O ChatGPT anda nas bocas do mundo e não é difícil de perceber porquê! Favorece o plágio e ajuda os estudantes a realizar qualquer tipo de trabalho escolar ou académico. Sim, também presta serviço a utilizadores comuns que procuram na Internet por respostas para os seus problemas, mas mais do que uma revolução digital, esta ferramenta vai fomentar uma revolução no sistema de ensino que terá de se reinventar para anular instrumentos de plágio altamente eficientes.
Mas o que é o ChatGPT?
ChatGPT (Generative Pre-Trained Transformer) é um software baseado em Inteligência Artificial programado para gerar textos numa linguagem natural, de maneira semelhante a um ser humano.
Criado por um laboratório de pesquisas em Inteligência Artificial dos EUA (OpenAI), o ChatGPT foi disponibilizado no mercado no final do ano passado de modo gratuito (pelo menos enquanto está em fase de revisão) e já conta com mais de um milhão de utilizadores. A maioria são estudantes que – felizes da vida! – encontram neste algoritmo uma forma de melhorar as respostas oferecidas pelo Google, muitas vezes insuficientes para fazer os trabalhos de casa.
O ChatGPT é capaz de fazer trabalhos escolares?
Sim, a arquitetura do ChatGPT baseia-se numa rede (Transformer) projetada especialmente para lidar com textos, de modo que face às palavras-chave usadas nas perguntas do utilizador, o ChatGPT atende ao contexto e aos diferentes significados e gera um texto com alguma qualidade a nível de conteúdo e gramática (já está disponível em português). Para tal, recolhe e contextualiza informações diversas da Internet para dar respostas satisfatórias e criativas, já que foi criado com uma dose adicional de Aprendizagem de Reforço com Feedback Humano (RLHF) para utilizar o feedback humano para desenvolver a habilidade de seguir orientações complexas que os utilizadores inserem e entender as suas especificidades, gerando respostas dentro das expectativas das pessoas. Tanto que o jornal The Times o descreveu como o “primeiro chatbot do mundo verdadeiramente útil” e capaz de revolucionar a forma como os utilizadores usam os motores de busca, fornecendo links importantes, mas resolvendo também problemas elaborados e respondendo a perguntas complexas.
ChatGPT: o melhor amigo dos estudantes
Além de mostrar a letra de uma música, de encontrar um poema, de passar uma receita de culinária… o ChatGPT responde a perguntas com respostas detalhadas e semelhantes às dos humanos, resolve equações matemáticas, escreve textos, cria resumos de textos, corrige códigos, faz traduções entre idiomas, dá recomendações, classifica conteúdos, etc. Portanto, sim, pode vir a destronar o Google e a facilitar muito a vida dos estudantes: até agora já conseguiu gerar um código Python complicado e escrever trabalhos académicos, pelo que tem deixado muitos alunos satisfeitos… e os professores em alvoroço!
ChatGPT: dá para passar, mas não com boas notas
Há que ressalvar que os textos fornecidos pelo ChatGPT em português têm uma qualidade bastante inferior à dos conteúdos produzido por um profissional e por isso, é relativamente fácil perceber que foram gerados por uma máquina e não por um ser humano. Na verdade, os próprios criadores da plataforma alertam para a imprecisão das respostas, particularmente porque o algoritmo ainda se encontra em fase beta sujeita a erros, e porque não faz cruzamento de dados. Ou seja, o seu raciocínio é feito a partir das informações de texto que foram inseridas na plataforma, sendo-lhe apenas possível interpretar e esclarecer com base no que já sabe.
Para mais, o software só passa informações relativamente a acontecimentos que ocorreram até 2021, pelo que eventos de 2022 e 2023 são ainda mais imprecisos – se não inexistentes – porque este sistema de Inteligência Artificial não tem uma base de dados posterior.
No entanto, é uma tecnologia única e com enorme potencial de evolução porque quanto mais pessoas a usarem, mais informação vai absorver, tornando-se cada vez mais inteligente.
ChatGPT: o inimigo nº 1 dos professores
Ao responder a quase todas as perguntas dos alunos, independentemente do nível de ensino, o ChatGPT pode-se tornar no maior aliado dos estudantes… e no maior inimigo dos professores. E isso porque se trata de uma Inteligência Artificial generativa, que usa a Internet para recolher padrões em diferentes tipos de conteúdos, reproduzindo, mas também criando conteúdos novos: respostas com as suas próprias palavras sem citar fontes. Nesse sentido, agora o Google é apenas motivo para uma ligeira dor de cabeça e a Wikipédia, que tanto atormentava os professores, é uma espécie de “menina de coro” se comparada com ChatGPT, cujo conteúdo não é facilmente detetado por softwares anti-plágio e que por isso, aumenta o risco dos trabalhos escolares e académicos copiados não serem detetados.
Agora a questão não é tanto como matar o ChatGPT, mas mais como combater os trabalhos inteiramente copiados, certo?
ChatGPT: o que é que a classe docente pode fazer?
O mesmo que já fazia para evitar outro tipo de “copianços”, porque quer as cábulas, quer o plágio são problemas antigos no sistema de ensino, combatidos com astúcia e determinação.
Muito embora em Nova Iorque o ChatGPT tenha sido proibido em todas as salas de aula das escolas públicas devido à preocupação óbvia com impactos negativos na aprendizagem, este tipo de medida é contraproducente porque os alunos vão continuar a aceder ao algoritmo fora da sala de aula e porque os professores vão continuar a ter de adaptar o seu sistema de ensino, continuamente, às novas tecnologias que, já agora, também têm os seus aspetos positivos.
O avanço da Inteligência Artificial não pode ser travado. Por isso, mais do que penalizar os alunos ou proibir a utilização do ChatGPT, os professores devem reinventar o ensino com metodologias mais inovadoras que alertem também para o uso crítico da tecnologia, na medida em que a Inteligência Artificial tem a sua importância, muito embora não deva substituir o pensamento e moldar de forma negativa o desenvolvimento educacional de crianças e adolescentes no futuro.
Logo, apostar na participação dos alunos em sala de aula, em trabalhos de exposição oral e em reformulações de cursos, pode ser uma saída mais airosa e eficiente, sem infringir a liberdade dos estudantes. Mais! Os professores até podem permitir que os alunos usem o ChatGPT como um ponto de partida para a discussão, em vez de se limitarem às suas respostas rasas, mas devem explicar que a ferramenta é útil para fornecer uma série de ideias iniciais, mas inútil para criar um trabalho inédito e de qualidade.
* Autor do website institucional www.aejdfaro.pt e responsável pela comunicação externa do Agrupamento;
- 28 anos de experiência como docente no Ensino Secundário
- 5 anos de experiência como docente no Ensino Superior
- Mais de 1000 horas de formação de adultos
- Fundador e gerente da Webfarus Marketing Digital (www.webfarus.com)