A celebração dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões e da morte de Vasco da Gama em 2024 convida-nos a refletir sobre o significado histórico e cultural dos tempos em que Portugal homenageou os seus maiores heróis. A inauguração da estátua de Camões, a 9 de outubro de 1867, na Praça do Loreto, Lisboa, é um exemplo simbólico do contexto político, social e cultural que marcou a época.
A cerimónia de inauguração
Segundo escreve Diogo Ramada Curto na última edição do Expresso, a inauguração do monumento foi um evento grandioso, com a Praça do Loreto decorada e cheia de multidões. Participaram figuras de relevo da monarquia, como o rei D. Luís, o seu pai D. Fernando e o infante D. Augusto. A cerimónia contou ainda com a presença dos porteiros da Real Câmara, reis de armas, arautos e passavantes, e foi animada por bandas militares que tocaram uma marcha composta pelo maestro Artur Frederico Reinhard.
Mais do que uma homenagem ao poeta, o evento refletia a necessidade da monarquia de afirmar a sua importância numa época de mudanças e incertezas sociais.
Camões e “Os Lusíadas”: um retrato do povo português
O monumento celebra Luís de Camões, autor de Os Lusíadas, uma obra que narra as viagens marítimas dos portugueses e os desafios enfrentados na expansão. Contudo, para além de exaltar feitos heroicos, o poema apresenta uma visão crítica de um povo que, em vez de se alinhar com os valores civilizacionais do cristianismo e da Antiguidade, praticava a guerra e a destruição com espírito violento.
Esta dualidade no retrato dos portugueses permanece uma herança histórica e cultural. Em 1867, ao erguer o monumento, reconhecia-se a necessidade de unir um povo em torno de símbolos de identidade, como o poeta e os seus feitos.
Um legado cultural e político
A inauguração da estátua não ocorreu num vácuo histórico. Portugal, no século XIX, enfrentava os desafios da modernização e da afirmação nacional num contexto de crises políticas e económicas. A homenagem a Camões, bem como a comemoração dos seus 500 anos em 2024, lembra-nos que somos herdeiros de uma história complexa, onde símbolos literários e culturais desempenharam um papel na construção da identidade nacional.
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