tudo era possível.
Informação incorreta não se combate com censura, mas com informação correta. Quem é árbitro da verdade e a possui por completo? Quem pode decidir para todos os outros o que é correto e verdade? As ideias debatem-se e vencem-se com argumentos, contra-argumentos, diálogo e consenso.
Num Ted Talk, Elon Musk disse: “Alguém me perguntou o que é liberdade de expressão. Um bom sinal de que existe é alguém de quem não gostamos poder dizer algo de que não gostamos. Se esse é o caso, temos liberdade de expressão. É mesmo irritante quando alguém de quem não gostamos diz algo de que não gostamos. Esse é um sinal de uma situação saudável e funcional de liberdade de expressão.” No dia 25 de abril, Elon tweetou, “Espero que os meus piores críticos fiquem no Twitter, pois liberdade de expressão significa isso.” De modo semelhante, disse Voltaire: “Posso não concordar com o que tens a dizer, mas darei a vida pelo teu direito a dizê-lo.”
Sim, o conteúdo ilegal e criminoso deve ser combatido por todos os meios. De resto, deveremos deixar circular as ideias livremente, mesmo as que consideramos incorretas ou de que não gostamos. Quem não concordar, que as debata.
- Texto: Expresso, jornal parceiro do POSTAL