Há muito que os nossos responsáveis ao mais alto nível da governação, acompanhando a tendência mundial, veiculam para o exterior a ideia de um país fortemente comprometido em matéria de energias renováveis, eficiência energética e combate às alterações climáticas.
Neste sentido, Portugal não só subscreveu os mais ousados acordos internacionais sobre a matéria, mostrando uma ambição desmedida nesta área, como promove a imagem de um país amigo do ambiente e empenhado na implementação de um modelo de desenvolvimento sustentável, fazendo corar de inveja os mais acérrimos defensores ambientalistas, qual economia pujante e desenvolvida.
A nível interno, porém, a bota não bate com a perdigota, dando razão àqueles que afirmam que a política é a arte de fazer o oposto do que se promete. “Bem prega Frei Tomás: faz o que ele diz, não faças o que ele faz”.
“Dois terços do território do Algarve encontram-se classificados (…). Exploração de petróleo? Sim, mas nas arábias”
O último Ministro da Economia, homem comprometido com os negócios do petróleo, quando nada o fazia prever, afirmou na Assembleia da República, ao arrepio do legalmente estipulado sobre esta matéria, que o governo está totalmente disponível para conceder licenças para a prospecção e exploração de hidrocarbonetos no nosso País, sobretudo na costa algarvia.
Recorda-se que num passado não muito distante, sobre esta mesma problemática, o governo de então ocultou informação sobre a concessão de licenças para a prospecção e exploração de hidrocarbonetos no Algarve.
Em minha opinião, esta decisão não levou em consideração o interesse público, uma vez que atentava contra os interesses económicos de uma actividade perfeitamente consolidada, o turismo, para além de colocar em causa a diversificação sustentada da economia regional.
Dois terços do território do Algarve encontram-se classificados, pelo que a exploração de petróleo iria pôr em risco o actual modelo de desenvolvimento da região, trocando a riqueza consolidada por fracas contrapartidas financeiras, incluindo os elevados danos ambientais e sociais, de reflexos imprevisíveis no bem-estar da região e das populações residentes.
Turismo e petróleo são conflituantes e actividades contraditórias entre si, as duas não só não convivem, como se hostilizam.
O mero anúncio da pesquisa tem consequências negativas para a economia do turismo e, uma possível exploração petrolífera, afectaria negativamente o futuro económico do Algarve.
As regiões desenvolvem-se em função das suas vocações. O turismo surgiu, cresceu e desenvolveu-se no Algarve porque a região está especialmente vocacionada para esta actividade, cujos pontos fortes residem, precisamente, no clima e belezas naturais e paisagísticas, enquanto diferenciação competitiva face a outros destinos concorrentes.
É por tudo isto que, em nome do interesse geral e, já agora, do bom senso, o Algarve e os algarvios têm de travar de vez estas intenções. É que, apesar de não competir aos algarvios e às suas entidades representativas definir-se perante os políticos e a política, é nossa responsabilidade exigir destes o cumprimento das promessas feitas e o assumir de compromissos na condução e defesa dos interesses gerais do país e dos seus cidadãos.
Esta questão em torno do petróleo teve o condão de unir os algarvios num grande consenso regional. Esta conquista, mais do que um ponto de chegada, pode e deve representar um ponto de partida rumo a um futuro mais equilibrado e competitivo e, por essa via, também mais justo e fraterno na afirmação e defesa do interesse colectivo dos portugueses do Algarve.
O interesse dos algarvios e dos seus agentes económicos e sociais não pode nem deve ignorar o interesse público nacional, atendendo ao cariz estratégico e prioritário do turismo e do Algarve na economia do país, tanto mais que uma medida desta natureza, a concretizar-se, não só não é reversível como economicamente desastrosa para todos.
Exploração de petróleo? Sim, mas nas arábias.
*O autor escreve de acordo com a antiga ortografia
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