A Câmara de Loulé e a Associação Portuguesa de Escritores distinguiram esta sexta-feira Miguel Esteves Cardoso com o Grande Prémio de Crónica e Dispersos Literários, pela obra “Independente Demente”.
Emocionado, o autor dirigiu-se à plateia com palavras de agradecimento: “Obrigado! Quando digo obrigado à Associação Portuguesa de Escritores e a Loulé quer dizer que estou obrigado para o resto da vida, tenho essa lealdade, estou obrigado a lembrar-me, a referir este prémio. Qualquer prémio é um ato de generosidade. Ganharam um amigo!”.
Apesar de quase meio século dedicado à escrita, sobretudo na imprensa, tendo começado a publicar em 1975, este é o primeiro prémio que recebe, “uma sensação maravilhosa”, com um sabor especial por tratar-se de uma distinção enquanto escritor, e não apenas pelo seu trabalho como jornalista, mas também por ter o selo de uma instituição como a APE.
“As pessoas dizem que os prémios valem o que valem, mas é tudo mentira! Quando vem um prémio – qualquer prémio – foi porque alguém reparou no nosso trabalho. A escrita é um trabalho solitário e só de pensar que houve alguém que prestou atenção e decidiu que ‘este é o melhor’ é tão bom!”, considerou, feliz pelo dia e por toda a envolvência, “em maio, numa cidade bonita”.
A 8ª edição deste Grande Prémio é assim, atribuído a “Independente Demente”, um conjunto de crónicas publicadas entre 1988 e 1992, no antigo semanário “Independente”, do qual MEC – a sigla pela qual ficou conhecido – foi fundador e diretor.
“Lidas a 30 anos de distância, mantêm quase todas uma atualidade que o passo do tempo não destrói. Continuam a fazer-nos pensar e a fazer-nos rir”, disse Carlos Albino, porta-voz e um dos elementos do júri do prémio, este ano ao lado de Maria de Lurdes Sampaio, professora na Faculdade de Letras da Universidade do Porto, e António Apolinário Lourenço, professor associado da Universidade de Coimbra.
“Literatura do destino, o destino em dois minutos, ou seja, na quantidade que baste”, é assim que Carlos Albino se referiu às crónicas do premiado, e à sua escrita “atual, de ontem, mas fresca hoje e amanhã”, até porque “não perderam nada do seu brilho, da sua irreverência e da novidade”.
Enfatizada pelo júri foi também a vasta temática retratada nestas crónicas, que vão da “vida política portuguesa para o tema geral do amor, ou para a esfera privada de festas de Natal em família, da sua própria família, e ele mesmo”.
O “acentuado confessionalismo”, “uma fina ironia” e a forma de MEC observar o mundo português, “a partir de ângulos muito próprios e com lentes tingidas de britanicidade” levam a análise do júri a fazer uma espécie de comparação do “Independente Demente” com “The Pickwick Papers”, de escritor inglês C. Dickens.
Os elogios ao autor premiado vieram também da parte de José Manuel Mendes, presidente da Associação Portuguesa de Escritores.
“Não há um segundo Miguel Esteves Cardoso, sobretudo num tempo em que todos os escritores se confundem com todos os escritores, nenhum se confunde com Miguel Esteves Cardoso, por muito que se esforce!”, disse.
Prémio vai já na sua 8ª edição e laureia anualmente crónicas e dispersos literários
Para o responsável desta associação, sobressai a na obra do autor “a clareza de uma escrita que não tem nada que ver com simplificação, descuido ou pura pirotecnia verbal”.
Relativamente à parceria com o Município de Loulé, que começou com um protocolo, em 2016, e se materializou neste prémio, José Manuel Mendes frisou que este “irá continuar em todo o seu esplendor”.
Já Carlos Albino, que é o mentor do Grande Prémio, destacou o “já importante património autoral” do mesmo. Recorde-se que já venceram este Grande Prémio importantes nomes da Literatura Portuguesa como José Tolentino Mendonça (“Que coisa são as nuvens”), Rui Cardoso Martins (Levante-se o Réu) Mário Cláudio (“A Alma Vagueante”), Pedro Mexia (“Lá Fora”), Mário de Carvalho (“O que eu ouvi na barrica das maçãs”), Lídia Jorge (“Em Todos os Sentidos”) e José Eduardo Agualusa (“O Mais Belo Fim do Mundo”).
Vítor Aleixo relevou a importância desta iniciativa que vai já na sua 8ª edição e que laureia anualmente crónicas e dispersos literários, caracterizados por serem textos breves. “Essa brevidade articula bem com uma vida apressada, em que as pessoas não têm muitas vezes a disposição e tempo para lerem obras de maior fôlego”, disse.
A projeção que tem merecido no país, no campo das Letras, é também “um contributo de Loulé para a cultura nacional, para o apoio às Artes”.
“Agradeço ao Miguel Esteves Cardoso, como aos seus antecessores vencedores deste prémio, a possibilidade que nos dão de, à boleia do vosso talento e da vossa escrita, projetar o Município de Loulé em Portugal”, declarou ainda o edil.