As escritoras Andreia C. Faria e Lídia Jorge venceram os prémios do PEN Clube Português deste ano, na categoria de poesia e narrativa, respetivamente, anunciou esta segunda-feira aquela instituição.
Andreia C. Faria venceu o prémio com o livro “Canina”, editado no ano passado pela Tinta-da-China, enquanto Lídia Jorge ganhou o galardão com o já multipremiado “Misericórdia”, lançado pela Dom Quixote no final de 2022.
Na poesia, o júri foi coordenado por António Apolinário Lourenço e composto ainda por Cândido de Oliveira Martins e Paulo José Miranda. Na narrativa, o júri foi constituído por Mário Avelar, que coordenou, e por Ana Mafalda Leite e Luís Naves.
“Caninos são os dentes, canina a fidelidade, ou a ferocidade, o ladrar e o morder, e conhecemos o cão negro da melancolia, o cão danado, o cão de guarda e o de companhia. Mas além dos cães, estes e outros, ‘Canina’ convoca os mais diversos bichos (cavalos, gatos, pavões), sem que se confunda com qualquer cântico das criaturas. Em vez de humanizar os animais, animaliza os humanos, não fazendo disso virtude nem defeito”, escreveu Pedro Mexia, coordenador da coleção de poesia da Tinta-da-China, sobre “Canina”.
O livro abre com o poema título, no qual se lê: “Outra criatura se recorta nos meus gestos. / Outra que a devassa / a natureza, a melancólica prática da carne / acesa em lanhos vivos, / beiços, o mínimo arroubo de dentes / no escuro. Outra criatura pousa. / Come e dorme com regalo, / pela tarde beberica / esparsas brisas no caramanchão. / Odeia uns quantos, ladra muito. / Também ama, se entre o medo / um soldado lhe desarticula a alma, / e sente-lhes o cheiro quando à terra / chegam ossos de indigesto esplendor.”
“Misericórdia” foi escrito por Lídia Jorge, porque a mãe, internada numa instituição para idosos, no Algarve, várias vezes lhe pediu que escrevesse um livro com aquele título.
A história decorre entre abril de 2019 e abril de 2020, data da morte da mãe da autora, que foi uma das primeiras vítimas da covid-19 no sul do país.
“A minha mãe pediu-me várias vezes para escrever um livro que se chamasse ‘misericórdia’, porque ela achava que havia um desentendimento, no tratamento das pessoas, achava que as pessoas procuravam ser amadas, mas não as entendiam. Pediu-me que escrevesse um livro chamado ‘misericórdia’, para que se tivesse compaixão pelas pessoas e as tratássemos como se fossem pessoas na plenitude da vida”, revelou a autora em entrevista à agência Lusa, por altura da publicação do romance.
De acordo com comunicado do PEN Clube Português, a entrega dos prémios será feita em data a anunciar.
Os prémios do PEN Clube contam com o apoio da Direção-Geral do Livro, dos Arquivos e das Bibliotecas (DGLAB) e distinguem obras nas categorias de Poesia e Narrativa, e de Ensaio e Tradução, sendo atribuídos de forma alternada.
O valor associado aos prémios é de 5.000 euros.
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