A Volta a França do Futuro é o objetivo que move António Morgado esta temporada, com o ciclista português a garantir que a adaptação à UAE Emirates e ao WorldTour está a correr como “o esperado”.
“Está a ser bastante positivo. É outro nível, é mais complicado agora, mas eu gosto das coisas complicadas. Está a ser o esperado”, resumiu à Lusa o vice-campeão mundial de fundo de sub-23.
Explosivo na estrada, onde as suas acelerações e ataques impressionam, fora dela o jovem de 20 anos é reservado, sendo difícil ‘arrancar-lhe’ frases longas. A conta-gotas, no entanto, António Morgado vai revelando que encontrou na UAE Emirates, a melhor equipa do ranking mundial em 2023, diferenças em termos de logística e de organização.
“Estou-me a habituar ainda, mas sim, é bastante positivo. Já no ano passado estava numa excelente equipa, com excelente pessoal, mas agora é completamente diferente. Acho que temos muito melhores condições. É normal para uma equipa deste calibre”, avaliou Morgado.
Após uma época na ‘fábrica de talentos’ Hagens Berman Axeon, o também vice-campeão mundial júnior de fundo em 2022 deu de imediato o salto para o WorldTour e assume que estar “na melhor equipa do mundo” representa outra responsabilidade acrescida, algo com que lida bem: “É um trabalho como os outros todos. Todos têm pressão nos trabalhos que têm, e este é o nosso trabalho”.
Na equipa dos Emirados Árabes Unidos encontrou a referência (e companheiro de treinos) João Almeida, mas também a estrela-maior do pelotão mundial, o esloveno Tadej Pogacar, e confessa que “é sempre incrível ver os ídolos na vida real”.
“Mas é pessoal cinco estrelas, porreiro, pessoal normal”, descreve, embora admitindo que no primeiro impacto sentiu alguma vergonha, mas também respeito.
A ajudá-lo na adaptação estão outros seis portugueses, nomeadamente Almeida e os gémeos Rui e Ivo Oliveira, que cuidam “bem” do ‘novato’.
“Sempre me acolheram muito bem. E acho que sim, acho que é uma mais-valia ter sete portugueses na minha equipa. Os irmãos Oliveira ensinam-me muito, muita coisa que eu não sei. […] Com o João, treino quase todos os dias até. Três, quatro vezes por semana, talvez. Mas os irmãos Oliveira têm muita experiência em termos de colocação, pelotão, e do tipo das corridas que vou fazer este ano”, enumerou.
Apesar de haver quem prediga que vai superar o ídolo Almeida, o miúdo de Salir do Porto acha que é “quase impossível” fazer melhor do que o vizinho das Caldas da Rainha.
“Acho que o João é mesmo um de fora de série. Dou-me muito bem com ele e acho que ele é um dos maiores portugueses de sempre no ciclismo”, defendeu, admitindo que já ficaria contente se pudesse chegar perto dos feitos do terceiro classificado do Giro2023: “O que ele já fez chegava bem para qualquer pessoa, não é? Mas acho que somos atletas um pouco diferentes”.
Se há algo que ambos parecem ter em comum é a ambição, com Morgado a revelar à Lusa que tem como “principal objetivo o Tour de L’Avenir”, que decorre entre 13 e 20 de agosto.
“Quero mostrar que também posso ser competitivo em corridas por etapas, e duras, com grandes montanhas. Portanto, vai ser o meu principal foco este ano. E, depois, ver o que dá, no fundo. Se não acontecer nada de imprevisto, 90% do meu calendário vai ser clássicas”, detalhou.
O corredor da UAE Emirates sempre gostou mais de corridas por etapas, mas acredita que todos os ciclistas têm de apreender onde são os melhores, mostrando-se “entusiasmado pelas novas aventuras”, nomeadamente correr no ‘pavé’.
“Eu sinto que a equipa confia em mim, e é logo uma mais-valia. Acho que temos um plano para o futuro”, afiançou.
Para já, e depois de se ter exibido no sábado na Clássica da Figueira, em que foi 15.º classificado, vai alinhar na 50.ª Volta ao Algarve, “uma corrida igual às outras”, mas em que será “engraçado” ter a família e amigos a vê-lo correr.
“Mas o plano de equipa é o mesmo. E vamos fazer o que conseguimos. […] O mais importante é a equipa. Se um atleta de equipa ganhar ou fizer pódio, para nós já a equipa sobressaiu, que era o objetivo. Eu vou lutar para os interesses da equipa”, garantiu, descartando ter metas individuais para a prova que arranca esta quarta-feira, em Portimão, e termina no domingo, no alto do Malhão.
- Por Ana Marques Gonçalves, da agência Lusa
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