O algarvio José Uva, treinador de Patrícia Mamona, assumiu ter ficado anestesiado pela final maravilhosa do triplo salto nos Jogos Olímpicos Tóquio2020, em que a portuguesa se apresentou na melhor forma de sempre e conseguiu o melhor resultado possível.
“Nos treinos tínhamos indicações de que a Patrícia estava na sua melhor forma de sempre, mas estávamos longe de pensar que podia chegar a este nível e, sobretudo, no dia e na hora certos. Foi o salto no momento certo, portanto, não podíamos estar mais satisfeitos”, afirmou o treinador da vice-campeã olímpica do triplo salto, em entrevista à agência Lusa.
Aos 32 anos, na sua terceira participação olímpica, Patrícia Mamona subiu esta segunda-feira ao pódio, para receber a medalha de prata, conquistada no domingo, com um salto de 15,01 metros, que melhorou em 35 centímetros o anterior recorde nacional, que já lhe pertencia, e 36 relativamente à marca alcançada do sexto lugar no Rio2016.
“O nosso plano de cinco anos – quatro mais um – bateu certo e era impossível ser melhor e vivi a final com uma grande emoção, aliás, neste momento ainda estou um bocado anestesiado com as emoções, ainda não caí bem na realidade, mas foi uma final maravilhosa”, recordou o técnico natural de Faro.
No Estádio Olímpico, sem público, mas com grande parte das comitivas nacionais nas bancadas, a final foi vivida por José Uva com emoção e tranquilidade: “Vivi com o ambiente próprio de uma final singular, sem público, mas para quem trabalhou tanto tempo as coisas sentem se de igual forma, porque está em causa muito tempo de trabalho. Foi uma emoção muito grande, a Patrícia cumpriu o que estava planeado”.
“Nós conhecemo-nos há muitos anos. Há muito tempo que a Patrícia estava pronta para chegar aqui e fazer o seu melhor. Nos dias das finais não há muito que falar, não é preciso dizer nada, às vezes dizer alguma coisa até atrapalha. Quando está bem, gosta de estar no seu canto, independente, e não gosta de falar muito. Eu já sei disso, respeito, porque nas finais é para se saltar e não para falar”, realçou.
A venezuelana Yulimar Rojas, bicampeã do mundo, justificou o seu favoritismo, conquistando o título praticamente no primeiro salto, com um novo recorde olímpico (15,41), coroando o triunfo com o recorde do mundo (15,67), enquanto a espanhola Ana Peleteiro arrebatou o bronze (14,87).
“A Yulimar [Rojas] é realmente uma atleta extraordinária, de outro planeta, e sabíamos que a medalha de ouro estava praticamente entregue e restava-nos lutar, o melhor possível, para ver se conseguíamos a melhor classificação e uma medalha das que sobravam. Foi isso que aconteceu e conseguimos. Neste momento, a Patrícia é a segunda melhor atleta do mundo e isso é um orgulho para mim”, salientou.
Perante a supremacia de Rojas, José Uva apontava à prata.
“Sim, se me dissessem antes da prova que este ia ser o resultado eu comprava logo. Depois, ficamos a pensar podíamos querer um bocadinho mais, mas a atleta que ganhou é, sem dúvida, a melhor de todas. Nós costumamos dizer que é uma extraterrestre, está muito acima das outras, pelas condições físicas que tem e há que respeitar e reconhecer isso”, reconheceu.
No entanto, o professor de Educação Física e treinador de Alto Rendimento, de 51 anos, assegurou que as metas para as competições passam sempre pela superação.
“O objetivo que nós pomos em cada competição nunca é em termos de classificação, medalhas ou títulos, mas sim a Patrícia vencer-se a si própria. Se conseguir isso, o que vem como consequência é bom porque é sinal que evolui e ganha mais motivação para trabalhar”, vincou.
Sem ponderar muito os objetivos para 2022, José Uva admitiu concentrar a preparação nas grandes competições internacionais, começando pelos Mundiais em pista coberta, no inverno, e os Europeus e Mundiais ao ar livre, no verão.
“Normalmente, a seguir ao ano olímpico os treinadores gostam de fazer um ano um pouco mais calmo, mas quando os Jogos Olímpicos correm desta maneira todos pensamos em aproveitar esta forma a este nível para poder conseguir outras coisas ainda melhores do que esta”, frisou.
Após a cerimónia de pódio, já com a medalha de prata ao peito, assinalou as diferenças face ao bronze do judoca Jorge Fonseca: “É pesada e, felizmente, tem uma cor diferente da do Jorge Fonseca, que eu peguei e imaginei ter uma delas”.
“Estou muito muito orgulhosa. É uma sensação de realidade, as coisas começam a assentar e aquilo que parecia surreal ontem [no domingo] começa a entrar e eu começo a perceber em tudo aquilo que eu fiz”, admitiu a saltadora, em declarações à Lusa.
A medalha de prata no triplo salto agradeceu o carinho recebido desde Portugal com a sua conquista.
“Acho que vibraram muito com a minha prova, têm sido espetaculares, o apoio é muito e as mensagens também, e isso para mim já é muito gratificante. Estou feliz pelo amor que estão a mostrar agora, vou aproveitar hoje para respirar um pouco mais de Tóquio, porque, obviamente, quero ter ainda mais boas memórias”, concluiu a saltadora.
Patrícia Mamona arrebatou a prata olímpica, depois de ter sido sexta no Rio2016 e 13.ª em Londres2012 e de ter conquistado os títulos europeus em pista coberta, em 2021, e ao ar livre, em 2016.