O ciclista suíço Colin Stüssi (Voralberg) conquistou este domingo a 84.ª edição da Volta a Portugal em bicicleta, após a 10.ª e última etapa, um contrarrelógio de 17,9 quilómetros em Viana do Castelo, ganho pelo espanhol Txomin Juaristi (Euskaltel-Euskadi).
Para se tornar o primeiro corredor de uma equipa estrangeira a vencer a Volta desde 2006, quando o espanhol David Blanco venceu pela Comunitat Valenciana, Stüssi terminou com 1.04 minutos de avanço sobre Juaristi e 1,07 sobre o português António Carvalho (ABTF-Feirense).
A etapa final foi ganha por Juaristi, que gastou 24.56 minutos para vencer o ‘crono’, à frente do uruguaio Mauricio Moreira (Glassdrive-Q8-Anicolor), a três segundos, e de Stüssi, a 26.
O ‘anónimo’ Colin Stüssi foi este domingo ‘promovido’ ao estatuto de campeão, confirmando um potencial demonstrado nos primeiros anos no pelotão, em que rivalizou com ciclistas agora de renome, e ‘desaparecido’ nas últimas épocas.
Uma rápida pesquisa na Internet não lhe permitirá saber absolutamente nada sobre a história do vencedor da 84.ª Volta a Portugal, um perfeito desconhecido no ciclismo mundial, tanto que no Instagram tem meros 600 seguidores, um número irrisório na era das redes sociais, principal veículo de comunicação do pelotão.
As poucas linhas escritas na Wikipédia contam que Stüssi nasceu em 04 de junho de 1993, em Glarus, um cantão germânico da Suíça, ‘incrustado’ nos Alpes, num cenário idílico de lagos e glaciares, mas o contacto nos bastidores da prova que hoje ganhou revelam um homem tímido, mas simpático, educado e disponível e dono de um sentido de humor que foi arrancando gargalhadas aos jornalistas.
“Eu sou um tipo de números, lembro-me dos números, não dos nomes”, descreveu após a oitava etapa, depois de ter disparado os dorsais dos seus adversários como se dos números do bingo de tratasse.
O desconhecido Colin Stüssi confirmou finalmente o seu potencial
Foi discreta mas consistentemente que o ciclista da Vorarlberg chegou à liderança da Volta a Portugal, à sétima etapa, com uma vitória no alto do Larouco que culminou três dias consecutivos dentro dos sete melhores das tiradas, abrilhantados ainda pelo segundo lugar na Torre, prenúncio de que a melhor versão do suíço estava de regresso.
Profissional desde 2015, foi vencendo classificações da juventude em provas por etapas em Itália – por exemplo, na Volta à Toscana de 2016, ficou à frente de nomes como Richard Carapaz ou Miguel Ángel López -, antes de estrear o palmarés na Volta a Rodes (Grécia), em 2017, um dos seus melhores anos no pelotão até agora.
Nessa época, Stüssi prometeu muito, com vários top 10 em gerais, nomeadamente um segundo lugar na Volta a Sibiu (Roménia), atrás do campeão do Tour2019, o colombiano Egan Bernal, ou um quarto posto no Tour de Almaty (Cazaquistão), ganho pelo conceituado Alexey Lutsenko.
O trajeto ascendente do suíço, que correu quase sempre a nível continental – a exceção foi 2016, quando a Roth subiu ao segundo escalão -, estagnou na temporada seguinte, quando correu com as cores da histórica Amore&Vita; ainda foi sexto na prova de fundo dos Nacionais e no Tour de Almaty, mas pouco mais.
Foi em 2018 que se estreou na Volta a Portugal com uma recordação de má memória
Curiosamente, foi em 2018 que se estreou na Volta a Portugal, agora apenas uma recordação de má memória, já que caiu na etapa da Senhora da Graça, na zona das Fisgas de Ermelo, e não chegou então a conhecer a mítica subida. “Ouvi tantas coisas boas sobre ela [Senhora da Graça], sobre os espetadores, a cerveja. Foi muito bom subi-la”, revelou no sábado.
Foi na Vorarlberg que Stüssi regressou aos triunfos; a equipa austríaca apostou nele em 2019 e o agora campeão da Volta correspondeu com uma vitória no Grande Prémio com o mesmo nome e numa etapa do Tour de Savoie Mont Blanc e um quinto lugar na clássica Paris-Bourges.
As duas épocas seguintes foram bem modestas, sem resultados de destaque, num ‘declínio’ profissional travado este ano. O 12.º lugar na Volta à Eslovénia era o seu principal cartão de visita antes desta Volta – referido até por alguns diretores desportivos de equipas portuguesas, que já o tinham debaixo de olho -, à qual chegou com a ambição de um top 10 e saiu como um ciclista vencedor.
Volta: Palmarés complementar
Palmarés dos prémios complementares nos últimos 10 anos da Volta a Portugal em bicicleta, cuja 84.ª edição se disputou entre 09 de agosto e este domingo, num total de 1.600,5 quilómetros, de Viseu a Viana do Castelo:
– Prémio da Montanha:
- 2023 César Fonte, Por (Rádio Popular-Paredes-Boavista, Por)
- 2022 Frederico Figueiredo, Por (Glassdrive-Q8-Anicolor, Por)
- 2021 Bruno Silva, Por (Antarte-Feirense, Por)
- 2020 Hugo Nunes, Por (Rádio Popular-Boavista, Por) *
- 2019 Luís Gomes, Por (Rádio Popular-Boavista, Por)
- 2018 Sem vencedor **
- 2017 Amaro Antunes, Por (W52-FC Porto, Por)
- 2016 Joni Brandão, Por (Efapel, Por) ***
- 2015 Bruno Silva, Por (LA-Antarte, Por)
- 2014 António Carvalho, Por (LA-Antarte, Por)
– Prémio por Pontos:
- 2023 Daniel Babor, Che (Caja Rural, Esp)
- 2022 Scott McGill, EUA (Wildlife Generation, EUA)
- 2021 Rafael Reis, Por (Efapel, Por)
- 2020 Luís Gomes, Por (Kelly-Simoldes-UDO, Por) *
- 2019 Daniel Mestre, Por (W52-FC Porto, Por)
- 2018 Vicente García de Mateos, Esp (Aviludo-Louletano, Por)
- 2017 Vicente García de Mateos, Esp (Louletano-Hospital de Loulé, Por)
- 2016 Gustavo Veloso, Esp (W52-FC Porto, Por)
- 2015 Gustavo Veloso, Esp (W52-Quinta da Lixa, Por)
- 2014 Davide Vigano, Ita (Caja Rural, Esp)
– Prémio da Juventude:
- 2023 Jaume Guardeno, Esp (Caja Rural, Esp)
- 2022 Jokin Murguialday, Esp (Caja Rural, Esp)
- 2021 Abner González, Pri (Movistar, Esp)
- 2020 Simon Carr, GB (Nippo Delko Provence, Fra) *
- 2019 Emanuel Duarte, Por (LA Alumínios, Por)
- 2018 Xuban Errazkin, Esp (Vito-Feirense-Blackjack, Por)
- 2017 Krists Neilands, Lat (Israel Cycling Team, Isr)
- 2016 Alexander Vdovin, Rus (Lokosphinx, Rus)
- 2015 Aleksey Rybalkin, Rus (Lokosphinx, Rus)
- 2014 David Rodrigues, Por (Seleção Portuguesa)
– Prémio por Equipas:
- 2023 Glassdrive-Q8-Anicolor, Por
- 2022 Glassdrive-Q8-Anicolor, Por
- 2021 Efapel, Por
- 2020 W52-FC Porto, Por *
- 2019 W52-FC Porto, Por
- 2018 W52-FC Porto, Por
- 2017 W52-FC Porto, Por
- 2016 W52-FC Porto, Por
- 2015 W52-Quinta da Lixa, Por
- 2014 OFM-Quinta da Lixa, Por
*Edição especial da Volta a Portugal, disputada num formato diferente devido à pandemia de covid-19.
**O vencedor Raúl Alarcón (W52-FC Porto) foi desclassificado por doping e a Federação Portuguesa de Ciclismo ainda não reatribuiu a vitória.
***O vencedor Wilson Diaz (Funvic Soul Cycles) foi desclassificado por doping.
****O vencedor Márcio Barbosa (LA-Antarte) foi desclassificado por doping.
*****O vencedor Vladislav Gorbunov (Astana Continental) foi desclassificado por doping.
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