O Campeonato do Mundo de vela adaptada, que decorre até sábado em Portimão, permite que pessoas com diferentes graus de deficiência ou condicionamento não se sintam diferentes dos outros.
“Estou aqui porque quando ando na rua sinto-me numa situação de incapacidade, mas em cima do barco sinto-me igual a toda a gente”, disse à agência Lusa o francês Bertrand Verrier, com uma deficiência visual.
Numa conversa à margem do ‘briefing’ diário que a organização realiza na Marina de Portimão todos os dias às 09:00 com os participantes, Bertrand Verrier realçou que pretende “demonstrar aos seus amigos com o mesmo problema que a vela existe e permite fazer coisas maravilhosas”.
“Estou vivo. Sinto-me vivo. E não estou a um canto, sozinho e sem fazer nada”, afirmou o francês.
Segundo a organização do Hansa Worlds Championship 2023, o encontro de Portimão é “a maior competição de vela adaptada alguma vez realizada a nível mundial” e permite “atestar que o mar e o vento são para todos, independentemente da sua condição física”.
Estão em prova 230 velejadores de 17 países, entre os quais 19 portugueses, que competem pelo título de campeão do mundo em cinco classes diferentes, de acordo com o seu nível de deficiência ou condicionamento.
O português do clube de Vela Solitária Guilherme Ribeiro, que tem um problema de locomoção que o obriga a estar numa cadeira de rodas, também não tem dúvida de que a vela lhe permite “conseguir fazer o que fazem as pessoas normais”.
“Isto é muito importante para a minha autoestima e para a das pessoas que aqui estão com qualquer tipo de deficiência”, afirmou Guilherme Ribeiro, que também é presidente da classe Hansa.
A vela ligeira adaptada utiliza o barco Hansa, de patente australiana, que tem como uma das suas características principais um patilhão de cerca de 30 quilogramas, o que o torna muito difícil de se virar.
O diretor da prova, Luís Brito, disse à Lusa que tem “prazer” em organizar o evento e de lidar com “pessoas muito positivas”.
“Para estas pessoas não é importante ganhar, eles adoram estar aqui e conviver à margem da competição”, acrescentou.
Não é o caso da presidente da Associação Internacional Hansa Class, Vera Voorbach, atual campeã do mundo, com uma lesão na medula espinal, que não escondeu à Lusa que está em Portimão para defender o título: “Quero ganhar”, disse.
“Quando estou no barco sinto-me igual a todos os outros”, afirmou Vera Voorbach, admitindo logo em seguida que, afinal de contas, “ganhar não é o único objetivo” e que também é importante “o convívio entre todos os participantes”.
Outro português, João Silva, do Iate Clube de Portimão, que tem o lado esquerdo do corpo paralisado, afirmou que a competição tem para ele “um efeito terapêutico”.
“Não estamos de pé em igualdade de circunstâncias, mas no fim do dia não é isso que é importante”, disse, acrescentando gostar muito do ambiente à margem das regatas e do convívio entre velejadores.
Entre os participantes há várias histórias de luta e superação, como é o caso de Mary Duffy, que, apesar de não ter braços, fez questão de vir para Portugal de carro, desde a Irlanda.
Ou da neerlandesa Wilma Den Broek, que veleja a sua embarcação através de sopro, uma vez que não tem braços nem pernas.
A organização do Campeonato do Mundo de vela adaptada está a cargo do Iate Clube Marina de Portimão e à Vela Solidária.
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