A Tupperware Brands, gigante mundial que dominou o mercado dos recipientes plásticos durante décadas, entrou recentemente em insolvência, após um longo período de declínio financeiro. Conhecida em Portugal e em várias partes do mundo simplesmente como “tupperware”, a marca tornou-se sinónimo de inovação doméstica, especialmente nas cozinhas. Contudo, esta semana, a empresa iniciou um processo voluntário ao abrigo do Capítulo 11 do Tribunal de Falências dos Estados Unidos, marcando o fim de uma era.
O que levou a Tupperware à falência?
O colapso da Tupperware não surgiu de forma súbita. Ao longo dos últimos anos, a marca enfrentou sérios desafios operacionais e estratégicos, agravados por uma crescente concorrência e pela sua incapacidade de se adaptar às novas dinâmicas do comércio digital. Como refere Brian Fox, Diretor de Reestruturação da Tupperware, “quase toda a gente sabe o que é a Tupperware, mas quase ninguém sabe onde a encontrar”. Esta afirmação resume bem um dos maiores problemas da empresa: a falta de presença nas lojas de retalho e plataformas de venda online, fundamentais para o sucesso de qualquer marca no mundo digital de hoje.
A par disso, a Tupperware foi também penalizada pelo aumento da concorrência no mercado dos recipientes domésticos. Outras marcas mais ágeis e com modelos de distribuição mais eficazes — tanto em canais físicos como digitais — começaram a ganhar terreno, enquanto a Tupperware lutava para se manter relevante. Este cocktail de fatores resultou numa queda acentuada das suas receitas e numa dívida crescente que, no momento do pedido de insolvência, já atingia os 812 milhões de dólares (727,9 milhões de euros).
Capítulo 11: O que significa para a Tupperware?
Ao acionar o Capítulo 11 no Tribunal de Falências de Delaware, a Tupperware tenta ganhar tempo para reorganizar as suas finanças. Esta ferramenta jurídica nos Estados Unidos permite que a empresa suspenda temporariamente o pagamento de dívidas, proponha um plano de reestruturação e, ao mesmo tempo, continue a operar. É uma tentativa de salvar o negócio, ou pelo menos, de evitar uma liquidação imediata. No entanto, o caminho para a recuperação não será fácil.
Os analistas apontam que a marca terá de fazer mudanças significativas para sobreviver. O modelo de vendas porta a porta, que foi uma das chaves do seu sucesso no século passado, já não tem o mesmo impacto numa era dominada por compras online rápidas e convenientes.
E a fábrica da Tupperware em Portugal?
Com o anúncio da falência, as atenções viraram-se para a fábrica que a Tupperware tem em Constância, Portugal. Inaugurada em 1980, esta unidade de produção emprega atualmente cerca de 200 trabalhadores e é uma das bases operacionais mais importantes da empresa fora dos Estados Unidos. A incerteza sobre o futuro da casa-mãe tem gerado enorme ansiedade entre os trabalhadores e as autoridades locais. Sérgio Oliveira, presidente da Câmara de Constância, expressou publicamente as preocupações da comunidade: “Angústia, ansiedade, incerteza e preocupação. É aquilo que nós vivemos atualmente, fundamentalmente pelas pessoas que têm ali o posto de trabalho, precisam daquele trabalho para viver”.
A fábrica de Montalvo, que depende inteiramente da sede norte-americana, poderá ser diretamente afetada pela reestruturação. Até ao momento, o Governo português, através do Ministério da Economia, foi solicitado a intervir, mas ainda não há respostas concretas. Para já, a situação permanece num limbo, com os trabalhadores e a própria administração local à espera de clarificações sobre o futuro da operação em Portugal.
Um ícone em risco de desaparecer?
A Tupperware foi mais do que uma marca de recipientes plásticos; foi um símbolo de inovação doméstica e de empoderamento, especialmente para muitas mulheres que, através das suas famosas “reuniões Tupperware”, encontraram uma forma de ganhar independência financeira. Contudo, o declínio financeiro reflete também o afastamento do público-alvo de produtos que, embora inovadores no passado, não conseguiram acompanhar a mudança nos hábitos de consumo.
Embora o pedido de insolvência ao abrigo do Capítulo 11 possa dar à empresa algum fôlego para tentar uma última reestruturação, o futuro da Tupperware é altamente incerto. Se a marca não conseguir ajustar-se ao mercado moderno e responder às novas exigências dos consumidores, poderá tornar-se mais um caso de um gigante industrial que não conseguiu sobreviver à revolução digital.
No entanto, resta saber o impacto final sobre a unidade em Constância, que, como tantas outras infraestruturas industriais em Portugal, é vital para a economia local. “Esperamos que o Governo possa tomar medidas para proteger os postos de trabalho e garantir que a fábrica continue a operar”, referiu Sérgio Oliveira, ecoando a preocupação de muitos.
O futuro da Tupperware, tanto a nível global como em Portugal, ainda está em suspenso, mas uma coisa é certa: a história de uma das marcas mais icónicas do século XX não será facilmente esquecida.
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