Um acontecimento sui-generis, ou de como a arte nos cumprimenta e nos abraça em actos simples do nosso dia a dia. De 7 a 14 de junho, Roberto Valetin (Sussurro), artista plástico cubano, expõe uma seleção da sua obra recente no restaurante “Alcatruz”, em Santa Luzia, com “vernissage” a 7 de junho pelas 13 horas.
Vá despretensiosamente almoçar ou jantar e surpreenda-se com esta genial exposição de obras dum consagrado.
Sussurro, um notável pintor, com obra exposta em museus de referência e exposições diversas, (Cuba, Holanda, Russia, Espanha, México, EUA, Portugal, Áustria…) que, desta forma muito singela, deixa a sua pegada em Tavira.
Assim se criam e se manifestam destinos culturais, sem grandes alardes mas com todo o empenho, saindo dos tradicionais circuitos de museus e galerias, dando um contributo da maior valia para o desenvolvimento turístico desta preciosidade do nosso Sotavento Algarvio –a Vila de Santa Luzia, dileta filha da cidade do Gilão.
Com este evento Tavira prossegue a já longa tradição de receber no seu seio, e de divulgar, a obra dos mais proeminentes artistas, dando continuidade à “movida” cultural que por cá se desenvolveu.
Cabe lembrar que os negros anos do fascismo castraram o país de grande parte dos seus intelectuais e artistas que, vítimas de repressão, perseguição política e de imposições ideológicas, se expatriaram por esse mundo fora, por lá desenvolvendo notável trabalho académico e criativo.
A Revolução de 25 de Abril abriu portas ao regresso destes exilados acontecendo que, numa espécie de fuga existencial, um importante grupo dos regressados converge inesperadamente para o Sotavento Algarvio. É assim que, seguindo o Manuel Baptista, único algarvio, Costa Pinheiro se instala em Quelfes, René Bértholo e Jorge Martins em Cacela e Vítor Pomar e Bartolomeu dos Santos em Tavira. Não constituindo formalmente um grupo, vieram por uma convergência de experiências, afinidades e afetos, a formar um coletivo coeso e plural, que deixou marcas indeléveis na obra das gerações seguintes. O ponto de encontro privilegiado deste “grupo” foi a Casa das Artes de Tavira, participando regularmente nas suas atividades e ali expondo, individualmente e coletivamente, durante quase 20 anos. A sua última grande coletiva “Sete a Sota” no âmbito de Faro – Capital Nacional da Cultura, em 2005, ano da morte de Bértholo virá a assinalar o fim deste coletivo que ficou conhecido como dos “ Pintores do Levante”.
E é nesta arreigada tradição cultural que atingem grande relevo e renome as exposições que com regularidade a Casa das Artes vem anualmente ofertando à cidade, bem como as promovidas no Palácio da Galeria e noutros espaços expositivos, nomeadamente Casa Álvaro de Campos, Casa André Pilarte, Biblioteca Municipal e Igreja da Misericórdia.
Artistas residentes, ou de estadia sazonal, continuam a alimentar Tavira como um referencial de criatividade, como são o Ângelo Encarnação, o Fonseca Martins, a Kinga Subicka, o Miguel Martinho, o Ângelo Gonçalves e tantos outros que aqui poderiam ser referidos.
Esta alma artística de Tavira que tão bem se identifica nesta exposição de Roberto Valentin «Sussurro», marca o pulsar cultural da cidade que se vem afirmando como destino turístico cultural. Prossigamos!
O almoço convívio, de 7 de junho, de iguarias da nossa Ria Formosa, carece de inscrição prévia através dos números 961 529 695 e 917 120 992.
(José Delgado Martins e Rui Coelho Cabrita)