- Por João Tavares
“Ainda temos algumas modalidades possíveis: temos um quarto livre, por 375€, temos um outro, mas com duas camas singles e é partilhado com outra pessoa, por 275€, e há ainda a possibilidade de lhe arranjarmos um sótão amplo, mas que apenas está livre em finais de setembro uma vez que estamos a fazer obras. E fica-lhe a 600€”.
Esta foi uma das respostas que o Postal do Algarve obteve telefonicamente, quando procurou saber quais as condições que estudantes de todo o país colocados em universidades algarvias encontram quando rumam ao sul do país para estudar. Para aqueles que não conseguem encontrar uma oferta pública, resta-lhes o mercado paralelo.
Das três propostas apresentadas por Carlota, dona de quatro casas na zona de Faro (uma no centro e outras três nos arredores), apenas uma tem um preço abaixo daquele que foi considerado o valor médio de um quarto para estudantes no Algarve. Segundo o Observatório do Alojamento Estudantil, a família de um jovem que queira prosseguir os estudos universitários no Algarve desembolsa, em média, 339 euros.
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Mas este número é apenas uma parcela da despesa familiar. “A conta da água, da luz e da internet é a dividir pelo número de ocupantes da casa. Quantos mais forem na casa, mais baixo é o valor”. Não esquecendo, claro, o preço da comida, dos transportes e das propinas. E depois a inevitável pergunta que nos leva a perceber se estamos a contactar um negócio legítimo ou um no mercado paralelo. “E fatura?”. Ao que respondem. “Não trabalhamos assim, é tudo sem faturas claro”.
Tudo somado torna-se numa conta mensal que é um autêntico fardo para muitas famílias portuguesas. E, durante nove meses, estes estudantes que não conseguem ter acesso a uma residência disponibilizada pela instituição de ensino, passam a viver num cubículo na casa de um estranho. “Os dois quartos, tanto o individual como o partilhado, têm 13 m2, e a casa-de-banho é para todos. As pessoas têm ainda acesso às partes comuns da casa, e podem cozinhar.
Pedimos apenas que mantenham a casa minimamente limpa”, conta-nos Carlota, convencida que está a falar ao telefone com um pai que procura desesperadamente um local onde o filho ficar. “O sótão tem outras condições, são 22 m2, tem casa-de-banho própria e é mais sossegado. É por isso que é mais caro”.
Regalias há só uma: “Temos uma televisão com vários canais na sala que está acessível a qualquer pessoa da casa. Mas se o seu filho quiser trazer uma e colocar no quarto, eu não me oponho”. Segundo Carlota, a casa ficará apenas com os estudantes (e apenas aceita estudantes), uma vez que reside noutra habitação.
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Mas este tipo de negócio não pode estragar uma das maiores fontes de rendimento dos algarvios, que é o verão. Assim, os quartos são apenas arrendados de setembro a junho do ano seguinte. “E se eu quiser manter o quarto no verão, de modo a garanti-lo para o próximo ano?”, perguntamos. A resposta é clara. “Isso não é possível, pois a casa é para alugar em julho e agosto. Mas caso esteja interessado em continuar lá, reservamos o mesmo quarto a partir de setembro”, garante a senhoria.
Faro em 4.º lugar do ‘ranking’
Faro posiciona-se no 4.º lugar do ‘ranking’ dos distritos com a oferta mais cara do país. À semelhança de quase todos os distritos, também a sul do país o aumento dos preços foi superior a 10 por centro em relação ao ano passado. Como seria de esperar, Lisboa encabeça a lista. Um aluno que queira estudar na capital terá de pagar, em média, 450€ por mês por um quarto, mais 25€ do que a realidade da cidade do Porto.
Em 3.º lugar está o distrito de Setúbal, com 350€, seguindo-se então Faro (339) e Aveiro (320). Estes valores foram obtidos após a análise de cerca de 20 empresas imobiliárias, e cujos resultados foram publicados pelo Observatório de Alojamento Estudantil.
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