Os preços dos alimentos estão a registar o maior aumento desde o início da guerra na Ucrânia, revertendo uma tendência de descida que vinha a ser sentida desde 2022. O índice Bloomberg Agriculture, que acompanha as principais matérias-primas agrícolas, subiu mais de 7% em setembro, marcando o maior salto mensal desde o início do conflito. O que está por trás desta subida abrupta?
Entre os alimentos mais afetados, destacam-se o açúcar, com um aumento de 25%, e o café, que subiu 20%. Matérias-primas essenciais como o trigo, milho e soja registaram também aumentos consideráveis de 16%, 17% e 12%, respetivamente. Embora o arroz tenha subido apenas 4%, o sumo de laranja, sujeito a grande volatilidade, registou um aumento de 10%. Segundo o elEconomista, os fatores por detrás destes aumentos são múltiplos e incluem alterações climáticas severas e persistentes tensões geopolíticas.
A causa: Clima extremo e impactos geopolíticos
A principal razão para este aumento dos preços encontra-se nas condições climáticas extremas que afetaram os maiores países produtores. O Brasil, um dos líderes globais na produção de café, açúcar, laranja e soja, enfrentou uma seca severa e incêndios que prejudicaram gravemente as suas colheitas. Como resultado, o país registou uma queda de 9,5% nas exportações agrícolas, com o milho a ser o mais afetado, registando uma descida de 35%.
No Sudeste Asiático, países como o Vietname e a Indonésia, grandes produtores de café e arroz, também enfrentaram condições adversas. A seca prolongada, seguida por tufões e inundações, agravou a situação e reduziu drasticamente a produção agrícola. Na Austrália, outro grande exportador de trigo e cevada, geadas e chuvas abaixo da média perturbaram ainda mais a produção.
Impacto da guerra na Ucrânia e restrições comerciais
Se as condições meteorológicas já criavam um cenário de incerteza nos mercados, as tensões geopolíticas provocadas pela guerra na Ucrânia agravaram ainda mais a situação. O conflito interrompeu rotas de exportação de cereais, principalmente de trigo e milho, e as sanções impostas à Rússia, outro grande produtor agrícola, contribuíram para desestabilizar os mercados globais.
Adicionalmente, algumas nações adotaram políticas protecionistas para conter o impacto do aumento dos preços a nível doméstico. A Índia, por exemplo, impôs restrições à exportação de arroz, um movimento que causou preocupações entre os principais importadores deste alimento básico.
Um aumento temporário?
Embora os mercados globais estejam em alvoroço com estas subidas, especialistas acreditam que este pico nos preços pode ser temporário. Um relatório recente do Banco Mundial prevê uma ligeira descida nos preços das matérias-primas agrícolas em 2024 e 2025, embora continue a alertar que os preços permanecerão acima dos níveis registados antes da pandemia.
O mês de setembro destacou-se por este aumento abrupto, mas no acumulado de 2023, os preços agrícolas registam ainda uma queda de 4%, sugerindo que poderá haver uma estabilização nos próximos meses. No entanto, o impacto da volatilidade climática e das tensões geopolíticas continuará a ser um fator crucial na evolução dos preços alimentares globais.
Assim, enquanto o mundo tenta equilibrar-se entre as perturbações climáticas e os efeitos económicos da guerra, o aumento do custo dos alimentos representa um desafio global, cujas consequências serão sentidas, particularmente, nas populações mais vulneráveis.
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