Os atletas algarvios José Maurício Correia e Flávio Jesus ganharam ouro e prata no Campeonato da Europa de Karaté JSKA, na Hungria, e trouxeram para Tavira as medalhas que conquistaram por Portugal.
Com dois elementos, a equipa da associação Kombatefácil representou o país e a cidade de Tavira e arrecadou quatro medalhas. O atleta José Maurício é o actual campeão europeu das provas de Kata e Kumite, no escalão dos 40 aos 45, enquanto Flávio Jesus se sagrou vice-campeão europeu em Kata e arrecadou o terceiro lugar na prova de Kumite, no escalão dos 22 aos 30.
Por influências do pai, José Maurício iniciou a sua prática do karaté com nove anos, “tendo o meu pai como praticante e instrutor, o normal era enveredar por este caminho. Já tenho 32 anos de prática”.
Flávio Jesus sempre quis experimentar a arte marcial mas só o fez depois de conhecer o seu mestre. “Conheci o Maurício na escola, era meu professor” Entre risos, Flávio contou que “às vezes, nas aulas, falávamos de outras coisas e foi aí que o Maurício disse que era mestre de karaté e dava aulas em Tavira. Perguntei como era, experimentei, gostei, ele viu que eu tinha jeito e fiquei. Desde os 18 anos que pratico karaté, já treino há sete anos, e o Maurício é o meu mestre desde que comecei a prática”. Quando começou no karaté, o grande sonho de Flávio era chegar ao cinto negro. “Passei por altos e baixos e quis desistir mas o Maurício nunca me deixou e ainda bem que não, senão não tinha chegado onde cheguei hoje”.
Campeonato da Europa foi organizado pela JSKA
O Campeonato da Europa foi organizado pela JSKA (Japan Shotocan Karate Association), uma entidade pública no Japão com poderes para organizar qualquer tipo de campeonato, dentro ou fora do país.
José Maurício explicou ao POSTAL que existem várias associações japonesas de utilidade pública e todas elas podem organizar competições quando entenderem. “Embora tenhamos a Federação Portuguesa, onde estamos inscritos como treinadores e atletas, e uma Federação Mundial, que tem a égide do karaté, estas não conseguem superar os japoneses, o karaté foi inventado lá”.
Cerca de 600 karatecas participaram no campeonato da Hungria, a 28 de Maio, e a comitiva portuguesa fez-se representar por um total de 12 atletas, dos quais só participaram 10. Apesar de ser uma comitiva pequena, comparada a países como a Alemanha, com mais de 60 atletas, Portugal arrecadou doze medalhas: seis de primeiro lugar, quatro de segundo e dois de terceiro.
Apesar de não se cantar o hino, devido ao elevado número de escalões, os atletas sentem um orgulho enorme por terem levantado a bandeira no pódio, no meio de tantos países e tantos participantes.
As vitórias alcançadas resultam do trabalho conjunto entre treinadores e atletas, numa relação onde ambos se motivam um ao outro de igual modo”.
“O nosso mestre, sensei Vilaça, fez recentemente 72 anos e não parece, é muito exigente”. Com o sensei, os atletas de Tavira têm mensalmente um treino fora e dois em casa, normalmente em Novembro e em Março. “Praticamente todos os meses há um dia em que recebemos os ensinamentos dele para poder transmitir aos nossos alunos”.
O sensei Vilaça treinou a arte marcial no Japão e para o campeão europeu, o seu mestre “sabe do que está a falar e sabe o que está a mostrar, tanto a nível técnico como pessoal”. Além dessa parte, “é uma pessoa excepcional e nós só temos a agradecer o que ele nos passa e o facto de nos ter aceite na associação para receber os seus ensinamentos”. Para o campeão europeu, “não se encontra em todo o lado uma pessoa como o sensei Vilaça”.
Federação não reconhece nenhum campeonato associativo
A Federação Portuguesa de Karaté não reconhece nenhum campeonato associativo que fuja à sua égide. José Maurício disse ao POSTAL que “quando abalamos, todos sabem que vamos para o campeonato, incluindo a Federação, porque a associação dá sempre parecer à Federação que vamos para um Campeonato da Europa, do nosso estilo. A Federação dá valor e agradece por representarmos Portugal mas isso nunca é notícia em lado nenhum”.
Estão a tentar introduzir o karaté olímpico mas “é importante não esquecer a vertente tradicional que é o que nós treinamos”. Qualquer campeonato associativo é composto pela vertente tradicional e não desportiva e existe uma grande diferença entre karaté de competição e competição de karaté mas “as pessoas não sabem diferenciar isso”.
Em Tavira, os atletas sentem-se reconhecidos e “até a GNR nos manda parar para dar os parabéns. Tavira é uma cidade com cultura para o desporto e aqui sentimos que somos reconhecidos, até porque fomos recebidos pela Câmara, no Salão Nobre dos Paços do Concelho”.
Os atletas agradecem o reconhecimento e o apoio da autarquia, ao disponibilizar o pavilhão municipal, água e luz para os treinos. José Maurício disse ao POSTAL que “não temos exigido da Câmara verbas para os campeonatos, o que não quer dizer que para o ano, sendo onde é (Campeonato do Mundo, na Rússia), não solicitemos algum apoio, tanto à Câmara como às juntas de freguesia”.
Existem cada vez mais crianças a praticar karaté e a escola em Tavira tem “neste momento cerca de 40 atletas, divididos entre as classes adulta e infantil. São classes pequenas porque assim trabalha-se melhor com as pessoas”.
O crescimento deve-se também ao facto dos professores e psicólogos terem começado a recomendar a modalidade para as crianças. O karateca acredita que esta é uma óptima opção porque ensina valores que outras modalidades não transmitem. “O karaté é regido por cinco máximas: carácter, sinceridade, etiqueta, esforço e autocontrole. Sabendo interpretar as cinco máximas, consegue-se caminhar, não só no karaté mas também na vida pessoal, de forma muito mais controlada”.
Com olhos postos no Campeonato do Mundo, os campeões algarvios recordam as amizades e o ambiente que se vive nas competições, além do karaté. “A melhor medalha que trazemos das competições é a experiência que vivemos”.
(Cátia Marcelino / Henrique Dias Freire)